Daniela 01/03/2022
Têm que se esquecer de que eu sou mulher — pra isso mesmo estou usando estas calças de homem.
Que livro incrível Primeiro que leio de Raquel de Queiroz, esse livro é mais útil que qualquer baboseira coach que a gente vê por ai. MAria Moura prefere dar fogo na própria e casa e liderar um exercito de jagunços pelo sertão do que casar com um dos primos, que nas palavras dela: "um dos dois mais besta e mais interesseiro".
Alguns trechos que amei:
Sinhazinha, me desculpe, mas esses seus primos pensam que são de raça de fidalgo!... Dos que bebe soro azedo mas arrota coalhada com açúcar branco...
Aqui não tem mulher nenhuma, tem só o chefe de vocês. Se eu disser que atire, vocês atiram; se eu disser que morra é pra morrer. Quem desobedecer paga caro. Tão caro e tão depressa que não vai ter tempo nem para se arrepender.
Agora se acabou a Sinhazinha do Limoeiro. Quem está aqui é a Maria Moura, chefe de vocês, herdeira de uma data na sesmaria da Fidalga Brites, na Serra dos Padres. Vamos lá, arreiem os animais.
mata-se muito em todo este sertão.
vida, aqui, é muito barata e a morte parece que resolve tudo.
Sentia que, dentro da mulher que eu era hoje, não havia mais lugar para a menina sem maldade, que só fazia o que a mãe mandasse, o que o pai permitisse.
sentia (e sinto ainda) que não nasci pra coisa pequena. Quero ser gente. Quero falar com os grandes de igual para igual. Quero ter riqueza!
Por isso eu nunca andei com cativo. A morte da gente é a alforria deles. Se eu tenho algum negro bom ao meu serviço, alforrio primeiro. Dizia meu pai: “Se perde um escravo e se ganha um amigo”. Ficou sendo essa a minha lei.
O homem feliz é o que não tem passado. O maior dos castigos, para o qual só há pior no inferno, é a gente recordar.
Não há dia claro, nem céu azul, nem esperança de futuro, que resista ao assalto das lembranças.
Uma coisa que eu descobri então é que o amor nem sempre é muito sério e importante, pode ser brincadeira, correria, risada.
No que toca à minha vida — minha vida particular — só me resta ser eu mesma o meu pai e a minha mãe. E quem sabe o meu marido.
Pode ter medo, mas não carece ter raiva. O medo leva ao respeito. Mas a raiva só cria desejo de vingança.
“Vocês atiram, mas sou eu que escolho a hora de puxar o gatilho”.
Que é que ele pensava da vida? Que era meu dono, só porque andava dormindo comigo? Maria Moura não tem dono,
E agora — eu tinha de enfrentar aquela traição. Não de amor, que se pode perdoar, mas de fé. Traição à Maria Moura, à mulher de quem Cirino se gabava, na casa das raparigas, que comia na palma da mão dele.
gente, se mata, é pra não morrer.
Falam que o tempo apaga tudo — é mais um modo de dizer. Tempo não apaga, tempo só adormece, mas quando desperta de novo é aquele febrão violento, com frio e dor de cabeça.