Luis Felipe S. Correa 16/09/2023
Incrível. Altamente recomendável
Confesso que não esperava muito do livro, mas terminei a leitura com outra perspectiva sobre as mídias sociais.
O livro poderia certamente ser uma distopia, ou eu creio que podemos dizer que estamos vivendo em um mundo distópico, uma mistura de Matrix, Black Mirror, 1984, Fahrenheit 451, Admirável Mundo Novo, o Conto da Aia, Neuromancer e Nós. Os pilares da distopia parecem mesclados neste livro.
Me pareceu bastante esclarecedor no sentido de mostrar questões de responsabilidade das redes sociais sobre a condução da vida moderna, e com certeza pode auxiliar o momento global de tentativa de regulação estatal sobre as plataformas.
Qual é a zona limítrofe da liberdade de expressão? A liberdade de expressão deveria ser irrestrita?
Bem, o ordenamento jurídico diz que não e atualmente as empresas responsáveis tem lidado com sanções do judiciário quando suas políticas de conteúdo tendem ser bastante liberais quanto à promoção de discursos perigosos e incendiários em nível global.
Mais do que liberdade de mercado, o livro revela o poder das grandes plataformas e sua capacidade de direcionar os rumos de nações.
Inteligências artificiais cada vez mais voltadas à exploração das vulnerabilidades da mente humana e que tem a atenção como capital conduzem as jornadas digitais pelo caminho da indignação coletiva e radicalização por meio da (des)informação e distorção de fatos.
Vemos um verdadeiro aprofundamento do documentário o Dilema das Redes.
O Autor permite uma possibilidade de compreensão do projeto de capitalização do atenção humana e um fechar de olhos de suas lideranças para os efeitos devastadores das plataformas, aqui retratadas como promotoras de uma mobilização coletiva que pode ser comparada a uma polícia cibernética (uma polícia do pensamento Orwelliana, com a diferença de que todas as pessoas podem exercer esse papel), baseada em uma indignação moral sem qualquer apego à justiça, aqui caberia dizer que se trata de uma polícia de injustiça cibernética, com ênfase em desejos de vingança e imposição do medo.
Quanto às fontes, o autor apresenta estudos científicos e pesquisas sérias, bem como uma base robusta devidamente referenciada, afastando o achismo, de forma diametralmente oposto às tendências de desinformar amplamente disseminadas nas redes.
Há a abordagem de crises políticas sérias ao redor do globo e capítulo especial sobre o crescimento do extremismo no brasil associado à divulgação de conteúdos inverossímeis e conspiracionistas. Serviu para mostrar que o fenômeno político de impulsão de políticos e personalidades que propagam discursos de ódio e extremados faz parte de uma tendência global que parte das ferramentas das plataformas digitais de ampliar o seu consumo a partir da promoção da indignação causada pelo consumo exacerbado de (des)informação.
Isso leva à conclusão de que a ascensão de políticos com pautas políticas desprovidas de seriedade, com ênfase no apelo tribal e à capacidade de revolta coletiva só foi possível graças a uma permissividade das plataformas digitais, com um "fechar de olhos" evidenciado pela falta de moderação para a divulgação irrestrita de discursos criminosos, de incitação a comportamentos inadequados, sob o pretexto de que o seu controle se confundiria com cerceamento à liberdade de expressão.
Por óbvio, o conteúdo do livro e as questões de reflexão propostas demandariam outro livro de resenha, motivo pelo qual toda pessoa deveria ler este livro.
Apresenta uma perspectiva de pouca adesão sobre a responsabilidade das plataformas digitais na condução dos rumos da sociedade atual, permite uma maior compreensão sobre o papel humano na exploração da atenção como capital e amplia o debate sobre liberdade de expressão e regulação das mídias digitais.
Por óbvio, o livro não nega os efeitos benéficos e os impactos positivos na conexão global, mas revela seu foco no potencial nocivo e sugere modificações de ferramentas para um uso em níveis seguros.