guirbs 20/07/2024
Maternidade, trabalho e desigualdade: choque de realidades.
O livro se inicia com o rapto da inocente criança. É uma manhã qualquer quando Maju atravessa a praça ao lado de Cora. Puxando a garota pelo braço, ela passa sorrateiramente pelo exército branco ? quantidade exacerbada de babás que ficam na pracinha em um bairro nobre da grande São Paulo ?, sobe a avenida, pega um ônibus e desaparece. A partir disso, teremos duas visões, a da babá Maju que é encantada pela criança sonhando ser mãe um dia e, a da Fernanda, mãe da Cora, mas que definitivamente não nasceu para isso (ela mesma tem noção disso). Em ambas as abordagens há temas sensíveis, complexos e importantes.
Em ponto de partida já se enxerga o principal aqui: o abismo social em que se encontram a proletária e a chefe. Quando a Fernanda quer que a Maju abdique do seu dia a dia, para viver em prol de cuidar da Cora já se vê o quão normalizado é a questão da colonialidade no Brasil, que só por haver "um quartinho" preparado especialmente para funcionária já se pensa estar trazendo o máximo do bem-estar para essa trabalhadora que vive 6 de 7 dias nesse ambiente, então para tirar o peso de tal ação ainda cria uma denominação para o local: Suíte Tóquio.
A obra consegue tratar disso e ir além, trazendo mais questões do contexto social como maternidade, relacionamentos, trabalho, amor, desejo, afetividade, sexualidade, liberdade, entre tantos outros. Uma comédia trágica bem trabalhada, com personagens distintos em mundos totais opostos, mas ainda assim construídos de forma coesa. Considero um retrato fiel da nossa sociedade, a Giovana consegue transmitir essa sensação de ser algo real ? tanto que não se sente aquela vontade de torcer para um lado ou para outro, o leitor fica apenas como espectador e espera o desenrolar da narrativa. Realmente achei de uma fácil leitura e instigante de ler, mas nem todo livro que se lê rápido é perfeito, talvez ela pudesse ter adentrado mais em algumas questões, só que entendo o fator de não ser uma crítica social, então para o que se propõe é um bom livro. Um adendo, o final é meio corrido e fica em aberto ? ponto não positivo para mim.
"Talvez paixões sejam avassaladoras também por isso, porque se apaixonar por outro é se apaixonar por uma nova possibilidade de si mesmo."