Okayalanis 24/11/2022Queria cultivar pessoas como cultivo paranóiasUm tapa, rápido e doloroso.
Destaques da leitura:
"Vocês são céu azul, eu sou nuvem pesada e chuvosa." p.7
"Queria cultivar pessoas como cultivo paranóias.
Todo dia as rego com novos medos, diferente das minhas amizades que, por falta de energia ou coragem, deixo secar e murchar." p.23
"Contemplou o vazio da vida para qual ela havia caminhado." p.28
"... era cansativo ter que ficar se justificando. Ela já fazia isso o tempo todo na própria cabeça." p.48
"O que separou a gente foi sua própria distância emocional. Você criou esse muro impenetrável e depois culpou todo mundo por não conseguir te alcançar aí dentro. Eu estava disposta a te ajudar, mas você preferiu o isolamento." p.51
"Quanto mais eu cresço, menor me sinto e mais quero diminuir. Quero me encolher tanto em mim mesma até deixar de ser e me tornar era." p.53
"Eu sempre penso no pior e o pior é muito grande para ser delimitado.
Se eu deixo de estar, acho que teria sido melhor ter estado. Se estou, me arrependo e preferia deixar de estar. Se eu falo, tenho vontade de engolir de novo as minhas palavras. Se me calo, sinto entalado tudo que poderia ser dito, mas não foi. E como posso saber se foi melhor não ter tentado? Então, eu tento. E percebo que o melhor era não ter sequer cogitado. Se eu fico, me prejudico. Se eu vou, quero voltar. Eu nunca sei que ação tomar e a todo momento me questiono, penso e repenso. Me arrependo. No final é uma pegadinha e toda opção é errada.
Tudo sempre pode ser pior." p.56
"Parei de achar que me odeiam
Também superei a ideia de que me aturam
Pois odiar e aturar pressupõe que eu sou notada.
E nesse momento, me sinto como nada.
Não sou doce nem amarga,
Sou sem gosto,
Sem sal,
Sem graça." p.59
"...para que a lógica surgisse efeito, precisava antes atravessar a barreira emocional entre o coração e a mente." p.61
"Foi depois, já crescida e por minha própria conta que as coisas começaram a desencaminhar na minha vida." p.63
"Ela tinha passado a noite inteira na mesma roda, com um vinho barato na mão e um riso nervoso engatilhado. Bebia longos goles, ouvia uma piada, fingia que ria, concordava com a cabeça, fazia um comentário genérico e, quando o assunto voltava para ela, se encolhia.
Desconversou todas as conversas." p.64
"?...Eu queria me remendar.
?E conseguiu?
?Definitivamente, não. Acho que eu só me rasguei mais." p.67
"Todo dia eu acordo e penso: É hoje.
É hoje que descobrem a minha farsa.
É hoje que descobrem o que tem aqui por baixo da máscara.
Porque é isso que me sinto e é isso que eu sou.
Bem-vindos à minha grande peça teatral!
Tão bem elaborada que eu já me perdi no personagem há muito tempo.
Não sei onde começa o "eu" e onde começa o papel que assumi." p.76
"Poderia mentir que estava bem, mas não via muito sentido nisso; assim como não via sentido em contar a verdade sobre como estava mal. Não via sentido, na verdade, naquela troca de palavras." p.77
"Eu não quero morrer. Isso é muito trágico, muito real, muito marcante. E eu não quero marcar ninguém, até porque sei muito bem o estrago que causa uma morte. Eu quero, justamente, desmarcar tudo que já toquei. Quero anular qualquer impacto que já causei. Quero voltar para a não existência, desaparecer no espaço e no tempo. Não quero que sintam minha falta e não quero me sentir mal por não sentirem minha falta. Eu quero sumir com tudo. Comigo e com o mundo.
Eu só quero não existir." p.83
"Mesmo nos meus momentos mais felizes
Tem uma tristeza profunda
Por trás do sorriso
No fundo da garganta
Mesmo entre aqueles que mais amo
Ainda resta o não pertencimento
Uma solidão que sempre me acompanha" p.89
"No final do dia, a própria mente era a pior inimiga que tinha." p.92
"Já faz tempo que exaustão virou descrição para esse meu estado contínuo que nunca passa. Não é mais estar, é ser. Sou um cansaço ambulante, que se acumula e se corrói. Me cansa o corpo, a mente e o emocional. E me cansa em um lugar mais profundo aqui dentro, tão profundo e tão eu que não sei dar nome. E não importa o quanto eu pare, o quanto eu deite no chão, o quanto durma, o quanto eu chore, o quanto eu tente descansar, essa falta de algo, essa não plenitude, não vai embora. Não tem como descansar desse cansaço. Ele não se desfaz. E, às vezes, sinto que não tem outro jeito de deixar de ser exausta além de deixar de ser. Sumir com o corpo, enterrar a mente e calar o emocional." p.113
"Sinto como se eu estivesse permanentemente nublada." p.119