Augusto Stürmer Caye 17/12/2022
Saudades de você
Perdi minha avó esse ano, no dia 15 de abril. O aniversário dela é/era no 08 de abril, tinha feito 87 anos. Não pude ir na festa porque estava com sintomas gripais e não queria passar nada para ela; mas no meio da semana seguinte consegui visitar ela com meu irmão.
Minha avó era uma fortaleza de espírito e caráter, uma mulher de coração mais genuinamente puro que tive a honra de conviver. Nascida em 1935, ela era filha de uma mãe solteira, empregada doméstica, com todas as dificuldades da época. Logo depois que seus três filhos nasceram, inclusa minha mãe, seu marido morreu num assalto violento que aconteceu em Viamão. Como se a história se repetisse, minha vó se viu no papel de sua mãe e saiu ao mundo para lutar para educar seus filhos: um virou Auditor Federal, outra uma médica famosa, e minha mãe fez medicina, farmácia e educação física, se formando bem e trabalhando como professora e farmacêutica. Mesmo com as adversidades, criou bem seus filhos por conta própria, que foram conquistar o mundo seguindo o exemplo da mãe.
Ela era uma pessoa maravilhosa, comovida pela situação dos outros e disposta a ajudar. É lendária a história do seu próprio assalto, já idosa, quando passeava pelo Parcão aqui de Porto Alegre: um homem a abordou e pediu todo o dinheiro que ela tinha; sem pestanejar, ela olhou no fundo dos olhos dele e disse: mas você é um homem bonito! Porque está fazendo isso? E continuou a andar lado a lado com ele, conversando e ouvindo a história do homem, que contou sua dificuldade de alimentar sua família. Minha avó deu parte do dinheiro que tinha ao homem, pegou em suas mãos e rezou com ele, e o aconselhou a procurar uma pessoa que escutasse sua história e o desse trabalho, pois alguém de bom coração o ajudaria.
No início dos anos 2000, na pousada do Rio Quente no meio do Goiás, houve uma competição de canto improvisado. Sem pestanejar, ela tirou uma peruca muito engraçada sabe-se lá de onde e cantou de letra Por Favor, Pare Agora da Wanderleia, e ganhou! Mais pela capacidade de rir de si mesma do que qualquer outra coisa.
Foi uma mulher maravilhosa, de bom coração. A amei muito, é triste saber que não terei mais ela comigo, e me faz repensar o tempo que despendemos entre nós.
O livro é muito curto e de páginas pequenas, possível ler em uma hora. Mas é denso, muito denso. Se você perdeu alguém recentemente, vai se identificar. É a obra mais sincera sobre a perda de alguém que conheci. Recomendo. Essa resenha foi mais sobre meu próprio luto do que sobre o livro, e é disso que se trata.