Obras completas

Obras completas Augusto Monterroso




Resenhas - Obras completas (e outros contos)


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Luiz Pereira Júnior 16/01/2024

Como enganar o leitor e não se sentir culpado...
Primeiramente é bom lembrar que se trata de um título enganoso (eis a razão do título desta resenha). Não, você não lerá as obras completas de um escritor chamado Augusto Monterroso, mas sim uma coletânea de contos dele, dentre os quais um tem por título “Obras Completas”. Uma bela sacada, diga-se de passagem.

Cada conto de “Obras completas” é um exercício de literatura em si, uma brincadeira com os gêneros. Há desde microcontos (“O dinossauro”, por exemplo, tem apenas uma frase, mas encerra toda uma galáxia de interpretações) até contos mais longos (como “Leopoldo (seus trabalhos)”, que apresenta as dificuldades do fazer literário – o protagonista não consegue há mais de cinco anos terminar de escrever um único conto, mas a única coisa que sabe é que um cachorro lutará contra um porco-espinho e envereda por um mundo de pesquisas, sem resultados que valham a pena); há contos mais singelos (o conto curto “Sinfonia Acabada”, em que um velhinho encontra a partitura que finaliza a “Sinfonia Inacabada”, de Schubert, mas preferia não a ter achado) até contos que beiram o horror (“Mister Taylor”, em que um estrangeiro descobre uma forma de se tornar milionário com o comércio de cabeças encolhidas); há contos de enorme crítica social (“Primeira-Dama”, em que a esposa do presidente quer a todo custo fazer uma declamação de uma poesia para as crianças que não têm o que comer nas escolas públicas de seu país) até contos que flertam com as formas modernosas de escrever, mas sem esquecer a profundidade de reflexão (o conto “Vaca” é um bom exemplo, pois em poucas linhas, com pontuação não convencional, mostra o espanto de um passageiro de trem ao ver uma vaca morta em meio a uma paisagem aparentemente idílica).

Enfim, esse pequeno livro de Augusto Monterroso, em suas parcas cento e dez páginas, tem muito mais a dizer que muitos calhamaços que circulam por aí. Pode ser que você consiga lê-lo em duas ou três horas, mas também pode ser que alguns contos se agarrem à sua mente de uma forma que você pense que deixou passar algo ou, simplesmente, que vale a pena lê-lo de novo. E vale mesmo...
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Lulys 29/01/2023

Contos diversos
Augusto Monterroso traz contos maiores e alguns microcontos. Todos discutem sobre a condição humana e nossos sentimentos. Alguns tornam-se cansativos , mas a grande maioria é bem interessante
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J^! 17/10/2022

Sobre a necessidade da escrita
Achei curiosos os temas para os contos. Como se estivesse sempre à espreita a oportunidade da escrita.
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Carla Verçoza 26/05/2022

Gostei demais dos contos desse livro, que é o de estreia do autor. O livro começa muito bem, os três primeiros contos são meus preferidos, junto com o Leopoldo, oitavo conto. Gostei muito de quase tudo, o que pra mim é algo raro de acontecer com livros de contos. Escrita bonita, inteligente, paródias com humor, crítica social, cultura, tudo isso em contos curtos porém consistentes. Não conhecia o autor e estou impressionada.

"Padece você de uma das doenças mais normais no gênero humano: a necessidade de comunicar-se com seus semelhantes. Desde que começou a falar, o homem não encontrou nada mais aprazível que uma amizade capaz de escutá-lo com interesse, seja para a dor, seja para a fortuna. Nem mesmo o amor se equipara a esse sentimento. Há quem se conforme com um amigo. Existem aqueles aos quais mil não bastam. Você corresponde aos últimos, e é nessa simples correspondência que se originam sua desgraça e meu oficio." Pág. 25



[AVISO DE SPOILER] Abaixo, resumo dos contos com spoilers:

Conto mister Taylor
A conta história do americano mister Percy Taylor caçador de cabeças na selva amazônica. A história trata de um homem que começou a enviar para um parente nos Estados Unidos as cabeças pequenas que os indígenas de uma tribo faziam. O tio começou a ganhar muito dinheiro, as cabeças nós EUA se tornaram símbolo de status, o exótico. mr. Taylor entrou na sociedade e cada vez mais enviava os artefatos. A aldeia se modernizou com o comércio. Qdo as mortes não acompanhavam a demanda por cabeças, criaram-se leis com pena de morte para qualquer delito leve, tudo para ter mais cabeças para exportação. O conto tem um tom caricato, absurdo e com pitada de humor, no meu ver uma crítica ao capitalismo e ao sequestro de artefatos e cultura da tribo pelo homem branco. 5/5

Um em cada três
Um homem q observa outro, envia uma carta para ele oferecendo uma solução para um problema. De tanto observá-lo, percebeu a ele era do tipo que gosta de desabafar com seus amigos, com vários deles, não aceitando conselhos q desagradam, mesmo sendo coerentes, recorrendo assim a um amigo seguinte. Ele sugere que compre um aparelho de radiodifusão, que aí contará dia história e poderá desabafar com n pessoas ao mesmo tempo. O conto reflete sobre a necessidade das pessoas em se mostrarem, em falarem de si, de compartilhar a vida (tão comum hj em dia nas redes sociais). Gostei do humor irônico. 5/5

Sinfonia acabada
Conto mais poético até aqui, um velho encontra as páginas finais da Sinfonia Inacabada de Schubert. Ao contar a novidade na Guatemala, foi chamado de louco. Foi-se para Viena e lá foi ainda pior, pois lá existem muitos estudiosos e não seria um guatemalteco quem os ensinaria a identificar papéis desaparecidos (está à margem da "alta cultura"). Encontrou lá um casal de judeus q havia vivido em buenos Aires q o acolheu. Quando tocaram as folhas encontradas, constaram q era mesmo original. Choraram. Disseram q era belíssimo porém estragaria o mito e não acrescentaria nada à genialidade da obra inacabada. Último trecho é bem bonito:
"se ele respeitava e amava verdadei ramente a memória de Schubert o mais inteligente era lhes permitir guardar aquela música porque ademais qual seria o sentido de iniciar uma polémica interminável o único que sairia perdendo seria Schubert e ele então convencido de que nunca conseguiria nada entre os filisteus menos ainda com os admiradores de Schubert que eram piores embar cou de volta para a Guatemala e durante a travessia numa noite enquanto a luz da lua batia em cheio sobre o espumo so lado do barco com a mais profunda melancolia e farto de lutar com os maus e com os bons pegou os manuscritos e os rasgou um a um e atirou os pedaços pela borda até estar bem certo de que nunca ninguém os encontraria de novo e ao mesmo tempo finalizou o gordo com certo tom de afetada tristeza que grossas lágrimas queimavam suas bochechas e enquanto pensava com amargura que nem ele nem sua pátria poderiam reclamar a glória de haver devol vido ao mundo umas páginas que o mundo teria recebido com tanta alegria mas que o mundo com tanto senso co mum rechaçava." 5/5

Primeira-dama
O ego disfarçado de solidariedade. A primeira dama queria recitar poesias, mostrar sua arte e encontrou a oportunidade qdo um diretor escolar pediu a ajuda para alimentar os alunos q desmaiavam de fome nas aulas. Ao procurar o presidente para pedir ajuda, este pergunta se ele não estava virando comunista, apenas por querer comida para crianças pobres poderem estudar sem desmaiar. Mostra o descaso da classe política e também dos ricos, que não querem justiça social, mas gostam de posar de caridosos, sempre com intenções egoistas. Também o medo de contrariar quem está no poder, nas ditaduras da América Latina isso poderia ser uma sentença de morte. 4,5/5

Eclipse
Religioso é capturado por nativos e para evitar q seja sacrificado por eles, tenta usar de seu conhecimento de q haverá um eclipse solar naquele dia, para passar por algo mágico e se salvar. Corta para ele sendo sacrificado no altar durante o eclipse, enquanto os nativos mostram q já conhecem o calendário de eclipses previstos pelos maias. Muito que bem! O conto vai direto ao ponto. Mostra bem a arrogância do branco conquistador q se acha superior aos povos originários. 5/5

Diógenes também
Não sei se entendi bem. Preciso reler.
Filho de pai alcoólatra conta dos abusos, do pai ausente, de como ele mesmo se tornou um. As vezes a visão é do filho, depois passa a ser a mãe, depois o pai. O cão é morto pelo pai, depois diz q foi o filho, q na verdade sofria de transtornos mentais e estava internado e q não tinha mãe e fora criado pelo pai e a avó. 3/5

O dinossauro
"Quando despertou, o dinossauro ainda estava ali. " Esse é o conto
Velhas ideias, velhos comportamentos ainda persistem??
Saiu no período da ditadura, o dinossauro seria o ditador?? 5/5

Leopoldo (seus trabalhos)
Escritor que não escrevia. Se acha um grande intelectual, passa todo o tempo lendo e posando de escritor, porém não gosta de escrever. O homem medíocre que tem certeza que é máximo. A busca pelo status sem ter o talento. 5/5

O concerto
Um homem rico em poderoso assiste ao concerto da filha pianista. Não gosta de arte, não entende, mas sabe que a filha é mediana. Fala sobre a falsidade dos amigos que a aplaudem apenas por bajulação, sobre as boas críticas de jornalistas comprados. Sente impaciência e tristeza com a filha, qdo ela se entristece por achar q não executou bem. Ele chega a odiar porém é sua filha, então sofre também. Pobre gente rica. 4/5

O centenário
Homem de 2 metros e 47 centímetros, ficou famoso e rico por sua altura. Adorava as moedas recebidas. Morreu no México, na festa do centenário, justamente por se agachar para pegar uma moeda de ouro (um centenário). Irônico. 4/5

Não quero enganá-los
Na exibição de um filme, os atores e diretores entram antes para falar ao público. O mestre de cerimônia introduz a grande atriz q começa a discursar sobre como ela não é atriz, muito menos grande e se prolonga nisso, q não é, não sabe atuar, não estudou etc. Gera constrangimento e entedia o público, o q faz q o mestre de cerimônias fique inquieto e perde um pouco o controle, começando a gesticular como louco. Engraçado. 4/5

Vaca
Ao viajar de trem, vê uma vaga morta abandonada na margem da estrada. Um conto que reflete sobre a morte e o esquecimento, a ingratidão do mundo. Adorei a concisão desse conto, incrível o que ele faz com tão poucas palavras.
"(...) uma vaca morta mortinha sem que houvesse quem a enterrrasse, nem quem editasse suas obras compleas, nem quem lhe dissesse um emocionado e choroso discurso por quão boa havia sido (...)" 5/5

Obras completas
Uma alfinetada aos escritores, talvez? Sua arrogância, intelectualidade, seus círculos fechados. Um jovem autor promissor vai sendo diminuído por um autor mais velho e já consagrado até se tornar somente um preparador das obras completas desse senhor. 4/5
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Vilamarc 22/05/2022

Sutil e Mordaz
Monterroso é sempre uma grata surpresa. Rever O dinossauro em seu contexto foi maravilhoso. Mas A ovelha negra continua preferido.
Alguns dos contos acentuam facetas ordinarias das elites latinoamericanas, quiçá de todas as elites medíocres.
As finalizações desses contos parecem sutis, como quem dá uma alfinetada nos algozes, mas a realidade é que são críticas muito certeiras aos velhos costumes sociais e sobretudo políticos.
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Debora 19/05/2022

Todos os contos são muito inventivos
Nem sei se a palavra inventivo existe, mas os contos de Obras completas (e outros contos) me pareceram geniais. Nenhuma palavra sobra, as expressões se encaixam. As temáticas são variadas: o 1o. conto, mister Taylor, é uma alegoria genial dos efeitos do colonialismo; o último, Obras completas, é a triste perda de um talento literário nascente para a burocrata pesquisa literária. Entre estes, violência, o absurdo de um homem gigante, um conto de 5 ou 6 palavras, uma vaca que morre ao lado de um trem, um pai poderoso que se incomoda com o concerto da filha e um escritor que pesquisa pesquisa e nada escreve. Todos deliciosos de ler.
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