natália rocha 01/05/2021Mais um livro escrito por Huxley que me deixou completamente extasiada. São tantos pontos que julguei interessantes que tenho dificuldade de organizar as ideias e colocá-las nos papel.
O enredo do livro tem início no dia 30 de janeiro de 1948 – dia em que Gandhi foi assassinado. Não é por acaso que Huxley escolhe essa data: o autor já começa o livro engrenando discussões sobre política e sobre a índole humana. Como pretexto, ele usa a conversa de dois amigos cineastas que andam pelos estúdios de cinema.
Nessas andanças, a dupla quase é atropelada por um caminhão que levava roteiros cinematográficos rejeitados para a incineração, o que resultou em vários desses manuscritos derrubados pelo caminho. Curiosos, eles começam a lê-los e deparam-se com um intitulado ‘’O macaco e a essência’’, escrito por William Tallis. Esse roteiro particularmente os interessou muito, e a dupla resolve fazer uma viagem – infrutífera – em busca do autor.
Assim começa e termina a primeira parte do livro. Parece algo banal, mas Huxley conseguiu encaixar tantas referências – artes de Goya, Gandhi, elementos bíblicos – que fizeram com que essas poucas páginas se tornassem interessantíssimas.
A segunda parte do livro é o enredo do roteiro de O macaco e a essência sendo contado para nós, leitores. Utilizando termos do cinema sobre enquadramento e movimentos de câmera – como travelling, plano médio, plano americano – e com o auxílio de um narrador estilo filme antigo, Huxley nos conta a história do nosso mundo no ano de 2108, pós 3º Guerra Mundial, completamente devastado por armas nucleares.
Alguns milhões de seres humanos sobreviveram e sofreram por décadas os efeitos das radiações que por ali pairavam – o que resultou em uma espécie humana com mutações, que Huxley chama de babuínos. Esses seres vivem em uma sociedade caótica e crente em Belial – sim, pois é.
Um lugar do mundo não sofreu as consequências desse evento catastrófico – devido à distância e a pouca relevância geopolítica no ocorrido – que foi a Nova Zelândia. Assim, um grupo de cientistas resolve partir rumo aos EUA para uma expedição de redescoberta do mundo, deparando-se com o show de horrores mediados pelos ‘’sobreviventes da consumação do progresso tecnológico’’.
O trecho acima deixa clara a crítica do autor presente nesse livro: o progresso tecnológico desenfreado e egoísta, mediado pela ganância, sem considerar o meio ambiente e a humanidade.
É um livro de poucas páginas, mas de uma genialidade difícil de colocar em palavras.