helmalu 31/01/2017Melhor do que eu esperavaNesse romance da "Rainha do crime" não temos Poirot nem Miss Marple teje dito. O protagonista, Luke Fitwilliam, é um policial aposentado que está voltando para Londres, ansioso por rever os amigos e aproveitar o merecido descanso. Só que, no trem, ele senta-se perto de uma velhinha que lhe conta uma história curiosa; Ela afirma haver um serial killer em sua pacata cidade e está decidida a ir à Scotland Yard para que os detetives de lá, supostamente mais eficientes que os da sua cidade, investiguem o caso. E o que é mais curioso: ela afirma saber quem será a próxima vítima e deixa a suspeita de que sabe quem é o assassino, uma pessoa de quem ninguém desconfia e que, por isso, ninguém acreditaria nela!
É claro que Luke pensa que a velhinha está fantasiando e não dá importância para a narrativa duvidosa da senhora. Até que, no dia seguinte, ele lê o jornal e descobre que ela foi atropelada e que o motorista fugiu da cena do crime! Tudo isso acaba por deixar uma pulga enorme atrás da orelha dele e o faz ir até à cidadezinha, Wychwood-under-Ashe. Ele vai sob o disfarce de escritor e primo de Bridget Conway, prima de um amigo, para poder investigar o caso.
"Ela tinha uns 28 ou 29 anos, ele achava. E ela era inteligente. E era uma daquelas pessoas sobre as quais nada se pode descobrir, a não ser que assim queiram..." (CHRISTIE, 2009, p. 33)
A cidadezinha, como toda cidade pequena, fica toda sabendo da chegada do forasteiro, que é assunto de muitas conversas e perguntas. E Luke fica com receio de não conseguir manter o disfarce. Para piorar, Bridget acaba por "enfeitiçar" Luke, porém, ela é casada com Gordon, um novo-rico insuportavelmente egocêntrico.
"- Meu caro! A sanidade é mortalmente aborrecida. É preciso ser ligeiramente pervertido. Ai, então, vê-se a vida sob um novo e arrebatador ângulo. (CHRISTIE, 2009, p. 99)
E no decorrer de sua investigação Luke fica cada vez mais confuso e a iminência de um novo assassinato faz com que o desespero tome conta dele. Ao passo que, também, ele descobre que muitos dos moradores possuem passados nebulosos e todas essas novas descobertas vão, aos poucos, apontando para um provável suspeito. E é nessa hora que eu digo "AH HA! DESCOBRI QUEM É O ASSASSINO! Não pode ser outro, descobri na metade do livro, descobri antes do Luke, eu sou demais. Agatha Christie não é de nada!" Só que, no final, eu levo aquele tapa na cara, quando me deparo com a verdade. Gente, que reviravolta! Que revelação! Sensacional. Fiquei o tempo todo confiante de que não podia ser outra pessoa e cega na minha convicção, assim como o Luke, e Agatha vai lá e mostra: estava bem na cara de vocês o tempo todo. Me senti uma presa fácil caindo nas artimanhas da narrativa desse romance da Rainha do crime e finalmente, depois da leitura enfadonha de Um corpo na biblioteca, fiz as pazes com Agatha Christie!
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Esse foi um livro que eu devorei. Li de um dia para o outro, de tão fácil a escrita e envolvente a trama. Além disso, o romance impossível entre Bridget e Luke me deixou bem satisfeita, pois o final dele passa longe do clichê, é, ouso dizer, bem original. Além disso, há alguns elementos na história, como o fato de a cidade ter alguns moradores envolvidos com magia negra e conflitos de rivalidade que dão um aspecto bem sinistro ao ambiente e à trama que Agatha tece. Sou suspeita para falar dos livros dela, mas reforço, agora, a ideia de que comecei pelo livro errado e que tomei a decisão acertada em insistir na leitura dos livros da autora. Claro que não é meu gênero favorito, mas reconheço que, pelo menos esse, é muito bem escrito e funciona como uma leitura de entretenimento adorável.
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