Art 12/07/2022
A sexta extinção da humanidade
A obra é composta por um compilado de entrevistas e seminários realizados com o autor, sendo praticamente uma transcrição das falas de Chomsky em formato de livro. São abordados 3 temas principais, os quais são tratados como motivos que podem nos levar às ruínas: o enfraquecimento da democracia, os já presentes problemas ambientais que se agravam cada vez mais e a ameaça de guerras nucleares.
Com o primeiro, temos uma análise da ascensão da extrema direita no período em que a obra estava sendo construída (Viktor Orbán, Bolsonaro, Trump, etc) e suas políticas autoritárias e negacionistas que se relacionam em muito com o segundo tema principal, enquadrando a ignorância de tais líderes na questão ambiental que leva ao ceticismo sobre o assunto, mesmo com a realização de pesquisas por parte de organizações internacionais (exemplo da PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Inclusive, o autor ressalta importantes levantamentos que demonstram o quão esse pensamento está presente nos Estados Unidos. Cerca de 40% da população do país não acredita no aquecimento global ou em eventos climáticos, além da alta porcentagem de membros do partido republicado estadunidense que negam as consequências do aquecimento global ou, talvez até pior, reconhece que está acontecendo, mas acha que não deve fazer nada a respeito. Tais dados devastadores apenas refletem as políticas econômicas que ignoram os tratados de redução de gases estufa em pró da economia, a mais pura representação do capitalismo neoliberalismo e sua prática de colocar o interesse econômico e o lucro acima de qualquer coisa, mesmo que contribua para uma verdadeira extinção. Ao final da abordagem de ambos os pontos, temos trechos sobre o ativismo político e citações de Chomsky de como ele deve ser feito. A ideia é sempre prezar pela organização do movimento, com uma pauta bem definida e atacando a RAIZ do problema, atingindo e tentando mudar as condições dadas pela autoridade ou organização. Um exemplo dado por Chomsky é uma pesquisa (Arlie Hochschild) realizada em áreas pobres do estado de Louisiana onde Trump é majoritariamente apoiado, mesmo que ele e o partido republicado pouco faça política de assistência àqueles de menor renda. O objetivo é entender, de fato, o que leva tais pessoas a apoiarem o candidato de extrema direita.
"É fácil, digamos, em uma New Yorker, colocar um cartum sobre o Trump e sobre o quanto ele é ridículo, mas isso não é entender a questão. Talvez pareça ridículo, mas ele alcança pessoas por certos motivos, e nós deveríamos estar interessados nesses motivos. É como jovens muçulmanos no Ocidente se juntando aos movimentos de Jihad. Gritar com eles não é suficiente. Existem razões. Se você olhar para as circunstâncias de vida deles, poderá enxergá-las e então torna-se possível abordá-las"
Também é destacada a importância em se organizar para pressionar organizações sobre devidas demandas, mesmo que sejam pequenas, mas ainda úteis. Chomsky usa o exemplo de mães que se organizaram e conseguiram, por meio do diálogo com representantes locais, um semáforo para a rua que os filhos têm que atravessar quando vão à escola.
O terceiro ponto centraliza sua abordagem na política internacional e no processo histórico de proliferação mundial de armas nucleares e o que poderia ter sido feito por parte das grandes potências (principalmente se tratando dos EUA) para impedir tal situação por meio do exercício da diplomacia. O risco de conflitos envolvendo a OTAN também são apontados (e realmente eclodiram em 2022), principalmente como consequência da sua expansão e de suas políticas de "segurança nacional" (bem contraditórias), além, é claro, das práticas imperialistas dos Estados Unidos que, com o seu poder político e financeiro, consegue impor a submissão dos demais por meio de organizações internacionais financeiras que tem impacto mundial.
"Quando os EUA impõem sanções, sanções devastadoras e assassinas - e são o único país que pode fazer isso -, então todos têm que obedecer. A Europa pode não gostar das ações contra o Irã, mas todos os países têm que obedecer, devem "obedecer ao mestre"", ou então são expulsos do sistema financeiro internacional".
O livro é curto e, até por isso, não se aprofunda tanto em certos tópicos muito interessantes que acaba citando, mas a leitura ainda vale muito a pena pelos tópicos e reflexões principais.