Missal para o Diabo

Missal para o Diabo Cruz e Sousa




Resenhas - Missal para o Diabo


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Bruno Oliveira 01/02/2024

NÃO SE ILUDA: ESTE LIVRO VAI TE DERRUBAR!!
Missal para o Diabo: contos e poemas assombrosos, do nosso Cruz e Sousa é uma pancada bem dada bem nas nossas fuças!! Os editores da guerreira Editora O Grifo pegaram produções textuais de outras obras do autor (Outras Evocações, Missal, Tropos e Fantasias, Últimos Sonetos, Faróis, Broquéis e d’O Livro Derradeiro) que versam sobre o coxo mais famoso que existe e outros seres infernais e juntaram tudinho em um livrinho pra lá de bem feito. Sério. Acabamento e temática casaram perfeitamente com o universo demoníaco invocado. O livro é dividido em dois, Ritos em Prosa e Versos Satânicos e, logo de cara, a gente leva um soco que é este tal de Consciência Tranquila. Cara, melhor nem dizer nada pra não estragar o murro que tu vai levar! Cruz e Sousa é um dos melhores escritores, poetas que temos. O cara tem uma capacidade absurda de nos fazer enxergar nitidamente o que estamos lendo e, nossa, é cada coisa, viu! Leitura para os fortes. Baudelaire e Poe são referências bem perceptíveis nos textos de Cruz e Sousa, contudo, o nosso artista traduziu de forma primorosa os temas, os simbolismos dos mestres em nossa terra cheia de escravocratas. Ah! Textos do Alê Garcia e do Alcebiades Diniz Miguel antes e depois do nocaute, hein!
Regis2020 01/02/2024minha estante
Adorei sua resenha, parabéns, amigo Bruno! ????


Bruno Oliveira 02/02/2024minha estante
Opa! Muito obrigado, amiga Regis! Como sempre, acarinhando corações. :)




Policaio 18/01/2024

O pai do simbolismo no Brasil
Missal para o Diabo é uma obra idealizada e publicada pela editora independente Grifo, onde é reunido contos e poemas subversivos de Cruz e Sousa, um importantíssimo autor negro brasileiro.

Cruz e Sousa trouxe ao Brasil a corrente literária chamada simbolismo, corrente criada pelo poeta francês Charles Baudelaire, cuja obra mais conhecida é "Flores do Mal", onde o pessimismo e uma busca transcendental são nítidos, para isso o uso de símbolos universais e "malignos" são utilizados.

No contexto em que Cruz e Sousa viveu a estética é muito interessante por se tratar de um Brasil República recente e da recente abolição da escravidão. Logo, o autor usa o simbolismo não apenas para ser subversivo e herético, mas também para denunciar os males que o povo negro sofreu, para expor as chagas da religião moralista cristã e os pecados dos "santos".
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Lau 29/01/2024

"Por que nunca ouvi falar em Cruz e Sousa antes?" me perguntei quando li a introdução dessa edição. Simplesmente o precursor de uma corrente literária no Brasil e como não sabia, nem me contaram nas escolas? Se ouvimos falar em outras figuras importantes contemporâneas a ele, até que tinham conexões diretas com ele, ao que parece, é estranho pensar que nunca deparei com seu nome alguma vez

Ainda bem que existem editoras permitindo que quem nunca teve contato antes, como eu, agora tenha. Deveria ser motivo de orgulho para o país ter como inaugurador do simbolismo aqui um autor como Cruz e Sousa, com uma história como a dele. Graças ao material que veio com o livro, sei que existem algumas homenagens a ele em Santa Catarina. Talvez fosse mais uma ignorância minha mesmo, tudo foi como uma novidade

Sobre a obra em si, para mim o ponto alto são os contos em prosa poética. Dá pra ver que eles têm muita similaridade com o tom usado pelo Poe, um dos meus autores favoritos, com a diferença de que ele faz uma crítica real ao regime escravista (enquanto nesse ponto, Poe é motivo de vergonha) e o contraste que geram alguns elementos do simbolismo clássico quando colocados em solo brasileiro. Eles são rápidos, rítmicos e bem fluidos de ler, e a temática sombria com seus frios gélidos acaba duelando com o calor tropical da nossa terra no processo de gerar a ambientação desses contos

Sobre a poesia, acabei pesquisando por outros trabalhos dele que não foram incluídos nesse compilado e acredito que poderia ter sido feita uma seleção melhor, com os poemas mais ácidos e com mais cara de autenticidade nacional que ele escreveu e são ótimos. Os que estão nessa edição não são ruins, claro, só fiquei com a impressão de já ter lido coisas praticamente idênticas de autores gringos
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Quaderna 14/09/2024

A Vertigem do Abismo em Missal para o Diabo
Ah, mas se me permites, Missal para o Diabo de Cruz e Sousa é um verdadeiro compêndio do abismo, uma descida vertiginosa à espiral do "sinistro incógnito". Neste volume, onde o faraute das sombras nos guia, o leitor é imerso nas brumas densas de cemitérios profanos e ritos arcanos, onde cada página é um "rodopelo de almas penadas", que entrelaça o humano ao espectro do indizível. A fusão do sacro e do profano, representada pelo diabo em preces devassas, ecoa como um abalo sísmico na mente do nauta arremessado ao vazio do cosmos.

Aqui, Cruz e Sousa, como o "faraute errante" entre o mundo dos vivos e o além, explora os confins da existência com uma pena embebida na escuridão. Cada verso é uma "subjunção da relápsia", um chamado ao insólito regalo de um inferno interior que não poupa o leitor. O gênio simbolista captura a essência do macabro e a traduz em imagens que, como "o torvo torvelim", arrastam nossa consciência para o vórtice da dúvida eterna, ao mesmo tempo que confrontam as angústias de uma sociedade escravocrata e racista.

E é nessa "oura da folia" que o leitor se perde, sentindo na pele o "horrífico desmaio" que brota de cada poema, de cada conto. O que resta, ao final, não é a compreensão racional, mas sim a vertigem sublime do mistério. O "Missal" de Cruz e Sousa é, sem dúvida, a mais completa oferenda ao penetral, onde o tudo e o nada se encontram, e o poeta, esse "tapuia-errante", nos faz farauticar pelo insondável.
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