Ronnie K. 06/11/2010
Com o perdão da palavra, engraçadamente emocionante!
Um texto leve, divertido, emocionante e espirituoso! Em certo momento da leitura, lá pelo final, fiquei me perguntando por que poucos textos literários são simples, poéticos e densos como uma boa e velha peça de Shakespeare. Na superfície as comédias shakespearianas sempre serão uma leitura despretenciosa, esquemáticas na elaboração dos conflitos e no seu desenlace. Mas, quando menos se espera, sempre irrompe na boca de um personagem uma tirada imprevisível e sensaconal, uma verdade óbvia (mas que por serem óbvias muitas vezes passam despercebidas ou deixam de ser formuladas por outros meios), e nisso em grande parte reside o grande encanto dos textos do mitológico escritor: quando as palavras cintilam em pura emoção e poesia. Emoção de ódio ou de amor, tanto faz. E aqui, fica reforçada mais do que nunca uma constatação que tenho feito: as personagens serviçais, secundárias, a ralé, digamos assim, que figuram e têm participação fundamental em muitos de suas peças (sejam dramáticas ou de comédias) continuam sendo simplesmente formidáveis. Têm um sentido de sabedoria tão prática em relação às coisas e à vida, em detrimento de suas limitações (sociais, intelectuais, etc.), que somente as tornam a cada releitura mais simpáticas e humanas.