Ruan Ricardo Bernardo Teodoro 10/08/2023
Um Filho da Graça
Nesta biografia, Giovanni Papini se propõe a contar a história da alma do santo africano. Além de sua vida corporal, Agostinho teve uma grande e envolvente vida espiritual, na qual passou por muitas provações e libertações até se encontrar com Deus.
Nascido em 354 d.C, na cidade de Tagaste no norte da África, Agostinho tinha por mãe Mônica, uma cristã fervorosa, e por pai Patrício, um pagão que foi batizado apenas na hora da morte. Apesar da criação cristã que lhe deu sua mãe, o santo apenas foi ser batizado em 387, aos 33 anos de idade, isso porque, nos anos anteriores, se envolveu com diferentes seitas e crenças não cristãs.
No início, Agostinho não se importava com a busca da sabedoria, isso mudou, no entanto, quando da sua leitura do "Hortênsio" do orador romano Cícero. Após isso, se tornando, em um primeiro momento, maniqueísta, ele errava pelos caminhos labirínticos da seita de Manes, até que, do academicismo cético ao neoplatonismo, finalmente se encontrou cristão na Igreja de Cristo.
Nesses anos em que passou sob o véu do engano, muito sua alma se afligia por permanecer afastado da Verdade, e em nenhuma corrente filosófica encontrava repouso. Como descreve Papini: a crise de Agostinho não foi somente filosófica, mas também sentimental, moral, e mística, as doutrinas que acreditara coexistiam dentro dele, e faziam de Agostinho um campo de batalha (p. 122).
E o maior adversário contra o qual pelejava era sua carne. Desde jovem, Agostinho mantinha uma concubina a fim de saciar seu desejo sexual, com a qual teve um filho chamado Adeodato. Nas batalhas em que travava contra a carne, muitas vezes chorou por não conseguir se desvencilhar dela. Entretanto, essas lágrimas já prenunciavam a sua vitória, pois "o passo decisivo de seu retorno a Deus será assinalado por uma torrente de lágrimas [...] Essas gotas de água salgada o salvam: são um batismo antecipado que o tornará digno do verdadeiro batismo" (p. 73).
Após sua conversão, Agostinho passou a ter uma vida cristã voltada para a oração, investigação filosófico-teológica e orientação daqueles que o procuravam. Posteriormente, foi chamado para auxiliar o bispo de Hipona, cidade na qual, enfim, se tornou bispo e viveu o resto de sua vida. Nesses mais de 70 anos de vivência, principalmente depois de sua conversão, a pena de Agostinho e seu espírito apologético não descansaram. Muito prolífica foi a obra deste Doutor da Igreja, o qual legou obras fundamentais para o Cristianismo de todos os séculos, tais quais suas Confissões, seu livro sobre a Graça e sobre a Cidade de Deus.
Por fim, vale dizer que não há ninguém que conheça a história de Agostinho e não se emocione com ela, uma história cheia de pecado e depravação, mas que, miraculosamente, encontra a redenção. Agostinho, antes de se converter, acreditava que por força própria não poderia renunciar à sua luxúria e, não surpreendentemente para nós, ele estava certo. Foi só quando ele se deixou levar pela Graça de Deus que ele passou a trilhar o caminho estreito. Pois a Graça lhe permitiu fazer o bem que tanto seu coração ansiava. Friso, tudo isso aconteceu por conta da Graça de Deus, pois Agostinho, além de ser de Mônica, também é filho da Graça.
De fato, "reconhecemos em Agostinho o cunho da verdadeira santidade, que é não se considerar santo." (p. 235)