Rafael.Schier 04/12/2014
A lei e o pensamento liberal
"A lei pervertida! E com ela os poderes de polícia do Estado também pervertidos! A lei digo, não somente distanciada de sua própria finalidade, mas voltada para consecução de um objetivo inteiramente oposto! A lei transformada em instrumento de qualquer tipo de ambição, ao invés de ser usada como freio para reprimi-la! A lei servindo à iniquidade, em vez de como deveria ser sua função e puni-la. Se isto é verdade, trata-se de um caso muito sério, e é meu dever moral chamar atenção de meus concidadão para ele"
Em 1850, Frédéric Bastiat escreveu “A Lei” que foi distribuído, primeiramente como um panfleto e depois virou acabou se tornando livro. A lei pode ser dividida em dois temas, no primeiro sobre o que chama de “espoliação legal”, ou seja, roubo que acontece por intermédio da lei. E na segunda parte faz análises sobre as obras de autores chamados por ele “socialistas”, como Rousseau e Montesquieu e alguns outros e sua ligação e importância nos acontecimentos recentes da França, país onde residia e atuava como economista e político.
Sobre a Espoliação Legal:
A “espoliação legal”, ou roubo aprovado pela lei é algo bastante comum ainda hoje, 154 anos depois, o desestimulo pela propriedade privada continua o mesmo e retira-se de todos a distribuir a alguns. “É preciso ver se a lei beneficia um cidadão em detrimento dos demais, fazendo o que aquele cidadão não faria sem cometer crime”. O Estado retira do cidadão o dinheiro, tendo isso como lei. A quem não obedece, o estado entra com seu poder de repressão e o retira através da força.
Essa espoliação é descrita por vários nomes: “tarifas, protecionismos, benefícios, subvenções, incentivos, imposto progressivo, instrução gratuita, garantia de empregos, de lucros, de salario mínimo, de previdência social, de instrumentos de trabalho, gratuidade de crédito, etc”.
O que observamos em nosso País é o que Bastiat chama de “Espoliação universal” onde todos espoliam a todos, por exemplo, somos obrigados a pagar impostos, que vão para os pobres, em forma de escolas, saúde e outros benefícios, que também pagam impostos, que vão para os ricos, pelo BNDES, ou pelo salário de políticos que recebem benefícios que são pagos com impostos e que vão para os artistas, que também são financiados com impostos, através da lei Rouanet.
Como resultados da espoliação Bastiat aponta:
“A primeira é a que apaga em toas as consciências a noção do justo e do injusto.”
“(...) Quando a lei e a moral estão em contradição, o cidadão se acha na cruel alternativa de perder a noção de moral ou de perder o respeito à lei, duas infelicidades tão grandes tanto uma quanto a outra e entre as quais é difícil escolher. (...) Temos todos forte inclinação a considerar o que é legal como legítimo, a tal ponto que são muitos que consideram como certo que toda a justiça emana da lei”.
Sobre os Socialistas:
Antes de analisarmos lembremos que “os socialistas” apontados pelo autor, são alguns dos iluministas, o Autor apesar de contemporâneo de Marx e Engels não deu destaque a estes.
Um conjunto de fatores são apontados pelo autor como o problema dos autores socialistas, o primeiro é o fato de estes separarem-se do resto da humanidade e colocarem-se acima dos demais. “Os socialistas consideram a humanidade como matéria para combinações sociais”, ou seja, para esses autores o mundo é um grande laboratório, onde os legisladores devem analisar e tentar alcançar a perfeição destas “combinações sociais”. Os socialistas são meros teóricos e os teóricos é que são responsáveis por aplicar suas teorias.
Ao analisar uma obra de um pequeno trecho da obra de Raynal, que diz que o papel do legislador é muito parecido com o de um agricultor e assim, acaba a por deixar de lado todas as capacidades e faculdades que o ser humano possui. Bastiat, diz: “Lembrem-se, às vezes de que esta argila, esta areia e este estrume de que vocês tão arbitrariamente dispõem são Homens! Eles são seus semelhantes! Eles são seres inteligentes e livres como vocês! Como vocês, eles também receberam de Deus a faculdade de observar, de prever, de pensar e de julgar por eles mesmos!”.
Os socialistas traem a natureza humana, buscam seres passivos “o povo não deve ter senão os preconceitos, os hábitos, as afeições que o legislador autorizar.” E somente quando as características, vistas por estes autores e legisladores, como negativas forem totalmente banidas é que a lei poderá agir livremente.
Para estes autores e legisladores Bastiat diz “Vocês que pensam que são tão grandes! Vocês, que acham a humanidade tão pequena! Vocês, que querem reformar tudo! Por que não se reformam vocês mesmos? Esta tarefa seria suficiente!”.
Bastiat é com certeza uma introdução ideal ao pensamento liberal, junto com as Seis Lições de Von Mises, são bases perfeitas para um desenvolvimento no pensamento econômico do liberalismo e da escola Austríaca. Nós libertários, estamos em busca da plena liberdade, assim, devemos batalhar com unhas e dentes para obtê-la, mas não com as armas e com o militarismo que foram resposta a doutrina liberal, por parte da direita e por parte da esquerda. Devemos lutar com as ideias.
É com frase de força e de esperança que Bastiat finaliza sua “a Lei”:
“E posto que se infligiram inutilmente ao corpo social tantos sistemas, que se termine por onde se deveria ter começado: que se rejeitem os sistemas; que se coloque, por fim, a liberdade à prova – a Liberdade, que é um ato de fé em Deus e em sua obra.”
Para finalizar as grandes Máximas do “mito” Bastiat “Todos vivendo à custa do estado, e o estado vive à custa de todos”.
“Não esperar senão duas coisas do Estado: Liberdade e Segurança, e ter bem claro que não se poderia pedir mais uma terceira coisa, sob o risco de perder as outras duas."