Maria19421 26/01/2024
Pescar mata-me tal como me faz viver
Meu primeiro contato com Hemingway, com sua obra mais famosa, de imenso impacto no ideário popular global. Gostei da escrita do autor: enxuta, prática, objetiva; ele não despende fôlego com excesso de adjetivos, mas se atem à descrição das ações de Santiago e aos seus pensamentos durante as tarefas mecânicas que compõem sua vocação de pescador. Esse estilo de escrita gesta uma latente filosofia, que beira a poesia existencialista.
O enredo do livro é muito simples, assim como a narrativa. A grandiosidade dessa obra se encontra justamente na interpretação que cada leitor dará a ela, como cada um absorverá e processará a solidão do velho Santiago, sua luta incessante durante três dias para pescar um peixe imenso, bem como sua motivação e realização de tal proeza: terá essa ação sido seu grande feito em vida ou o último golpe que sentencia a sua batalha final?
O que Santiago buscava alcançar por meio dessa pesca: recuperar o prestígio e admiração que eu dia teve em vida, ou simplesmente cumprir com o que ele descreve como sua "natureza", sua sina: viver para pescar e pescar para viver. É belo ler como o protagonista nutre uma relação panteísta com a natureza: as estrelas, o mar, os peixes são seus amigos e irmãos, então por que, enfim, ele os infligi tamanho sofrimento? Por que ele continua a infligir sofrimento sobre seu próprio corpo, por meio da pesca? A atividade que o aproxima da natureza que tanto ama o faz mata-la e matar-se a si próprio.
À primeira vista, esse é um livro simples, mas deixando-se levar ao sabor das ondas, percebe-se que as questões nele tratadas são de uma universalidade assustadora. Hemingway me deixou com um gostinho de quero mais.