Nayana 26/12/2022Ler com cautela?A desobediência civil? foi um livro muito bem recomendado e não decepcionou, só foi bem diferente do que eu esperava.
Não é um livro difícil de ler, mas minha maior observação é que deve ser lido com muita cautela. O fato do livro literalmente incentivar a desobediência precisa ser enquadrado na época em que foi escrito; realmente quando falamos de escravidão e direitos humanos, deveria haver uma consciência acima da lei.
?Não depende do tipo de papel que colocamos na urna uma vez por ano, mas do tipo de homem que cada um de nós coloca na rua ao sair de casa a cada manhã.?
Para contextualizar, é necessário dizer que Henry David Thoreau viveu de 1817-1862, e suas citações sobre a Lei do Escravo Fugitivo são realmente abomináveis. Para quem não conhece, essa lei era um mecanismo constitucional (porém nada justo) que facilitava a escravidão, segundo a qual pessoas negras escravizadas que tivessem entrado na Califórnia quando ainda era um território não tinham direito legal à liberdade. Exigia o envolvimento federal na captura de escravos fugitivos nos Estados do Norte. As leis foram elaboradas para proteger os proprietários de escravos do sul.
O autor argumenta sobre o dever moral de todo homem em primeiro ser humano e só depois súdito, em não só votar pela sua preferência pelo que acha correto, mas em lutar para mudar as leis (no caso, para que ela torne livres os homens!) e enquanto isso, não deixar ela moldar suas atitudes, realmente desobedecê-las.
Eu também acho que eu sentiria nojo de viver nesse tempo, mas ele era um extremista, não pagava impostos e era contra qualquer tipo de servilismo em relação ao Estado. Não é necessário ressaltar o quanto o autor foi importante para a luta e o quanto essas citações devem ser utilizadas com cuidado nos dias de hoje.
O livro também tem capítulos com discursos do autor sobre a escravidão em Massachusetts, sobre o prazer do autor em perambular e viver livre. Ele passava em média 4 h por dia perambulando, absolutamente livre de compromissos mundanos.
?Não há seres felizes no mundo senão aqueles que desfrutam livremente um vasto horizonte.?
Também temos o primeiro capítulo do seu livro ?Walden? (já está na minha lista!), sobre o tempo em que viveu nos bosques:
?Fui para os bosques porque desejava viver deliberadamente, encarar apenas os fatos essenciais da vida, e ver se não seria capaz de aprender o que ela tinha a me ensinar, para que, quando eu viesse a morrer, não descobrisse que tinha deixado de viver.?