Ana Lícia 10/11/2021A Sonata a Kreutzer, de Lev Tolstói, publicado em 1891. É uma novela incômoda, atemporal em alguns quesitos, infelizmente, e viciante.
Tenho que iniciar esta postagem falando que simplesmente adorei este livro. Faz um tempo que não me deparo com um personagem tão transtornado e odiável como Pózdnichev. Mas que sabe dominar uma narrativa ( Oi, Dom Casmurro, por a caso esse Russo aqui é seu amigo? Ele é doido de pedra).
Com pensamentos extremamente desconfortáveis e até mesmo repugnantes, iremos acompanhar a história de Pózdnichev, um homem que matou sua mulher por ciúmes. Iremos ouvir toda sua trajetória, seu noivado, seu casamento, sua lua de mel e os dias de tormentos em sua relação conjugal, até chegar ao ápice da loucura.
Pózdnichev têm convicções, ideias inaceitáveis, mas também consegue ver a podridão humana, mesmo com seus argumentos extremistas, joga algumas verdades na nossa cara, como o fato da mulher ser descartável e desrespeitada o tempo todo, em qualquer espaço. Como ainda somos vistas como um simples pedaço de carne. Outro ponto interessante, que assim como Balzac em "A Mulher de Trinta Anos" também traz uma reflexão do casamento como uma forma de prostituição formalizada, legalizada.
Uma novela curta e forte. Com vários assuntos do cotidiano: amor, casamento, o papel da mulher, do homem, traição, sexo, ciúmes, maternidade/paternidade e família.
Com sua visão pessimista e doentia, nosso narrador nos mostra sua percepção de mundo, e não é nada bonito.
Sua paranoia não têm limites, e fica bem claro em tudo que ele fala sobre sua esposa. (Pelo menos para mim, ficou óbvio que estava tudo na cabeça dele).
Faz tempo que não fico com um frio na barriga e ansiosa nos últimos capítulos de um livro, o que Tolstói faz nesta narrativa é sensacional. Ah! Aproveitem e ouçam a sonata a Kreutzer, de Beethoven. Casa perfeitamente com a trama. Toda adrelina, a velocidade dos último capítulos. Sentimos na sonata de Beethoven. É como se a novela tivesse o mesmo ritmo.
Mais um livrinho INCRÍVEL de Lev Tolstói. Eu sei que muitos não gostam deste livro e eu entendo, mas meus livros favoritos tem personagens horríveis, como Lolita, Laranja Mecânica, O Morro dos ventos uivantes, etc. Então personagens "maus" não são um problema para mim quando são bem colocados no enredo. E, claro que você não precisa, e nem deve concordar com personagens mal intencionados, perversos né?
Enfim, foi uma ótima leitura, e, desejo que com o tempo desapareça do mundo pensamentos como do protagonista. Que são extremamente nocivos, principalmente para as mulheres. Mas que ainda vemos resquícios ainda hoje, por isso a atemporalidade da obra em algumas questões, infelizmente.