Jorge 10/08/2023
Muito Preciso
Este foi outro dos livros que peguei da minha mãe. Ela o recebeu na graduação de História. Eu diria que a obra cumpre muito bem aquilo que se propõe a fazer. Em geral é compreensível, com exceção de alguns trechos a respeito de inflação e detalhes de industrialização. Como leigo em economia, fui capaz de extrair valiosos conhecimentos através desta leitura, até porque eu estou inserido nessa realidade. Isto torna tudo ainda mais importante.
Os primeiros capítulos nos apresentam um panorama histórico geral dos países latino-americanos. O autor descreve como se desenvolveu a economia colonialista na região durante os séculos de ocupação europeia. Esta se baseou na exportação de matérias-primas. A América Espanhola explorava mão-de-obra indígena e focava principalmente na extração de minérios, esta sendo uma iniciativa majoritariamente privada; já o Brasil, tinha uma economia fundamentada na plantação de cana, trabalhada por mão-de-obra escrava importada da África, a qual era subsidiada pelo estado. A exploração no Brasil começou a ter mais influência do setor privado a partir do Séc. XVIII, quando foi descoberto o ouro. Esta inversão dos setores acarretou em igual inversão na questão dos movimentos de independência, pois as terras espanholas logo se tornaram repúblicas, devido ao colapso do modelo econômico com a Metrópole, enquanto o Brasil se tornava império.
Essas características singulares da região impactaram no cenário de seu desenvolvimento no Séc. XX, identificado por uma dependência externa que se apresentou sob diversos aspectos. Essa dependência se evidenciou no modelo de exportação de matérias-primas. Ainda no começo do Séc. XX, pouco havia de industrialização no continente. Talvez os únicos países que tinham algum esboço desta fossem a Argentina e o Uruguai, portanto, a economia se sustentava das exportações, as quais eram extremamente suscetíveis às flutuações do mercado. Essas deficiências ficaram ainda mais evidentes na crise de '29, dando início a uma corrida industrial. Nos 30 anos seguintes, os países latino-americanos bateram recordes de industrialização, mas em face disso, outros problemas se apresentaram.
Em suma, até mesmo no processo de industrialização, os países latino-americanos ficaram à mercê dos países desenvolvidos, e precisaram de seu apoio, pois o sistema econômico local não se sustentava por si só, além da subsistência. O desenvolvimento de tecnologias de ponta requer importação de materiais de ponta, os quais não possuem condição para serem produzidos localmente, acarretando em um ciclo vicioso de complicações econômicas. Além disso, para sustentar a economia local também é necessário um forte investimento em infra-estrutura, impossibilitado em boa parte dos casos pelo arrecadamento insuficiente dos estados, obrigando-os a recorrer aos fundos internacionais de crédito.
Tudo isso influi em uma questão socio-econômica bastante expressiva. Os países da América Latina, embora inseridos em um contexto histórico semelhante, nutrem diferenças muito significativas de ordem econômica e social. Essas diferenças são o que nos tornam vizinhos tão próximos e distantes. As tentativas de acordos comerciais sempre foram pouco produtivas e o foco de comércio sempre manteve-se no exterior.
Uma leitura excelente, até mesmo para leigos, e para os conhecedores de economia, talvez indispensável.