Felipe @quarta.capa 26/07/2021“Eu não sei quem é você” foi um livro que peguei para ler com determinada ansiedade. Com temas tão complexos e sensíveis de se tratar, fiquei com muito medo de a autora fazer um total desserviço para a sociedade. E terminei dividido quanto a isso.
Mesmo ao trabalhar temáticas pesadas como estupro, suicídio e relacionamento tóxico, a capacidade da autora de entreter e prender o espectador com sua escrita instigante e fluida é notória. Ao mesclar os pontos de vista das duas mães, cada uma de um lado da história, é muito interessante e inevitável não se confundir e formar opiniões opostas sobre quem está correto.
As protagonistas são muito bem trabalhadas. Diversas vezes fiquei comovido com as situações as quais ambas eram expostas, mas ao mesmo tempo irritado ao identificar situações em que o amor de mãe extrapola alguns limites, a ponto de cegá-las para o que acontece em seu entorno. Destaque para Holly, uma professora feminista, que palestra sobre consentimento e masculinidade tóxica, e que tem sua vida virada ao avesso ao ter de lidar com uma acusação de estupro contra seu filho.
Além disso, todos os dramas familiares que são desencadeados por essa acusação, são muito chocantes e interessantes de acompanhar. Como descrito pela própria autora, “a acusação de estupro é como um tsunami que varre a costa e deixa à mostra toda sujeira que antes estava escondida".
A forma como a história foi conduzida, portanto, foi extremamente eficiente e garante a nota da minha avaliação. Porém, terminei em dúvida se o desfecho escolhido pela autora não é prejudicial em uma sociedade que, escancaradamente, tenta justificar o abuso/estupro e que duvida da própria vítima.
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