Ana Claudia 04/06/2023Aos seis anos de idade, Antoinette foi estuprada pelo seu pai pela primeira vez atraída por um convite para passear de carro. Muito assustada com o que aconteceu e sem entender o porque seu PRÓPRIO pai fez isso, ela foi orientada a não contar nada para a mamãe, que seria o ?nosso segredo?. Essa prática perdurou por longos 8 anos, sempre seguido com o mesmo pedido de não contar nada. Por 8 anos, ela era violentada quase que diariamente além de ser agredida fisicamente por ele. Durante esse tempo, Antoinette tinha o sonho de ter amigas na escola, mas sua mãe a vestia tão mal que era rejeitada pelas outras crianças.
Paddy, seu pai, era um homem bonito, chamava a atenção, mas os problemas com vício de bebidas e de jogos onde perdia o pouco dinheiro que tinha, o transformava em um homem agressivo, abusador, opressivo. Da figura de um pai jovial e amigável, Paddy se transformava em um homem nojento, assustador, medonho. Seu amor, carinho e atenção eram exclusivos para a esposa.
A mãe foi uma pessoa que negligenciou a filha de todas as formas possíveis. Nunca se preocupou com os olhares assustados, o comportamento cada vez mais retraído e com as atitudes que Antoinette dava pedindo ajuda, pedindo acolhimento, amor e proteção . Sua mãe só pensava em agradar o marido. Desde o dia em que ocorreu o convite para dar uma volta de carro, ela sabia que a filha era abusada e NUNCA FEZ NADA PARA IMPEDIR.
Os abusos sexuais só terminaram quando Antoinette engravidou aos 14 anos. Com 3 meses de gestação, o pai contou a esposa que a filha estava grávida de um garoto inglês que conheceu. A mãe acreditou e a colocou para fora de casa. Antoinette abortou a criança a pedido da mãe. Sozinha, foi para o hospital, sozinha saiu com uma pequena mala. Dias depois, um forte sangramento quase a matou. Foi parar no hospital, o mais longe de sua casa a pedido da mãe, e sozinha ficou lá por 3 meses. Quando o martírio pelo qual Antoinette passou todos esses anos foi descoberto pela família e comunidade, TODOS viraram as costas para ela. Se antes ela se sentia rejeitada e não amada, agora a dor da rejeição era ainda maior.
Termino essa leitura completamente estarrecida e devastada com tudo o que essa criança passou desde os 6 anos. A omissão, o abandono, a rejeição, o desprezo que Toni sofreu dilacerou meu coração. A cada página lida, eu desacreditava na humanidade, desacreditava no homem e na figura do pai. Ainda que essa vida sofrida e humilhante que Toni viveu tenha sido na década de 50, ainda hoje isso acontece com crianças e adolescentes.
Ao ler o relato de vida da autora, muitos são os momentos em que o leitor chora de ódio, de tristeza, de compaixão e dá aquela vontade absurda de acolher a Antoinette criança, de abraçá-la, de dar amor, atenção, carinho. Termino essa leitura com o coração pesado de tristeza e pensando COMO Toni passou por TUDO ISSO SOZINHA. ??