rafaelmello 14/10/2022
A Senhora da Tundra – draugar, seres mitológicos, folclore, batalhas e magia na Era Viking
O livro A Senhora da Tundra, por Paola Giometti (editora Culturama, 2022), trata da saga de Jarnsaxa, que ao contrário de outras sagas é uma draugr (os mortos-vivos na mitologia Nórdica). A história se passa em Real Volthor, cidade fictícia com inúmeras semelhanças com a Noruega, país onde a autora reside. O livro conta com o mapa dessa terra, que será muito importante para o leitor acompanhar as andanças heroicas de Jarnsaxa.
A Ursa da Tundra - apelido recebido por utilizar vestes de couro de urso, possuir instinto animal e aterrorizar os humanos - é filha bastarda de Drakkar, rei dos draugar. Este, por sua vez, quer expandir seus domínios pelas terras dos mundanos (humanos) e aumentar a devoção e culto a Grafvöllundr-Gulon, a serpente devoradora de homens e divindade dos mortos-vivos.
Jarnsaxa, apesar de bastarda, aprendeu todas as técnicas de batalha, rituais e magia dos draugar, se tornando uma general do exército de Drakkar. Porém em uma de suas caçadas, teve uma visão que poderia mudar seu destino e de toda Real Volthor. A história é repleta de batalhas com seres mitológicos, rituais, encontros e desencontros e o arco do herói, onde a draugr terá uma jornada em busca de vingança, autoconhecimento e evolução. Estariam os draugar tramando uma investida definitiva ao mundo dos homens? Seria o fim dos humanos?
Paola faz um belíssimo trabalho levando o leitor à uma época obscura da Era Viking: os antigos deuses nórdicos pereceram e os homens estão a mercê do poder Draugar. Drakkar, conhecedor da magia do submundo e rituais xamânicos proibidos, transforma guerreiros humanos em seres como mortos-vivos, num ritual horripilante chamado "a travessia", aumentando suas hostes.
Ao longo de sua história épica, narrando batalhas sangrentas, batalhas pessoais e até mesmo espirituais, a autora despeja muitas referências da mitologia nórdica, sagas e da própria cultura escandinava. Tomemos alguns exemplos, como os landvaettir - espíritos da terra, os trolls (no livro, conhecidos como diornes), os álfar (elfos) e até mesmo os dvergar (anões ou nibelungos, no livro). O folclore escandinavo também não fica de fora nessa narração, pois encontramos seres que são temidos até nos dias de hoje. Para quem conhece essas narrativas, fica bem mais interessante cruzar as referências acompanhando os feitos de Jarnsaxa. Para aqueles que, por um acaso, possam perder algumas delas, a autora disponibiliza um glossário indicando os textos, criaturas e mitos dos quais se baseia.
Esse aceno à mitologia nórdica é um dos encantos na obra. O leitor pode ter várias epifanias por "pescar" essa referência, como em: "Esse [hidromel] aqui é dos bons mesmo, feito por anões e para anões, aquele que Odin bebeu, não aquele que ele cagou." Essa passagem é uma alusão ao roubo do hidromel descrito no Skáldskaparmál, onde Odin, transformado numa ave, rouba o "hidromel da poesia" - feito por dois anões - que estava em posse do gigante Suttungr.
A autora também não deixa a História dos países nórdicos de fora de sua narrativa, onde o leitor encontrará passagens como essa: "Disseram que foi assim que surgiu o bacalhau salgado e os alimentos defumados, pois duraria um inverno todo, se não fossem comidos." Referência à conhecida maneira que os nórdicos preparavam os peixes, dando inspiração ao preparo do bacalhau português.
Ao longo das quase 400 páginas, o leitor vai aproveitar uma história instigante, cheio de mistério, magia, aventura, batalhas incríveis e um final surpreendente. As belíssimas ilustrações do livro, ajudam a ambientar nossa imaginação. Esse livro, sem dúvidas, é um prato cheio para os amantes da mitologia nórdica e da Era Viking!
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