alineaimee 14/11/2024Exílio nas palavras'A palavra é a terra prometida em que o exílio se cumpre em estadia.' Essa frase de Maurice Blanchot é uma das epígrafes de "Exílio: Paisagens" (2023), coletânea poética de Fernanda Fatureto. Junto ao escritor francês, estão ainda Natalia Ginzburg, Maria Gabriela Llansol e Émile Cioran, todos apontando a linguagem como um lugar, a pátria de quem escreve.
O que a poeta demonstrará com seus poemas é que essa habitação da escrita implica, mais que enraizamento, suspensão. Que encontrar pouso na palavra é tornar o próprio movimento moradia. Isso compreende a superação de fronteiras e a admissão do silêncio como parte fundamental da comunicação. Um não-idioma que revele aquilo que não se sabe: a 'alucinação do verbo'.
Neste sentido, os poemas de Fatureto passearão por cenas e experiências que transitam, variam e se consomem, tanto no exercício do viver quanto na formação da escritora.
(...) cada verso é uma conquista
ao alcance de muitos:
há um teatro no qual todos se despem.
Dividido em duas partes - 'Geografia turva' e 'Irrupção da linguagem', - o livro se apresenta em versos na primeira e em prosa na segunda, ressaltando o parentesco possível entre poesia e ensaio - duas veredas que se iniciam no assombro.
Exilada, a poeta percorre sentidos em atitude andarilha. Não se pode carregar palavras como fardos. A dádiva desse caminho é a perda, a apreensão temporária que possibilita descobertas, inclusive a do desvio de si mesma: 'Uma escritora nasce com as mãos vazias'.