Mariana 12/09/2024
Maternidade não romântica
"Sobre minha filha", na verdade, é uma obra que revela muito mais sobre a mãe. É a mãe que conta a história. Uma personagem por volta dos 60 anos, da Coreia do Sul, que é cuidadora de idosos e tem uma filha homossexual. Narrado pela mãe, o livro conta suas aflições, angústias e reflexões. A todo tempo nos deparamos com uma mãe se perguntando onde foi que ela errou, como se a orientação sexual de sua filha fosse um erro. Repleta de preconceitos, de conservadorismo, a mãe revela uma cultura muito tradicional, e nos mostra o quanto ela carrega expectativas sobre a própria filha. É interessante que, junto a essa não aceitação da orientação sexual da filha, a mãe se depara com a sua parceira, que está com a filha há 7 anos, e trata esse relacionamento como se não fosse nada - devido a sua postura defensiva, negando aquela realidade. Além disso, a mãe vai se vinculando cada dia mais a uma idosa que é responsável pelo cuidado, e reflete sobre solidão, sobre envelhecimento e perdas, projetando-se muitas vezes naquela idosa, por sentir-se sozinha também. A companheira de sua filha é uma personagem incrível, gentil, e devido a sua personalidade, aos poucos, a mãe vai se desconstruindo. Com a militância da filha, e devido a violência que ela sofreu por ser homossexual, a mãe se desconstrói ainda mais. É uma história muito tocante, pois mesmo assim, alguns preconceitos seguem, por serem tão enraizados. Boa história para pensar, refletir, e não romantizar a relação mãe-filha, que pode, muitas vezes, ser extremamente frustrante.