Leila 29/02/2024A Vida Imortal de Henrietta Lacks, escrito por Rebecca Skloot, é uma obra que nos conduz pela vida extraordinária e, ao mesmo tempo, dolorosamente miserável de Henrietta Lacks. Nascida Loretta Pleasant, Henrietta era descendente de escravos, nascida em 1920 numa fazenda de tabaco na Virgínia. A sua vida humilde e o seu trágico destino ganham contornos dramáticos quando, aos trinta anos e mãe de cinco filhos, ela descobre que tem câncer.
A narrativa detalhada de Skloot nos leva pelos corredores sombrios da história de Henrietta, destacando a brutalidade do diagnóstico e a rápida decadência da saúde da mulher cujo colo do útero seria a fonte de uma contribuição científica monumental. A autora habilmente explora o paradoxo de uma vida miserável dando origem a células cujo impacto na ciência e medicina seria imensurável.
O enredo se desdobra ao revelar que, sem o conhecimento de Henrietta, uma amostra de suas células foi retirada no Hospital Johns Hopkins. Essas células, conhecidas como HeLa, mostraram uma característica única: a capacidade de se reproduzir indefinidamente fora do corpo humano. O livro nos leva através da incrível jornada dessas células, que se tornaram vitais para avanços médicos, incluindo a criação de vacinas e medicamentos essenciais.
A saga da família Lacks em busca de reconhecimento e justiça é particularmente comovente. Skloot habilmente descreve o sofrimento enfrentado pela família, que, apesar de contribuir indiretamente para avanços científicos significativos, foi deixada à margem do processo. A falta de informação e compensação moral ou financeira é um ponto crucial na narrativa, questionando a ética envolvida na exploração científica.
A evolução da ciência e a reflexão sobre questões éticas e raciais são aspectos fascinantes abordados por Skloot. A autora não apenas relata a história, mas também se envolve profundamente com a família de Henrietta, explorando todas as questões complexas que envolvem o caso. Ao fazer isso, ela contribui para uma análise reflexiva sobre as implicações morais da pesquisa médica.
Enfim, o livro é mais do que uma narrativa sobre células e avanços científicos; é uma exploração sensível das complexidades éticas que permeiam a história da medicina. Para mim, foi uma leitura cativante e enriquecedora, revelando um mundo do qual eu era ignorante. Super recomendado.