Paulo Silas 19/12/2018Uma reunião de histórias de Kafka, cada qual com a sua particularidade, que oferece ao leitor um deleite na leitura. Nessa obra, que contém alguns bons trabalhos do autor, o que se tem são relatos de aflição, de observações pontuais, de crises, de particularidades, daquilo que perturba o espírito e redobra a atenção. Cada um dos contos mexe de maneira própria com aquele que os lê, ensejando em diferentes estados a também depender da percepção do leitor. O que te se tem, portanto, é Kafka em sua expressão literária particular.
Em "Primeira Dor", é narrada a história de um trapezista que vive o seu ofício e respira a sua arte. Nada importa que não a perfeição do seu atuar junto ao trapézio. "Uma Pequena Mulher" é um relato sobre uma moça, seus jeitos, sua forma de andar, agir e se portar, e toda a insatisfação que essa tem contra o narrador. "Um Artista da Fome", um primor do livro, traz toda a angústia da decadência de um jejuador que vê definhar aquilo pelo que possui primazia - já não querem mais ver o artista, o declínio do seu grande feito é visto pelo desinteresse do público, o espetáculo já não mais é de interesse. "Josefine, a Cantora ou o Povo dos Ratos" evidencia a força do canto da personagem que é destacada e enaltecida pelo narrador, relatando o seu apogeu e o apagar de uma chama. Finalmente, em "Na Colônia Penal", outra preciosidade de Kafka, tem-se a história de um explorador que acompanha um método peculiar de aplicação de pena numa colônia penal, conhecendo todo o processo de acusação, julgamento (suprimidos e reunidos num único ato) e sanção estabelecidos contra aqueles que não cumprem com os regramentos existentes.
As cinco histórias presentes no livro, quatro contos e o que pode ser considerado uma novela ("Na Colônia Penal"), permeiam estados de espírito humanos. Cada uma possui o próprio âmago de um algo humano que se faz presente na curta ou mais longa narrativa. Há o horror e o tom de estarrecimento em "Na Colônia Penal", assim como a angústia é percebida em "O Artista da Fome" e "Primeira Dor". Sentimentos e aflições presentes na individualidade de cada ser que podem ser observados nas poucas linhas que compõem cada uma das histórias dessa obra. Cabe ao leitor encontrá-las.