Fabio 18/01/2024
"A Sinfonia Dramática do Cotidiano"
Considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, o gênio russo Liev Tolstoi, nos entrega em "A Sonata a Kreutzer", uma das obras, mais controversas e debatidas da história da literatura mundial, que chegou a ser proibida em grande parte da Europa no início do século XX e posteriormente nos Estados Unidos, quando causou indignação na sociedade americana.
Tolstoi, sob o influxo da famosa peça homônima de Beethoven, durante uma festa na primavera de 1888, resolveu compor um texto em forma de novela para retratar os temas da composiçãob e a conduzir o leitor a uma intensa reflexão sobre a profundidade das relações dentro de um matrimonio, e de forma direta, narra o extremo sexíssimo de uma parcela da sociedade russa e acaba por descortinar ao mundo as desigualdades entre os e sexos e a infidelidade conjugal, sem implicidades.
Publicado em 1891, "A Sonata Kreutzer", Tolstoi nos conta os dramas e aflições de Pózdnichev, um homem que, em um ataque de fúria e ciúmes, cometeu um crime brutale e acaba narrando sua história e motivações a um estranho, durante uma longa viagem de trem no pais vermelho.
Narrado em primeira pessoa, em forma de "confissão", Tolstoi, nos concede um texto, sóbrio, claro e sem alegorias, e num estilo insinuante, quase dissoluto, choca e questiona sobre as convenções sociais da época e imprime ao texto de forma marcante e sincera, a conduta rígida do moralismo, que sempre fora marca registrada do autor.
Trata-se de uma obra intimista, de extrema qualidade literária e estética, em que Tolstoi de forma bem articulada, tece um pequeno tratado sobre a moral, a libertinagem e a devassidão, e ao narrar alguns dos pensamentos quase doentios do protagonista, nos apresenta a visão deturpada de um indivíduo que, perdeu a razão, e nos obriga a enxergar nele, aquilo que parece mais odioso e repulsivo em nosso cotidiano. Tolstoi, reafirma seus conceitos doutrinários em "A Sonata a Kreutzer", e, mesmo sendo contra a panfletagem por meio da arte, imprimiu ao texto, alguns pontos que são divergentes de seus "dogmas", mas que, indubitavelmente, agregaram ao espólio do mestre russo.
Em suma, "A Sonata a Kreutzer", é um livro impactante, repleto de ensinamentos, que nos repulsa e fascina ao mesmo tempo, e desperta em nós sentimentos contraditórios, quando nos identificamos ora com o algoz, ora com a vítima, mas, que, na maioria das vezes nos enxergamos mesmo, somente como interlocutores de uma conversa intima e confessionária, e nos declaramos imparciais, mas é quando, deixamos de lado, as máscaras, que as normas e convenções sociais nos obrigam, e nos colocamos no lugar do outro, é que enxergamos realmente o que há dentro de nós; tanto luz, quanto trevas, e que, somos o resultado daquilo que impera em nós.