Renata 27/04/2022
CIRANDA DE PEDRA
O romance memorável de Lygia Fagundes Telles é perturbador e envolvente ao mesmo tempo. Publicado em 1954, traz algumas questões desafiadoras para a sociedade da época, como homossexualismo, adultério e suicídio.
A obra, que foi adaptada para a televisão duas vezes, apresenta um enredo denso, que desperta no leitor uma sensação de surpresa à medida que as personagens vão sendo reveladas. A história começa com um mistério, pois, narrada sob a ótica de uma criança, é apresentada apenas com informações que uma menina é capaz de compreender.
Virgínia mora com a mãe, Laura, que está separada do marido, enquanto suas irmãs mais velhas moram com o pai. Laura está doente, sem perspectivas de melhora, portanto, chega um momento em que Virgínia vai morar com as irmãs, num casarão comandado por uma governanta, cuja rotina envolve hábitos totalmente diferentes para ela.
Sentindo-se um peixe fora d?água e vivendo um conflito interior despertado por um segredo revelado, a menina pede para estudar interna. Quando retorna à casa da família, anos mais tarde, Virgínia depara-se com uma realidade bem diferente daquela que ela imaginava conhecer quando criança.
A trama de Lygia apresenta elementos simbólicos, característica da escritora, assim, animais, cores, paisagens têm significados na história. No caso da ciranda, ela faz uma alusão à ciranda de anões que enfeitam o jardim da mansão, aos quais Virgínia atribui cada uma das pessoas que compõe o círculo da sua vida, ou seja, as irmãs e seus amigos próximos. Um círculo do qual ela se sentia excluída, mas sempre quis fazer parte.
É por meio da mente da protagonista, em toda a sua introspecção, que o leitor vai conhecendo a realidade daquela família e suas relações. À proporção que ela vai descobrindo esse novo mundo e faz cair o véu que escondia a essência das pessoas que ela admirava, quase como divindades, revelando pessoas de carne e osso, com fragilidades e até hipocrisia, Virgínia vai amadurecendo e percebendo que de fato não faz parte daquela ciranda e nem quer mais fazer.
Obra-prima da literatura brasileira!!! Recomendo!!!
Renata Saraiva
@falo.leio.escrevo