Sidney.Prando 17/06/2022
O processo, a lei e a sua desordem
Uma das características mais distintivas desse autor é a sua capacidade de trazer o absurdo para a realidade cotidiana.
Em “O processo”, vamos ter contato com o personagem Josef K. pela voz de um narrador em terceira pessoa. K trabalha em um banco e mora em uma pensão, no geral, vive uma vida comum. Certo dia, recebe a visita de um inspetor e dois guardas, esse primeiro anuncia que um processo se iniciou e que ele está envolvido. De uma hora para a outra, K. tem a sua vida virada de cabeça para baixo.
Para mim, esse é mais um livro desse escritor que assim como os demais, está inundado de medo, traumas, críticas e estranheza.
Sendo direto, “O processo é a nossa existência analisada por elementos estranhos ao nosso mundo íntimo” (Torrieni Guimarães, prefácio). Mas, no livro, o processo em si é um mistério. A medida de K. investiga sobre este, descobre um sistema jurídico falho e corrupto, além de misterioso porque ninguém sabe em que pé está o processo (as sentenças definitivas não são publicadas ou acessíveis nem aos juízes), desconhecem também o juiz encarregado, a hierarquia e os graus da justiça. Tudo, é uma estranheza só.
Por sua vez, K. não leva o processo a sério, mas acaba, de forma arisca, comprando a “seriedade” do mesmo. Tamanha é sua despreocupação que acaba levando mais a sério suas aventuras amorosas, ora com Leni, ora com Fräulein Bürstner, do que o processo.
No mais, a estranheza se faz pelos acontecimentos igualmente estranhos, como as cenas desconfortantes entre a “mulher” e o estudante; a misteriosa neblina que invade a sessão do processo; ou ainda no beijo que K. dá na membrana que une os dedos de Leni (Arrepia tudo!).
Assim, semelhante os demais livros do autor, este precisa ser digerido aos poucos, pensado e relido.
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