Klikucha 25/08/2024
Afinal de contas, Raquel, o que é que vc carrega aí dentro?!
?E de repente todo mundo tava lutando pra abrir a minha bolsa. Minha. Minha. Minha! E eu ali sem poder fazer nada. Ah, se eu fosse gente grande! Quem é que ia abrir a minha bolsa assim à força? Quem? E aí a minha vontade de ser gente grande desatou também a engordar. E quanto mais eu ficava grudada no chão sem poder fazer nada, mais as minhas vontades iam engordando, e a bolsa crescendo, crescendo??
?A bolsa amarela?, terceiro romance da autora brasileira Lygia Bojunga, é uma encantadora e divertida obra infanto-juvenil que narra as aventuras imaginárias de Raquel, uma garotinha muito inteligente que tem três grandes vontades: ser escritora, ser ?gente grande? e ter nascido menino. A história é narrada sob a perspectiva de Raquel, personagem central do enredo, cujos questionamentos são feitos de maneira muito perspicaz. Nesse pequeno grande romance, acompanhamos a protagonista em uma jornada por si mesma.
Raquel é a caçula de três irmãos já adultos e adora fazer perguntas. No entanto, seus questionamentos de criança não são bem recebidos por seus parentes, o que a faz sentir-se um tanto deslocada. Um dia, enquanto a família garimpava coisas e roupas doadas por uma tia rica, Raquel ganha uma bolsa amarela, que ninguém queria por não ser nova nem bonita. Ela aceita com muita alegria esse "presente" que sobrou para ela e, dentro da bolsa, guarda alguns objetos, suas três grandes vontades e amigos imaginários, que a acompanham numa trajetória simbólica de autodescobertas.
Dentro da bolsa, suas vontades vão engordando, engordando, engordando? e tentam escapar sempre que a menina se vê em conflito consigo mesma ou com sua família. O leitor atento perceberá que a bolsa amarela é um dos objetos simbólico na história. Lygia Bojunga utiliza símbolos para compor a narrativa, mesclando o realismo do cotidiano com elementos fantásticos.
O romance aborda temas como sexismo, invalidação emocional, autodescoberta e o desrespeito à criança enquanto sujeito, o que foi muito corajoso por parte da autora, considerando que o livro foi publicado durante a ditadura. Além disso, por ser ambientada no Brasil dos anos 70, a obra traz contextos e gírias da época, o que eu, particularmente, achei um barato.
?A bolsa amarela? é uma história profunda, que retrata como, muitas vezes, as vontades das crianças não são consideradas, seus questionamentos não são ouvidos e seus sonhos não são aceitos. As crianças também têm vontades e têm sempre algo a dizer. Escutem-nas!