spoiler visualizarJoseane12 11/02/2024
Um orgulho e preconceito industrial?
Orgulho e preconceito é um dos livros da minha vida e diante de comentários de como essa obra da Elizabeth Gaskell lembra o livro da Jane Austen, resolvi me aventurar nessa história e que aventura gostosa eu vivi. Os protagonistas, Margaret Hale e John Thornton, são duas pessoas com concepções de vida distintas, mas que de uma forma se conectam e se completam. Temos aqui uma obra do romance industrial (época da revolução industrial, na qual as máquinas e produção de peças de algodão dominaram a região norte da Inglaterra). Margaret nasceu no sul e, embora tenha passado uma boa parte da sua vida morando em Londres, com a tia e a prima, para ela não existe lugar mais sublime neste mundo do que sua Helstone e essa visão sulista de pacividade é sua bússola direcionadora. John Thornton, por outro lado, nasceu no norte, seu pai morreu sobre circunstâncias vergonhosas, e devido a esse fato e às dívidas da família, aos quatorze anos ele teve que largar os estudos e se dedicar ao trabalho. Construiu sua fortuna e status social do zero, por isso sua visão de mundo é baseada na meritocracia e no trabalho duro. O título inicial de Orgulho e preconceito era "primeiras impressões" e essa expressão descreve com precisão o relacionamento entre Margaret e John. Quando eles se conheceram, o Sr. Thornton se encantou pela jovem dama que estava a sua frente e sentiu por ela algo que ele nunca havia se permitido sentir por mulher nenhuma antes: amor. E apesar de discordar de cada posicionamento de Margaret e de se irritar com cada colocação dela, ele nunca deixou de ouvi-la e admirá-la, sempre com gentileza e respeito. Margaret, por outro lado, tem sua visão de como um cavalheiro deve ser e como Thornton não se encaixou no seu molde, ela o trata, desde o princípio, com desdém e um ar de superioridade, estilo Mr. Darcy. Chega o momento da história na qual ocorre o pedido de casamento e a posterior recusa. Confesso que nessa cena eu fiquei com o coração na mão, era como se uma pessoa estivesse maltratado um filhotinho de cachorro na minha frente e eu não pudesse fazer nada. John Thornton pode parecer, a princípio, um homem duro e rígido, mas isso é apenas uma casca de proteção, pois na realidade ele é um homem de caráter, justo e com um bom coração e Margaret poderia perceber essas características se ela olhasse para ele, sem os pré-conceitos com os quais ela julga a cidade de Milton e seus habitantes. Ela perceberia que ele sempre foi bondoso para com ela e com sua família (especialmente sua mãe enferma). Infelizmente, ela só dá valor ao homem que Thornton é e a boa opinião que ele tinha dela, quando ela a perde. Outro ponto interessante da história são os Higgins. Bessy, uma jovem adoentada devido às más condições de trabalho, e que perdeu a esperança na vida, se torna amiga de Margaret e ver nessa um anjo de calmaria para seus últimos dias. O pai de Bessy, Nicholas Higgins, um operário de fábrica, membro do sindicato. Nicholas e John são homens justos e de princípios e ao mesmo tempo dois lados distintos da mesma moeda, um é operário e outro é o patrão, contudo um depende do outro. Do relacionamento entre esses dois eu tirei o ensinamento de que muitos problemas podem ser resolvidos com um diálogo franco, que ninguém é detentor absoluto da verdade, que às vezes temos que deixar de lado o orgulho e admitir nossos erros e isso vale para Margaret também. Todos nós temos uma visão de mundo, mas não podemos deixar que tal visão nos cegue, pois mesmo distintos cada pessoa pode acrescentar conhecimento diferente na nossa vida, por isso é preciso escutar o outro com empatia e respeito, num estilo meio hermenêutica diatopica do Boaventura de Sousa Santos. Por fim, eu amei a leitura desse livro, foi uma viagem pelo norte industrial da Inglaterra, me envolvi tanto com os personagens que parecia que eu estava vivendo tudo aquilo com eles.
P.S. John Thornton você está marcado no meu coração.