gabriel 27/01/2023
Ótima estreia do Machado contista
Na verdade não li nesta edição, li através do segundo volume de "Machado de Assis - Obra Completa", da Nova Aguilar, então toda a minha opinião abaixo refere-se ao conteúdo e não aos detalhes editoriais.
Apesar de sempre me doer não dar a nota máxima para qualquer obra de Machado de Assis ("doer" não é exatamente a expressão correta, mas digamos), me vejo obrigado a diminuir a nota por coerência com as demais notas que dou aqui no Skoob. E o critério é apenas um: alguns contos não me agradaram muito (mas me agradaram), e só.
Aqui temos contos publicados em jornais da época, e pelo menos uns dois ou três contos não disseram a que veio. Mas Machado tem aquela característica dos grandes escritores (e dos artistas de um modo geral), que é mesmo nas obras mais medianas, ter sempre um toque a mais, algo especial. E isso se mostra em todos os contos, seja em alguma observação do narrador, algum detalhe do humor, da ironia... mesmo quando Machado não comparece inteiro, é Machado.
Mas temos aqui ainda um gênio em formação, um jovem escritor publicando seus contos na sua época, e o que eu sinto é que muitos deles não tem grande pretensão, sendo leituras leves para acompanhar o dia a dia daquela sociedade, com alvo na classe média carioca. Sinto, também, que o Machado contista não é tão grande quanto o Machado romancista, mas ainda é cedo para dizer.
Contos que se destacam: para mim, "O Segredo de Augusta" foi disparado o melhor, um excelente conto com um toque de mistério e bons personagens. Machado e seu domínio narrativo e olhar habilidoso vai conduzindo o leitor, desviando o olhar deste, mostrando sem mesmo mostrar, enfim, só lendo para entender. O narrador machadiano, como de hábito, nos engana o tempo todo (e adoramos).
"Miss Dollar" se destaca pela sua introdução muito bem humorada, refletindo o título inusitado. Aliás, fica claro como as referências da época do Machado se repetem na nossa. Pouca coisa mudou. Muita coisa mudou! O Brasil de Machado é, em essência, o mesmo (?).
Aliás, essa é para mim um grande característica do Machado contista, a habilidade com que ele puxa o leitor para dentro do texto. Dois ou três parágrafos e fim de jogo, já prendeu a leitura. É sempre impressionante ver o poder de síntese e de atração de sua escrita, impecável.
O conto do qual menos gostei foi "Frei Simão", ele começou muito bem, mas é muito curto e meio que acabou do nada. Não que seja um conto ruim, mas parece (numa leitura inicial) muito simples e estruturalmente sem surpresas.
Não creio que, para o leitor que queira explorar os contos de Machado, valha a pena pegar logo este. Talvez seja o caso de pegar alguma coletânea dos melhores contos, mas aí há uma grande desvantagem, começou do melhor, depois é ladeira abaixo, fora que são sempre seleções bastante subjetivas.
Aqui você começa na ordem cronológica (primeiro livro de contos e tal), se há o desejo de explorar extensamente a obra de contos do autor, vale a pena, mas no geral, coletâneas ou outros livros/seleções mais maduras, podem agradar mais ao leitor. Este aqui também vai agradar, mas um pouco menos.