spoiler visualizarLory 03/08/2024
"Nossa existência é feita de vários ciclos"
Imagina que, na véspera do seu aniversário, você está voltando pra casa de bicicleta depois de um rolê, e, quando está quase chegando, alguém sai das sombras e te dá dois tiros, do nada.
Essa é a história da primeira vez que Hugo morreu.
O protagonista de "23 Minutos" morreu no instante em que a segunda bala atingiu sua cabeça. Porém algo inusitado aconteceu: pouco menos de meia hora depois do ocorrido, ele acorda sem nenhum arranhão, somente envolto de seu próprio sangue, ao lado da arma que o matara.
Ele segue seu caminho, ainda bastante assustado com o que acabara de vivenciar, mas sem contar pra ninguém a respeito. Teria sido um sonho? Uma alucinação? Será que ele caiu, bateu a cabeça e imaginou tudo aquilo?
No dia seguinte, na mesma hora, da mesma forma e pelo mesmo período, Hugo tem um novo encontro com a morte ? só que dessa vez ele está sozinho em seu quarto, sem ninguém por perto, mas sente o primeiro tiro no peito e o segundo, na testa, morrendo por 23 minutos, como na primeira vez.
Todos os dias, esse encontro acontece. Não importa o local, ou o que ele esteja fazendo na hora.
E agora? Como se livrar dessa maldição?
O livro de Waldson Souza tem seu berço nas estatísticas da mortalidade de jovens negros no nosso país, e aborda paralelamente, temas como morte, racismo, homofobia, amizade, lealdade e luto, com muitas referências de um Brasil no início da década passada: os personagens ainda usam Orkut e MSN, escutam Glamurosa na balada e jogam fliperama no fim de semana.
Li muitas críticas sobre os temas importantes do livro terem sido abordados muito superficialmente, porém não vejo isso como um ponto negativo. O autor teve como influência e inspiração essas causas, mas acho que a ideia dele foi fazer um livro de ficção, focar na história do Hugo e não nos perrengues paralelos pelos quais ele passa.
Achei uma leitura leve, fluida e gostosinha, apesar do tema não muito convencional e das entrelinhas delicadas. Me emocionei em algumas partes e senti a dor dele, mesmo sem saber como é viver numa pele negra, gay, nos anos 2010's por aqui. Me identifiquei demais com o Hugo, especialmente quanto aos dilemas nos quais ele esbarra.
Recomendo demais para aqueles que querem ler algo leve, rápido, mas que ainda seja instigante. É uma leitura pra se devorar.
Nota: 4,5 ??