Mari 10/11/2023
Sem a gente perceber os sonhos já nos são
Mil milhas é o diário escrito por Tamara durante, antes e depois da sua tragetória em sua primeira travessia em solitário. Que delícia a escrita dela e ler sobre suas divagações sobre navegar, crescer, se encontrar e se perder. Eu me sinto tão próxima dela mesmo não a conhecendo simplesmente porque ela é transparente num nível que nunca li em livros de aventura. Cada travessia é única e singular, mas ler sobre a dela me faz pensar no como nossas travessias da vida se caracterizam pelos mesmos medos e dúvidas...
Eu sempre fui muito sonhadora e com vontade de atravessar o mundo, acessar o desconhecido e me aventurar pelos lugares mais remotos e longes da minha realidade. Mesmo que eu não tenha tido a oportunidade de realizar esses sonhos ainda, ler sobre Tamara e sua coragem de desafiar as dúvidas dela mesma e dos outros me faz acessar esses sonhos e pensar que um dia eu consigo e vou chegar lá.
Que delícia de livro! Já vou logo ler o outro dela que comprei.. "Um mundo em poucas linhas"
"Sonhos são coisas perigosas.
A gente não decide tê-los, nem define como serão.
Eles nasceram por eles próprios, crescem em silêncio e espalham raízes nas nossas escolhas todas. Sem a gente perceber, os sonhos já nos são.
Como bambus, eles se alastram debaixo da terra e os brotos geram novas centralidades. Um broto vira muitos, e assim por diante.
Uma vez instalados, os sonhos são quase impossíveis de exterminar. Seria preciso cavar um buraco imenso, arrancar toda a terra em volta e levá-los para outro lugar, longe de nossa inconsciência. Ainda assim, sempre podem ficar uns pedaços. MINÍSCULOS e capitais." pg. 22
"Tenho a impressão de sentir saudades da minha família mesmo estando ao lado deles todos.
Talvez a distância física nos aproximasse, no fim das contas.
Precisei estar longe para descobrir quanto o meu sonho era meu e quanto dele era dos meus pais.
Eu precisei estar longe para me conhecer sem eles.
[...]
Longe, pude experimentar ser maior do que eu pensava. Longe, entendi melhor de onde vim e pude desejar voltar." pg 117