A visão das plantas

A visão das plantas Djaimilia Pereira de Almeida




Resenhas - A Visão das Plantas


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@emedepaula 13/04/2021

O jardim desperta, o mar vem buscar
“Celestino tinha os pés pesados. Ninguém sabia onde estava, caminhando dentro do estômago de Deus: a floresta. Mas não apeteceu a Deus engoli-lo.”

Eu estava completamente equivocado. Julguei mal a grandeza desse pequeno livro. Reli algumas passagens e realmente reavaliei minha leitura [enquanto ainda está fresco na memória]. A língua causa sim um estranhamento pela aderência à um português mais arcaico, mas isso é um dos pontos que torna esse livro tão bonito. E a história é de um refinamento ímpar. Djaimilia conseguiu algo grande. É ótimo ter contato com livros que talvez não serão best-sellers, mas qual conteúdo certamente transcenderá os tempos. Belíssimo.
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Giovana 31/03/2021

Muito bonito. Fala sobre a vida de um homem que foi terrível e que retorna a sua velha casa para viver o final de seus dias. A autora utiliza das plantas e seu universo com muita delicadeza.
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day t 28/03/2021

Enfadonho
Fazia tempo que tinha me demorado tanto num livro curto. A escrita é bem poética, e bem metafórica ? o que em certo ponto me incomoda um pouco ?, a história é interessante e bem triste. É sobre um ex capitão de navio negreiro que era muito violento ? com os negros, mas não só, também com crianças, etc. Esse capitão retorna, impune, a sua casa de quando era criança, e a casa está vazia (todos os seus familiares já não existem mais), e ele começa a cuidar do jardim, despretenciosamente. Mas vê naquele jardim um lugar de paz, onde ele consegue dar o melhor dele. E aí são 85 páginas sobre essa relação dele com as plantas, e com tudo o que ele fez, a forma como as pessoas enxergam ele, a forma como ele se enxerga. É um homem extremamente solitário, vazio, que envelhece ao lado das plantas, que lhe são o que há de mais precioso. O final do livro é bem triste.
Enfim, não gosto de dizer que um livro é ruim e, de fato, este não é um livro ruim, mas não me afetou em nada, não me prendeu, achei a leitura arrastada e esperava muito mais da história.
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lica 18/04/2022

velho canalha, escrita perfeita
não tem como abandonar o livro. o trabalho da djaimilia de uma polidez e com um jogo de palavras absurdo, ela me deixou sem chão. é um livro incrível!
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Jade 23/05/2023

Não me comoveu, mas foi legal conhecer a autora
Li o livro como sugestão do projeto “leia mulheres” e não foi um livro que me comoveu muito, seja pela trama ou narrativa. Preferia ter lido outros títulos da autora. Apesar de ser um livro curto, tive dificuldade para chegar na metade do livro, considerando que até lá foi uma leitura marcada por grandes nadas. Foi bem tedioso acompanhar esses dias pacatos do protagonista.

O que achei legal foi a provocação da autora em construir um personagem de passado violento e atroz ao mesmo tempo em que revela um presente de delicadeza e zelo. De certa forma parece trabalhar com a ideia do sujeito real: cindido, não linear. No entanto, não senti muita profundidade no desenvolvimento das complexidades desse sujeito. E, sinceramente, talvez nem coubesse criar essa narrativa. Tá bom de complexificar os afetos do opressor branco.

Confesso que simpatizei um pouco mais com o livro após assistir a entrevista da autora para Companhia Editora de Pernambuco. Foi um diálogo bem legal em que levantaram alguns pontos que achei pertinente, como o entorno de Celestino, a dinâmica que a vizinhança operacionaliza em relação a ele e a questão que surge, levantada na entrevista, de que ninguém sabe o que fazer com o passado. Nem as personagens, nem nós. Gostei também de saber sobre o processo de escrita da autora, em que ela fala do desconforto que sentiu, pois ambxs, personagem e autora, estavam em um lugar de ambiente fechado, de reclusão, e isso acabou produzido confusões para ela.
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Mariana 15/04/2023

Gente, que lindo é triste. Por mais que o Capitão é apresentado como um carrasco, que acabou com a vida de muitas pessoas ao longo da vida, é fácil demais sentir empatia por ele, principalmente durante a narração de seus últimos dias.
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. J e n n i . 21/01/2023

Um novo olhar
Estava buscando algo poético e que envolvesse o mundo natural para ler, e encontrei esse livro que achei leve, até abrir nas primeiras páginas e ver que de leve não havia nada. Me prendeu e me confundiu e me trouxe um olhar perspectivo sobre um ponto da vida que era incapaz de olhar, ou apenas me esquecido com o tempo. Ganhar isso novamente foi como ter um presente, embora não tenha aproveitada a leitura em seu todo e nem gostado muito, gostei da percepção que tive da narração e do lírico sensitivo que me ensinou a carregar um novo olhar.
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Michelle 04/01/2023

A visão das plantas
Me surpreendi com a fluidez, escrita boa, história envolvente e com doses de enigmas e poesia. Eu não conhecia a autora, gostei!!
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Eduardo Mendes 30/12/2022

Solidão e silêncio
A Visão das Plantas é o terceiro livro da escritora Djaimilia Pereira Almeida publicado no Brasil. Ela nasceu em Luanda e mora em Portugal, e não por acaso, escreveu sobre um passado sombrio compartilhado por África, Portugal e Brasil. Djaimilia é uma das autoras contemporâneas de língua portuguesa mais celebradas atualmente, e este foi meu primeiro contato com a sua obra.

A Visão das Plantas narra a história do capitão aposentado Celestino, que regressa à sua casa vazia após anos de vida no mar. Celestino é um personagem complexo e cheio de nuances, que foi capaz das piores atrocidades quando foi capitão de um navio negreiro, e responsável direto pela morte de diversos negros escravizados, mas que na velhice torna-se um zeloso e delicado jardineiro, alguém que “talvez tivesse um coração escondido atrás das tatuagens”.

Acompanhamos a história de alguém que ateou fogo no seu passado, e que cria aos poucos uma improvável relação de afeto com suas plantas, talvez pela sua falta de tato de lidar com seus semelhantes, Celestino reencontra sua humanidade ao cuidar do jardim.

Ele parece afundado na sua própria ruína, e quando perde o sono a brutalidade do passado vem assombrá-lo. Minha impressão é que sua dedicação quase religiosa ao jardim é uma forma de tentar seguir em frente e aproveitar o pouco tempo que lhe resta de vida.

O capitão praticamente não tem amigos, além de um padre que aparece vez ou outra pra visitá-lo, e mesmo assim se mostra muito mais devotado ao jardim, fugindo das tentativas do padre de lhe arrancar uma confissão. Afinal, as plantas não julgam. “Não eram as plantas, que não fazem perguntas, muito mais proveitosas do que o aborrecido padre, com os seus olhos culposos?”

A Visão das Plantas é um livro sobre a solidão e sobre o silêncio. Escrito com um talento incrível, que deixa o leitor perdido entre a brutalidade e a delicadeza. Particularmente, gosto bastante da contradição de sentimentos que a experiência de leitura pode proporcionar, e certamente este foi um dos melhores livros que li em 2022.


site: https://jornadaliteraria.com.br/a-visao-das-plantas/
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Verissimo 10/07/2022

O homem que encarna
E o homem encarna aqui no que deposita seu amor. Nas plantas, na terra, lá sua própria relação com essas coisas.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 14/03/2021

O Jardim
A angolana Djaimila Pereira de Almeida é uma das mais promissoras vozes da literatura lusófona. Para se ter ideia, aos 28 anos, ela foi vencedora do Prêmio Oceanos com o livro Paraíso e no ano ano seguinte, 2020, travou o segundo lugar na mesma premiação, dessa vez com uma novela.

Intitulada A Visão das Plantas, ela reúne reflexões filosóficas e uma invulgar beleza poética, para apresentar em 80 páginas, uma narrativa bastante peculiar sobre as condições que uma pessoa deve impor a si mesmo para poder sobreviver.

Sua história foi inspirada num trecho de outro livro, Os Pescadores de Raul Brandão, que se distingue por ser um dos preferidos de Djaimila. Nele, o escritor comenta ? en passant ? sobre as pessoas que conheceu, quando era levado pela mão até ao colégio. Entre elas, está o capitão Celestino:

?Tendo começado a vida como pirata a acabou como um santo, cultivando com esmero um quintal de que ainda hoje não me lembro sem inveja. Falava pouco. ...A sua vida anterior fora misteriosa e feroz. De uma vez com sacos de cal despejados no porão sufocara uma revolta de pretos, que ia buscar à costa de África para vender no Brasil. Outras coisas piores se diziam do capitão Celestino? Mas o que eu sei com exactidão a seu respeito é que para alporques de cravos não havia outro no mundo.?

Cravos cultivados pelo capitão no quintal da casa onde nasceu e partiu ainda adolescente, para seguir uma vida de aventuras. Seu regresso, já idoso, foi marcado pela má fama que o precedera, provocando medo e distanciamento dos habitantes da vila. Entretanto, isto jamais lhe incomodou, pois apenas nutria uma certa simpatia pelas crianças, ?criaturas perfeitas, sem dores, ressentimentos ou crendices?.

Em linhas gerais, a novela descreve os últimos anos de vida desse capitão. Uma lenta decadência enquanto ele constrói um jardim e esse convívio com a natureza, algo que realmente lhe apraz, assume contornos cada vez mais complexos, conforme sua cegueira avança e a demência embaralha as lembranças.

?As plantas viam?no como um olho de vidro vê a passagem das nuvens. Elas e o seu amigo eram seiva da mesma seiva, da mesma carne sem dó nem piedade. Atrás das costelas, no lugar do coração, o corsário tinha uma planta. E, por tudo isso, não o julgavam.?

Por sinal, essa cegueira pode ser entendida como uma metáfora para o afastamento das culpas de Celestino, condição que lhe permite uma consciência tranquila e pende sobre uma temática recorrente na obra de Djaimila: as relações assimétricas que não deixam claro com quem está o poder, no caso, quem domina e quem está sendo dominado.

?Não era mais Celestino que tomava conta das flores, mas elas que tomavam conta dele. Tinha medo delas, medo de que o agarrassem pelas pernas e o estrangulassem...
Quase fora deste mundo, o jardineiro deixara de ser o jardim, porque o jardim se tornara jardineiro do jardineiro.?

Curiosamente, A Visão das Plantas é uma história isenta de julgamentos que multiplica questões ao invés de respondê-las, permitindo ao leitor explorá-la sob distintas perspectivas. Para tanto, a escritora escolheu escapar do óbvio, focar no passado do protagonista, para priorizar sua última realização: um jardim. Essa escolha ocorreu após Djaimila ver numa revista a fotografia de um homem cego no jardim que ele mesmo cultivava e quem quiser conhecê-la, a imagem está na capa da edição portuguesa do livro; já na edição brasileira, ela foi substituída provavelmente por conta da lei dos direitos autorais.

Enfim, se você pretende escapar do óbvio como Djaimila, recomendo.

?O quintal amanhecia sob o nevoeiro salgado. Aos poucos, a neblina levantava, revelando a cor das flores. Os borrões grená, amarelos e turquesa, esbatidos na palidez aguada, sem deixarem perceber o contorno das pétalas e a realidade dos caules, pareciam planar na atmosfera. Às vezes, uma auréola teimosa de nuvem mantinha?se sobre os canteiros depois de a névoa se ter dissipado. Celestino, emergindo da bruma, contemplava a condensação do tom das suas barbas. Soprava o fumo da cigarrilha para cima da auréola que, perfurada, se arrepiava com o bafo quente e se retraía como um balão tímido tocado por uma agulha. A neblina trazia até ao jardim o cheiro das algas e das ondas, cujo ronco, nos dias de tempestade, chegava até à casa. Era quando o quintal se fazia um castelo de areia, jardim erguido à beira?mar. E o velho capitão regressava por instantes à infância de menino na praia. Se começara a vida brincando aos marinheiros, a atirar?se de cabeça do pontão, acabava?a brincando aos jardineiros.? (posição 46)
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@leiolivros 13/04/2022

Singelo. É uma palavra que me veio a mente enquanto lia essa história curtinha, mas impactante.

Acompanhar um personagem controverso é complicado. Celestino fez e viveu horrores em sua vida como um capitão de navios negreiros. Porém, quando o conhecemos, sua relação e personalidade são apresentadas no contexto do jardim que cultiva com todo seu afeto.

As palavras de Djaimilia são muito bonitas. Por vezes me desassociei um pouco de seu significado, mas, no geral, sinto que consegui acessar as camadas sutis que ela quis apresentar em seus devaneios sobre as flores, os delírios de Celestino e outras intervenções que tanto contribuem na harmonia da narrativa.

A história é contada toda de uma forma muito doce, mas sem deixar de escancarar a veracidade dos fatos. A realidade de Celestino e sua relação com suas plantas e seus fantasmas são o reflexo, ou talvez a resposta kármica, da vida que ele escolheu viver anteriormente.

Foi uma leitura tocante e que não posso deixar de recomendar. A Todavia segue me surpreendendo com sua curadoria incrível de autores variados e capas belíssimas.
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