Fernanda631 05/01/2023
Clube da Luta
Clube da Luta foi escrito por Chuck Palahniuk e foi publicado em 17 de agosto de 1996.
“A primeira regra do Clube da Luta é que você não fala sobre o Clube da Luta“.
“A segunda regra do clube da luta é que você não fala sobre o clube da luta”.
Clube da Luta é um livro que impactou gerações e se tornou um ícone de referência. Existem várias formas de lê-lo e a cada nova releitura você encontrará mais dicas e pistas sobre os acontecimentos, bem como ficará mais claro os pontos de riqueza que Chuck colocou na obra.
A obra é cheia de questionamentos sobre cultura do consumo, meios de produção, existencialismo, entre outros temas delicados e importantes.
Clube da luta narra a história de um jovem funcionário que descobre que sua frustração e ira não podem ser acalmadas com o consumo desenfreado que a mídia oferece. Ele encontra alívio e redenção após horas de luta em pequenos clubes escondidos nos porões de bares da cidade. O clube da luta é idealizado por Tyler Durden, que acredita ter encontrado uma maneira de viver fora dos limites da sociedade e das regras sem sentido. Mas o que está por vir de sua mente pode piorar muito daqui para frente.
O livro começa sua história pelo final. É neste momento que já percebemos a narrativa "confusa" de Chuck Palahniuk. Uma hora conduzindo a história para o passado, outra hora para o futuro, às vezes, tudo junto em um único parágrafo. Palahniuk soube trazer uma personalidade para a narração que combinasse com a história contada.
O narrador e personagem principal se envolve com Tyler Durden – um sujeito antagônico, mal-caráter e extremamente desprendido – em um momento conturbado de sua vida: ele está sofrendo de insônia e ansiedade. Em Tyler, ele acaba encontrando uma figura que, de certa forma, o completa e o preenche.
Clube da Luta conta a história do narrador sem nome. Uma das coisas mais estranhas quando se começa a ler este livro, você não sabe o nome do personagem que narra a história. Diversas vezes, eu voltava algumas páginas para conferir se não tinha pulado alguma parte, mas não, o personagem não é apresentado pelo seu nome.
Não pense você que com uma narrativa "confusa" e um narrador sem nome, faz Clube da Luta um livro necessariamente ruim, pelo contrário, essa "desconstrução" narrativa fica até certo ponto interessante de acompanhar. O grande xis da questão, é que o livro parece ter sido escrito para quem não tem o hábito de ler.
A escrita de Chuck Palahniuk é direta e objetiva, enquanto se lê ao livro, você percebe que a história não tem rodeios, ela parece estar sendo contada em uma mesa de restaurante, onde aquele seu amigo está contando uma história qualquer. Eu sendo sincera ironicamente isso me agradou, mas me causou uma certa estranheza durante a leitura.
Conforme o andar da história temos trechos hilários e curiosos, que te fazem prender na história. O personagem frequenta grupos de apoio para se sentir melhor, lemos piadas de homens com tetas e brigas em estacionamento de bar. O humor do Clube da Luta é sátiro e pesado. Sabe aqueles piadas e cenas engraçadas que damos risadas e rapidamente pensamos "não deveria achar isso engraçado, é errado", pois bem, isso acontecerá com você algumas vezes durante a leitura desse livro.
O livro é predominante masculino, as questões tratadas são para este público. O livro é cheio de violência e questões de desenvolvimento do ser masculino. As críticas do livro rodeiam a necessidade de reafirmação da masculinidade, na discreta e sutil alfinetada ao capitalismo, sobre a formação da masculinidade na sociedade ou a perda dela.
O protagonista é um cara normal. Com sua vida enfadonha, limitada a trabalhar num emprego que não gosta e onde não vê sentido, ele adoece cada vez mais com depressão e insônia. Tudo vai de mal a pior, até que ele conhece Tyler Durden, um cara que vê as “merdas” do mundo e parece ser livre. O relacionamento dos dois vai se afirmando enquanto o protagonista segue sua vida miserável, onde o único lugar que consegue se sentir um pouco melhor é em reuniões de grupos de apoio formado por pessoas que sofrem de doenças graves. Câncer de testículo. Parasitas no cérebro. Parasitas no Sangue. Câncer de Pulmão e coisas do tipo.
Saudável, ao ver a miséria humana, ele se sente um pouco melhor e diz se reequilibrar por ali. Tudo vai bem, até que ele conhece Marla, uma jovem que, assim como ele, não tem doença nenhuma e o pior: ela sabe que ele também está saudável.
As coisas fluem bem por um tempo até que ele conhece Marla Singer, uma turista, uma mentirosa, assim como ele. Ela não tem nada, mas frequenta os grupos de apoio. Eles têm uma briga e a vida dele volta a ser uma droga. Um dia seu apartamento é explodido e ele se vê obrigado a morar com Tyler Durden, um sujeito que ele conheceu em um momento estranho da sua vida.
O protagonista e Tyler Durden criam um clube da luta. Um lugar onde homens vão para lutar. Sem apostas. Sem objetivo. Apenas homens lutando.
Os dois resolvem fundar um Clube da Luta onde – apenas homens – podem participar: a idéia é, basicamente, brigar sem nenhum motivo. Apenas pela diversão. As oito regras do grupo são extremamente simples:
1) Você não fala sobre o Clube da Luta;
2) Você não fala sobre o Clube da Luta;
3) Somente duas pessoas por luta;
4) Uma luta de cada vez;
5) Sem camisa, sem sapatos;
6) As lutas duram o tempo que for necessário;
7) Quando alguém gritar “para!”, sinalizar ou desmaiar, a luta acaba;
8) Se for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar.
Uma personagem de destaque na narrativa é Marla Singer. Apática, viciada, depressiva, e sem amor-próprio. Afinal: quem se envolveria em um relacionamento como o dela e Tyler? A garota é um retrato caricato de diversos relacionamentos malfadados que, muitas vezes, as pessoas continuam persistindo.
A selvageria e a violência em estado puro dos Clubes que se espalham pelos EUA são a válvula de escape perfeita para os problemas e a rotinas dos homens que aceitam participar deles. Porém, as coisas começam a sair do controle quando Tyler passa a arquitetar um plano de dominação através do caos nas cidades.
O Clube da Luta é um lugar secreto com encontros semanais feito para que homens lutem uns com os outros para, através da violência, reencontrarem a sua voz e exercer a sua potência. Mas é claro que não para por aí.
Então o protagonista descobre que ele é, na verdade Tyler Durden, uma espécie de dupla personalidade. Essa é a grande reviravolta do livro.
O livro traz críticas importantes ao sistema que vivemos, ao modelo capitalista de economia e da insuficiência e anulação da individualidade de cada ser humano a partir da sociedade de consumo. Porém, a solução que aparentemente é anarquista, ultrapassa linhas e beira ao fascismo.
O excesso de violência, a forma de utilizar da violência com propósito de destruição, a misoginia, o racismo, a vontade de acabar com tudo e até mesmo a necessidade de se destruir o passado (já presente no primeiro capítulo quando o objetivo é destruir o Museu – aquele que guarda o passado), já são sinais bem claros do que o clube defende e para onde está caminhando. Portanto, cabe a quem lê, de certa forma, perceber isso tudo.
Enfim, não é uma leitura fácil, não pela linguagem que o autor emprega, mas pelas temáticas abordadas. Clube da Luta não tem uma fagulha de esperança, e faz questão de te mostrar isso a cada página.