Erich 20/08/2023
Um ensaio curto e de fácil leitura sobre a tolerância.
Minha opinião carrega o viés de que -- para todos os efeitos -- sou ateu e anticristão. Mas já ressalto que Voltaire não o era. Ele inclusive discursa contra o ateísmo durante este livro.
Dito isto, o livro tem como eixo fundamental a reflexão se podemos ou não podemos perseguir aqueles com quem não concordamos. Ele foi escrito no contexto iluminista, onde ainda existiam muitas pessoas com a mentalidade "medieval" de linchamento. Porém, em menor grau, pode ainda ser pensado nos dias atuais. No contexto brasileiro podemos pegar os vários exemplos onde grupos auto afirmados como evangélicos atacam (fisicamente inclusive) pessoas que tenham uma religião de matriz africana.
Voltaire a cada capítulo ataca um pedaço do conceito ou explora um detalhe a mais para fortalecer seu argumento. Na argumentação pela tolerância começa uma investigação histórica/filosófica pela origem da intolerância. E vamos vendo, a cada etapa, que não existe uma motivação clara para a intolerância em nenhum lugar que poderia gerar uma justificativa. Ao fim do tratado vemos que de diferentes raízes (judaísmo, cristianismo, natureza bruta, ...) podemos extrair o preceito da tolerância e da necessidade dela. Porém, Voltaire não exige sequer uma fonte válida para a intolerância.
Durante boa parte do livro eu simplesmente encarei o cristianismo como a fonte da intolerância, de modo que as justificativas de Voltaire contra essa hipótese (cristianismo como fonte do mal) quando entra nessa religião até me surpreenderam um pouco. Afinal, Voltaire mesmo escreve as supostas palavras o imperador chinês Yung-Xing como:
Mas, sim, o tempo mostrou que o cristianismo não é por definição intolerante. Vemos nos dias atuais o catolicismo como tolerante (diferente da postura que a igreja tinha no passado), mostrando que a intolerância de fato não é pedra fundamental. Hoje em dia a intolerância e fundamentalismo parecem ser mais fortes e evidentes no islamismo, que talvez precise do seu iluminismo.
Mas fica essa reflexão: qual a fonte da intolerância?