clara.acalegari 12/01/2022
"A virtude vem de nós mesmos. É uma escolha que só a nós pertence. Quando um homem perde a capacidade de escolher, deixa de ser homem."
O livro "Laranja Mecânica" foi a tentativa de Burgess de lidar com sua tragédia pessoal. Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto ele estava no exterior, a esposa grávida de Burgess foi espancada em Londres por quatro desertores americanos, fazendo com que o casal perdesse seu filho ainda não nascido. Nesse futuro distopico, a violência alcançou níveis extremos, e governadores se orgulham de diminuírem a criminalidade com respostas ainda mais violentas.
A violência é normalizada, mostrando como ela virou algo comum no universo do livro. Algo parecido com a nossa realidade, onde problemas não são resolvidos e nós acabamos nos acostumando com eles, nos levando a subestimá-los. Uma coisa que eu aprendi nas aulas de Sociologia é que violência não se resolve com violência, e isso refletiu bastante na minha interpretação do livro. Um governo autoritário, com violência policial explícita... eu já vi essa fita.
Acho que o principal ponto do livro é a liberdade de expressão. Alex tem sua humanidade tirada de si, virando apenas um fantoche no governo para resolver superficialmente um problema maior que eles possuem: a criminalidade. Afinal, quem é pior: a pessoa que é ruim ou aquela que é forçada a ser boa? Criar indivíduos incapazes de decidirem por si próprios, de pensarem ou de expressarem é realmente a solução?
Alex é um personagem muito interessante, com diversas camadas. Apesar de ser alguém podre, ele também é um ser humano, e é possível empatizar com ele.
A única coisa que me pegou foi a narrativa e a escolha de palavras, que, apesar de intencional, dificultou MUITO a compreensão para mim. A intenção do autor era me fazer sentir um velho tentando entender o dialeto dos jovens, e nisso ele acertou completamente, mas tinha momentos que ficava cansativo de se ler.
Bem, não é atoa que esse livro é um clássico e marco na literatura. Não foi meu favorito mas com certeza não me arrependo de ter lido.