FelipeBiavo 25/02/2022
Caos cyberpunk
Dos primeiros momentos de conexão ao console às derradeiras incursões pela mente de Lynx, a história de Lidia Zuin torna perene uma angústia que só não sufoca pela curiosidade que REQU13M enseja a partir da própria capa.
De partida, vemo-nos rodeados por um mundo em caos, de ritmo apressado, em um paradoxo com o que as caixas telemáticas proporcionam: conexão com simulações que podem durar mais de um dia, em que a mente viaja por um universo que apresenta seus próprios perigos enquanto o corpo do usuário se encontra em repouso. Essa dicotomia de ritmos se revela ao longo da história de Lynx, com perseguições letais seguidas por momentos de observação da realidade, reflexão sobre pistas de crimes e diálogos que descortinam as forças e fraquezas da protagonista.
REQU13M também apresenta mérito ao representar um cenário provável de futuro mesmo descrevendo elementos que não existem no presente: a naturalidade do universo de Lynx se mostra ao situar a história em uma cidade desconhecida e, ao mesmo tempo, tão familiar; e essa característica de globalização se percebe em objetos, alimentos e mesmo na escolha de palavras estrangeiras incluídas com naturalidade no texto, um fenômeno linguístico inevitável que tão fielmente representa a evolução da sociedade.
Para além dessa riqueza de detalhes, destacam-se os personagens que Lynx encontra em seu trajeto: Moha, que traz desconfiança mas não deixa de inspirar alívio quando surge; as irmãs Raga, Pali e Arati, fascinantes em sua estranheza; e a figura quase divina de Yama, que se desvela sem realmente se revelar.
Com um desfecho que traz sentido a inúmeros detalhes encontrados ao longo da narrativa, Lidia Zuin encerra seu primeiro romance com uma possibilidade de resposta a um dos maiores questionamentos da humanidade: para onde vamos?