Helena Gonçalves 25/11/2022
A Bolsa Amarela
Livro de Lygia Bojunga, A bolsa amarela conta a história de Raquel, uma menina que se sente meio deslocada na família, que não a escuta ou compreende, como ela mesma relata em uma carta a um amigo inventado. Percebendo que criança tem pouca ou nenhuma escolha e que, da mesma forma, as mulheres são impedidas de fazer uma porção de coisas, Raquel tem vontade de ser grande e de ser menino. E uma terceira vontade: ser escritora.
Mas, sua família não é muito aberta às suas vontades e até ri de suas invenções, ela decide esconder as três vontades, para que ninguém as veja. O melhor lugar que encontra é uma bolsa amarela que chega entre os presentes de uma tia e que ninguém da família quer. Na bolsa amarela, ela guarda também outras coisas e amigos secretos, com os quais entra em um mundo de fantasia que a ajuda a lidar com as limitações de menina e com o crescimento daquelas vontades.
O livro cutuca a sociedade da época sobre a forma como as crianças em geral são tratadas: sem direito a se expressar, tendo sua privacidade invadida a todo momento, sendo obrigadas a fazer coisas que não querem, como, por exemplo, comer bacalhau na casa da tia, mesmo não gostando de bacalhau, ou fazer apresentações para entreter os adultos.
Também chama a atenção para as diferenças na educação entre meninas e meninos, na forma como a sociedade podava as mulheres.
É um livro com mais de quatro décadas poderia muito bem se passar por um livro escrito agora, exceto pelas expressões que entregam sua idade.
Hoje em dia, mesmo que o tratamento destinado às crianças seja diferente e que as mães e os pais se esforcem para prover tudo aos filhos, é provável que muitas crianças se sintam como Raquel: incompreendidas, sem direito a ter vontades, silenciadas.
Sobre as mulheres, embora tenhamos alcançado muitos direitos, ainda precisamos vencer grandes obstáculos. Fora essas reflexões, que são bastante ricas, é uma aventura acompanhar as fantasias e o crescimento de Raquel. Por essa razão, recomendo A bolsa amarela não apenas aos jovens leitores e leitoras, mas a todo mundo que aprecia uma boa leitura.