Vitória 26/12/2022
Depois de um ano exato, voltei pro Charles Dickens. Li um conto de natal ano passado e me apaixonei pela escrita desse homem, sem falar na narrativa que me conquistou logo de cara. Sabia que os romances longos do autor tinham uma proposta um tanto quanto diferente, mas estava disposta a tentar. Agora, depois de concluir o livro, só fiquei com mais medo de tentar outras histórias do autor, porque se o grande favorito dele foi essa bomba, eu nem sei o que esperar dos demais.
Pelo menos para mim, ficou claro que o livro foi originalmente escrito no formato de folhetim. Cada capítulo tem uma mini história, quase como se fosse o capítulo de uma série, e geralmente acaba no momento mais eletrizante pro leitor, o que faz com que a gente nunca queira largar o livro. A leitura também é muito fluida, a escrita do Dickens continua incrível e, ainda que esse seja um livro clássico, a linguagem é simples e as páginas passam com uma velocidade que a gente nem percebe.
O início me lembrou demais Jane Eyre, e talvez isso tenha criado em mim uma expectativa que não chegou nem perto de ser suprida. O David sofre demais na sua infância, principalmente depois que se torna um órfão, então foi impossível não traçar um paralelo entre as duas histórias. Nessa parte o autor sabe muito bem retratar o personagem como uma criança, a inocência dele, como ele vê sempre o melhor lado de todos à sua volta, a magia de uma viagem de férias com a Peggotty (essa foi de longe a minha parte preferida), a intensidade do primeiro amor, as primeiras amizades e a necessidade de carinho e atenção.
O meu problema começou depois que o David chegou na casa da tia, porque a partir daí a narrativa simplesmente deixou de ser interessante pra mim. Eu pouco me importava com os negócios do David, os dilemas dele estavam muito fora da minha realidade enquanto mulher, e confesso que comecei a sentir ódio do personagem pelo fato do mesmo não conseguir deixar a inocência da infância de lado (enquanto eu queria meter o soco em certas pessoas, ele pensava que resolveria tudo no abraço, e que todos o amavam). Não vou dizer que todas as tramas se tornaram chatas, até porque se isso tivesse acontecido eu nunca teria conseguido concluir um livro de mais de mil páginas em uma semana. A Agnes e a Emily foram persoangens que me ganharam desde a primeira página em que apareceram, e a partir daqui elas quase carregaram o livro nas costas. Inclusive, preciso dar um destaque pras personagens femininas desse livro. Peggotty, Emily, Agnes e a tia do David são mulheres incríveis, com pensamentos e ideias que eu jamais achei que iria ver em um livro clássico escrito por um homem. Se depois de tudo esse negócio ainda tá com uma nota alta, isso é graças a elas.
O Dick foi outro personagem que me ganhou de jeito. Eu amava as cenas com ele e a tia do David, e a forma como ela concordava e dava todo o apoio a um homem tido como louco me rendeu risadas e lágrimas, talvez eles tenham sido o casal que mais me conquistou aqui. O final é previsível, mas muito recompensador, principalmente quando a gente pensa no tanto de páginas que tivemos que passar pra chegar até ele. Não é nem de longe um dos meus clássicos favoritos, acho que poderiam ser cortadas no mínimo 200 páginas desse calhamaço, mas consigo reconhecer o valor que essa história tem. Acho que esse vai ser um dos livros que eu vou ter que reler daqui a alguns anos, quem sabe em outro momento eu consiga gostar de verdade do David.