underlou 10/01/2023
Como esse é um dos primeiros livros da carreira de Nélida Piñon, temos que dar um desconto em relação ao seu tom iniciante. Não que a escrita seja irregular, pelo contrário, em alguns momentos suas linhas são retumbantes, mas, no geral, suas narrativas carecem de certa amplificação de forma e conteúdo.
Alguma contos são muito impressionantes, como 'Finisterre' e 'A Sereia Ullisses'. Já outros são desconfortavelmente ruins, como 'Tarzan e Beijinho' e 'O jardim das Oliveiras' - esse último tão arrastado que se o leitor não tiver cuidado dedicará dias para finalizá-lo. No caso dos bons contos, a linguagem precisa ajuda a autora a encontrar um lugar confortável para o leitor. Entretanto, é preciso esclarecer que as histórias em si não são sólidas a ponto de se tornarem memoráveis.
Se observarmos contos como 'Disse um Campônio a sua Amada' e 'O Revólver da Paixão', podemos nos ater ao aspecto poético sobrepujante, mas não encontraremos uma narrativa bem construída; há sim muito floreio de linguagem, mas pouco arrebato de imagens.
Do ponto de vista temático, Nélida no geral abusa de visões geográficas das coisas, mas parece haver um fio linear oceanográfico que poderia ser mais bem explorado. Enfim, talvez o grande entrave seja mesmo a profusão de personagens em alguns contos e a falta de clareza sobre o papel de cada um deles na maioria dos textos.
Júlio Cortázar, o grande contista, pontuava que um conto, com toda sua brevidade, precisa ganhar de nocaute; no caso desse volume de contos, diríamos que aqui Nélida é quem foi nocauteada pelo gênero.