Italo Amorim 05/07/2024
O espelho reflete, como posso me esconder de mim mesmo?
Um dos meus versos favoritos desde que comecei a ouvir RAP é o do Makalister no projeto ?Poetas no Topo?, ainda que tenha compreendido menos do que deveria para as tantas vezes que ouvi.
No verso em questão, entre vários devaneios que viraram piada em relação ao artista, o recorte ?o para-brisa reflete, como posso me esconder de mim mesmo?? me fez refletir bastante sobre como lidar com a vida em momentos de pausa.
A construção dessa parte, precedida por ?nas areias do templo (provavelmente uma brincadeira com a obra do Sidney Sheldon ?As Areias do Tempo?, que entre muitos temas trata sobre a fuga forçada de quatro freiras do local que elas consideravam sagrado) no sinal vermelho?, possivelmente trata sobre um momento de parada (afinal de contas ele está vendo o seu reflexo no para-brisa do carro em meio ao sinal vermelho) em meio a uma agitação (essa ?fuga forçada? do seu local de paz). Um conflito dele com ele mesmo.
Disso para o livro, o segundo livro do ?conjunto? me passou essa sensação em relação a Alice. ?Alice no país das maravilhas? é, como o próprio nome indica, maravilhoso. É sólido, divertido, agitado e conta com o humor satírico dos seus co-protagonistas. Por outro lado, ?Alice através do espelho? já é mais mórbido. Lento, inquieto e arrastado. É como se Alice, num momento de ?estalo?, percebe-se que ela não pode fugir de si.
Como numa parada no sinal vermelho o segundo livro também é rápido. Angustiante como tem que ser, mas mais chato do que deveria. Torna o conjunto um pouco menos perfeito, no entanto, toda a obra é genial.
Como diz o próprio Makalister mais à frente no verso citado lá em cima, ?a pureza decola no trânsito lento? ? e a de Alice vaga solta em meio a tantos sinais vermelhos