Fernanda.Caputo 12/02/2024
Não fluiu para mim
Segundo livro do Projeto Dostoiévski, ?O Duplo? foi publicado em 1846, duas semanas após ?Gente Pobre?. Enquanto o primeiro livro do autor obteve grande sucesso desde logo, ?O Duplo?, por sua vez, recebeu muitas críticas e não foi tão bem aceito. Dostoiévski, no entanto, afirmou que ?nunca dei uma contribuição mais séria para a literatura do que essa?.
Confesso que, embora eu tenha compreendido o tema da obra, achei o livro truncado, a leitura não fluiu e foi sofrido terminar. É o primeiro livro que devo admitir que não gostei.
O livro conta a história de um conselheiro titular, um funcionário público de baixo escalão, chamado Yákov Pietróvitch Golyádkin cuja descrição é bem peculiar ?embora sua figura morrinhenta, acanhada e bastante calva fosse exatamente daquele tipo insignificante que à primeira vista não chamaria a atenção exclusiva de ninguém, seu dono parecia gozar de plena satisfação com o que acabara de ver (no espelho)?.
O livro se inicia com sua preparação para ir a um jantar na casa de Olsufi Ivánovitch, que já foi seu benfeitor, embora não fique bem explicada a relação entre eles. Ele faz um desvio e para no consultório de seu médico, Crestian Ivánovitch. Esta primeira parada no médico, já nos dá um indício de que há algum problema com Golyádkin. Depois ele ruma para o jantar, para o qual não fora convidado, e após a humilhação de ser escorraçado dali, acaba por encontrar seu duplo. É uma figura idêntica a si, com o mesmo nome, a mesma origem, o mesmo trabalho.
A história se desenrola em um fluxo complexo. Recebi a dica de ler pensando na mente de uma pessoa que está enlouquecendo e, de fato, é o que acontece.
Ao ler o livro não se sabe se Golyádkin é bipolar, sofre de algum distúrbio de dupla personalidade, se existe um gêmeo do mal, se tudo aquilo está dentro da cabeça dele.
No posfácio escrito pelo tradutor, Paulo Bezerra, ele diz que a tradução deste livro foi uma das mais difíceis, para conseguir transmitir o sentimento e o tom do livro. Neste livro Dostoiévski trata dos temas da duplicidade e do desdobramento da personalidade que vão aparecer em obras posteriores, como Crime e Castigo. Ademais, o livro tem conotações autobiográficas, eis que o autor sofria de uma doença similar à epilepsia e diversas vezes aludiu à duplicidade de sua própria personalidade.