Ched 30/10/2024
"os elefantes não esquecem, mas nós somos humanos e temos a capacidade de poder esquecer".
Há um tempão não lia algo da Agatha e voltei relendo esse, pois já tinha esquecido tudo. uma leitura rápida, sem tantos personagens assim então não dá para se perder na história e, ainda assim, intrigante.
sempre fico pasma como algumas tramas da Agatha são tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexas. como muitas coisas passam despercebidas mesmo aos olhos mais treinados no mundo dos romances policiais, especialidade da grande dama do crime.
a história inteira em torno de uma única premissa: o passado não pode nos impedir de viver o futuro. mas é importante conhecer nosso passado para poder seguir em frente e em paz.
a autora de romances policiais Ariadne Oliver trabalhando junto com o Poirot para desvendar o crime não tive como ignorar a ideia de que ela é um alter ego da própria Agatha Christie, que com certeza deu um ou outro pitaco em crimes não resolvidos da época, reunindo informações como a protagonista do livro e tirando suas próprias conclusões. não me surpreenderia se tiver acertado algo, afinal, quantas vezes a ficção encontra a realidade?
paixão (do casal morto), inveja e vingança (da irmã abandonada pelo marido de sua gêmea), busca pela verdade - tanto para poder viver a própria vida (os jovens que desejam casar-se), como para tirar proveito da fortuna alheia (da mãe de Desmond), ausência do senso de pertencimento e gratidão (de Desmond), enfim. emoções e ações tão humanas e tão reais que não nos espantaríamos de presenciar nos dias atuais.
ok que o plot dos gêmeos que trocam de lugar é bem comum, mas a Agatha conduz a história de um jeito que nos faz sentir prazer em sermos enganados e só recebermos a verdadeira revelação no final com surpresa e fascínio por sua habilidade de mostrar sem, de fato, evidenciar.
volta e meia ainda penso como naqueles 11 dias em que esteve desaparecida em Londres a Agatha pode sim ter feito algumas coisas escusas (e até mesmo sem precisar sumir).
digo e repito: se Agatha Christie resolvesse um crime talvez descobríssemos mas, se cometesse um, jamais saberíamos. e ninguém garante que não tenha cometido.
lido em 30/10/2024