Paulo de Tarso Lira 26/06/2023
"MAS sem REGRAS a GENTE não tem NADA!"
Na faculdade, ouvi a frase dita por Rousseau:
?O ser humano nasce bom, a sociedade o corrompe?.
Então, eis que surge uma dúvida: Quem foi o primeiro a corromper a sociedade?
Na bíblia, especificamente, o pentateuco, foi escrito para contar a história do povo de Israel, mostrando sua trajetória e as providências de Deus para retirá-lo do Egito. Nos últimos dois livros do Pentateuco, há preocupação em reiterar as leis instituídas, afim de ser respeitada, ensinada e obedecida, diferenciando aquele povo, dos outros povos que estavam ao redor de Israel, eles eram escravos recém libertos da cultura egípcia, então, não deveriam esquecer da sua condição de liberdade e, principalmente, a devoção a quem os libertou, para que não sucumbissem aos seus instintos, ou, como é chamado pela tradição. Pecado.
No livro senhor das moscas, o autor sabiamente conta a história de crianças de 6 a 12 anos que estão naufragados em uma ilha deserta, na minha opinião, esse é o triunfo da narrativa, pois as atitudes, reações, medos, dúvidas e perguntas retóricas dos personagens são eivadas de sinceridade e inocência, servindo a história, para causar impacto nos momentos de violência física, psicológica e trazer uma angústia ao leitor diante a presença do mal.
Os Garotos tentam se organizar como sociedade, entretanto, eles têm problemas para obedecer regras simples, exemplo: manter a fogueira acesa, assim haveria chance de sinalizar o resgate e só falar quando estiver em posse da concha.
Há tensão entre os garotos, isso é bem trabalhado, a escrita apressada, denota uma urgência nas atitudes de cada personagem, sendo assim, sutilmente vamos descobrindo sentimentos de inveja, ciúmes e a vontade de estar no poder.
Nos primeiros capítulos, William Golding, de tempos em tempos, lembra o leitor que estamos falando de crianças, da inocência delas e suas esperanças surreais, causando o peso dramático e realista da história.
Esses trechos resume bem a áurea que caminha com o leitor.
?Meu pai é da marinha... Contou que a rainha tem uma sala cheia de mapas, e que todas as ilhas do mundo aparecem neles. Então, a rainha tem um mapa dessa ilha?.
?Talvez, disse ele, hesitante, talvez exista um monstro... Até você, Simon? Você acredita mesmo nisso?"
Gostei dos personagens Ralph, Porquinho e Simon. E quando fui pesquisar sobre o livro, descobri que o nome do título faz referência a Belzebu, o demônio no cristianismo, no qual é traduzido por senhor das moscas, isso faz total sentido, pois o mal surge como uma áurea ?espiritual?, no caso de Simon, provocado e permanente, que em algum momento da narrativa é personificado em uma cabeça de javali espetado numa lança rodeado de moscas.
Assim como em Israel, Leis só atestam a nossa capacidade de maldade, elas existem porque há em nós anseios egoístas e quando não são controlados por algo externo, já estamos fadados ao fracasso individual e social.
Então, se há uma bondade inerente ao nascimento ou inocência de alguém, quem foi o primeiro a corromper a sociedade dos garotos naquela ilha?