breno 25/09/2023
Holly voltou. E que bom!
Finalmente a Holly teve o tão esperado livro solo e só posso dizer que o carinho que o Stephen King tem por ela é o mesmo que o que eu tenho. Amo a forma como ela investiga, amo a forma como ela se comporta, amo como ela reage às mais diversas situações das formas mais inesperadas e HOLLY possíveis.
O Stephen King tá bem politizado nesse livro, como sempre. E era de se esperar que o homem que previu o Donald Trump no fim dos anos 70 fosse retratar e criticar acidamente a forma catastrófica que ele, e mais tanto líderes dessa extrema direita repugnante que ascende, tratou a pandemia. Acho que uma das coisas mais interessantes que o King retrata aqui é a forma avassaladora de como a pandemia nos roubou a possibilidade de termos um assunto. Tudo na pandemia soava metalinguístico, conversávamos sobre tudo na perspectiva pandêmica, toda conversa acabava abordando as notícias nos jornais, as normas de segurança. Como é dito no livro, o "Oi, tudo bem?" se transformou em "Qual vacina tomou?". Nessa ótica, o livro é interessante.
Alguns assuntos abordados no miolo do livro já não foram tão interessantes assim, e quebraram um ritmo narrativo muito bom. Alguns pensamentos das personagens soavam um tanto deslocados, apenas como prerrogativa para o autor apresentar um ponto de vista. Porém, ainda assim, achei bastante significativo que um autor tão consolidado, consumido e repercutido como o King teve coragem de apresentar seus pontos de vista de uma forma tão clara, sem medo da onda reacionária que engole a cultura e a sociedade.
O suspense do livro é muito bem feito, e a ideia de intercalar passado e presente foi absolutamente bem pensada. Os antagonistas desse livro, que representam essa classe média ignorante e alienada estadunidense, são genialmente construídos. Confesso que o ritmo do livro é incerto em alguns momentos e a escrita do King falha em alguns pontos. As sub-tramas são interessantes, principalmente a de Barbara Robinson, e a forma como tudo colabora para a narrativa principal e se junta no final é inteligente. Porém, em alguns momentos, pareceu que a investigação ficou em segundo plano e conclusões aparentemente precipitadas foram dadas como certas e guiaram os caminhos da Holly (nesse sentido, a trilogia Bill Hodges e Outsider continuam melhores), mas o conjunto da obra, ainda assim, é fenomenal.
É impossível não amar a Holly Gibney!