Bruno Oliveira 19/03/2013minha estanteOi, Bill, de nada, acho bem legal debater, sempre me faz ver coisas que eu não veria por mim mesmo.
Vou comentar o que disse numerando os parágrafos que estou a considerar.
3-4 - Eu acho que a liberdade é uma das questões centrais, porém, não a colocaria como o foco, pois ela surge mais depois da prisão, havendo toda uma discussão anterior sobre a violência e o Estado. A liberdade começa a ser problematizada depois que o livro mostrou que a "natureza humana" conduz a tantos problemas que atingir uma de suas manifestações pode até se tornar uma escolha aceitável para um governo ineficiente.
O problema do livre arbítrio que aludi é o seguinte: livre arbítrio é normalmente pensado como possibilidade (e não liberdade) de um arbítrio entre situações determinadas; enquanto liberdade é pensado como escolha dentre possibilidades indeterminadas. No primeiro caso aquilo que podemos escolher já está dado, no segundo caso não. Não se trata tanto de escolher dentro de um âmbito moral que limita e explica as possibilidades, mas simplesmente de escolher.
É mais um problema de contaminação teórica do termo, porque normalmente o livre-arbítrio é pensado como escolha entre as possibiilidades que deus ou a moralidade dá, mas, enfim, não é uma questão muito importante, entendo o que quer dizer.
5- Agora essa parte de Bem é mais complicada de afirmar.
Não sei se entendo o que você quer dizer com bem ser um conceito lógico, então vou comentar mais a ideia posteriores a isso e mostrar os problemas que percebo nisso.
No seu exemplo do ladrão concordo que ele não deseja que aquilo que pratica seja repetido contra si, no entanto, isso não implica numa ideia moral de bem. O ladrão pode não querer ser assaltado simplesmente porque isso é inconveniente, danoso, afinal, subtrai-lhe seu dinheiro, assim como também não quero levar um raio na cabeça e nem por isso penso que o raio é uma coisa moralmente má. Nos dois casos não preciso de uma ideia de bem moral (a menos que você esteja pensando o bem como utilidade ou coisa do tipo), não está em questão o que é moralmente bom fazer, mas o que ajuda ou fragiliza o ladrão.
6- Sobre essa coisa de conceitos universais, a resposta é que, no melhor dos casos, depende... Principalmente se o seu "etc" for muito grande. Um conceito ser lógico (estou pensando em algo como "quadrado" ser lógico e "bola quadrada" ser ilógico) não implica sua universalidade. Átomo é um conceito lógico, mas nem todas as culturas o tiveram, por exemplo, ele tem sua origem historicamente datada.
Acho que um antropólogo radicalizaria minha posição e diria simplesmente que não há conceitos universais, mas eu simplesmente não sei.
O problema da afirmação da universalidade é que para comprovar isso sempre tentaremos ler as outras culturas segundo nossos próprios par?metros. Por exemplo, podemos falar de "cultura", mas há povos que não tem essa palavra, não tem esse conceito e nem representam o que fazem da mesma maneira que nós e sequer aceitam se ver assim, embora o que pratiquem certamente seja uma cultura (do nosso ponto de vista). Isso só mostra que estamos tentando buscar identidade de nossos princípios com os alheios e que, ao invés de valorizarmos a singularidade deles, o que são em si mesmos, pensamos suas culturas como aquilo que temos em comum e de diferente (nos pondo como parâmetro, portanto), como uma espécie de cálculo avaliativo que supervaloriza as semelhanças e desvaloriza as diferenças porque afirmar nossa similaridade é conveniente. Deus é um conceito universal? Bem, mal também? Se pensarmos na nossa concepção de mundo e assim partimos para encontrar similaridades dela com outras, sim, mas isso só diz que no fundo nunca saímos de nosso próprio conceito e estamos o reforçando sem olhar as singularidades dos outros.
O mesmo vale para justiça, lealdade, etc. (Inclusive, estou muito a fim de comprar um livro que é sobre uma tribo brasileira (piranã) que não tem conceitos para deus e acabou desconvertendo um missionário que foi lá para cooptá-la. Chama-se Dont sleep with snakes.)
7-8-9 - Acho que os argumentos daqui são atingidos pelos que já dei antes, mas vou ressaltar duas ideias neles que achei interessantes e podemos acabar discutindo.
Primeira, a no parágrafo 7 de que o que Alex faz é bom para a sociedade. O problema nisso é que ele também faz parte da sociedade e que a conduta dele só é boa para quem sofreria com o que ele fez. O crime é bom para o criminoso impune, para os outros criminosos que estão com ele, mas não para outras pessoas.
A segunda seria a do parágrafo 8 de que Alex faz o bem coagido mas não é do bem. Minha pergunta seria: se sou um monstro por dentro, mas tenho ações moralmente impecáveis, continuo sendo mal? Mesmo que eu acabe fazendo mais bem que alguém que é bem por dentro e por fora?
Minha objeção-pergunta é a seguinte: o que é bem senão praticar boas ações?
Acho que ficou enorme, mas, enfim, vamos discutindo isso sem pressa, não precisa responder logo.
Um abraço.