Lavoura Arcaica

Lavoura Arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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Tiago Bessa 17/07/2018

Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar
Lavoura Arcaica, obra de Raduan Nassar, traz uma narrativa pesada, cheia de confusões; protestos; abstenções; amor de irmão com irmã deixando a narrativa ostensiva e cansativa. André se vê diferente de todos que cheio de pressões resolve fugir de casa, fato que remonta bem à narrativa bíblica do filho pródigo.

É um texto onde se entrelaçam o novelesco e o lírico, através de um narrador em primeira pessoa. André, o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, conseqüentemente, o avesso da imagem da família. Lavoura Arcaica é sobretudo uma aventura com a linguagem.

ARGUMENTO

André, o protagonista, é um jovem do meio rural arcaico que resolve abandonar sua numerosa família do interior para ir morar em uma pequena cidade (ainda no interior), fugindo, em parte, daquele mundo asfixiante da lavoura, onde o passar do tempo parecia consumir as gerações, onde a rigidez moral mantinha as estruturas sociais análogas às da Idade Média, um mundo em que a loucura das paixões primitivas consumia sua alma, como, por exemplo o relacionamento amoroso e incestuoso (fantasioso ou carnal) com sua irmã Ana.

Com sua fuga, André põe a perder o precário equilíbrio da família – baseada em uma estrutura patriarcal clássica e impregnada por um forte caráter religioso e bíblico. O pai, então, determina que o filho mais velho, Pedro, vá em busca do filho pródigo na cidade. Pedro encontra o irmão em um quarto de pensão marcado pela sordidez e, após inúmeros apelos, consegue convencê-lo a retornar ao lar. Este retorno explicitará ainda mais os aspectos doentios e perturbadores do relacionamento entre os membros da família, com destaque para outros dois personagens: o caçula, Lula, que também pretende, a exemplo de André, abandonar a fazenda em busca de um mundo que promete possibilidades infinitas (o drama do êxodo rural), e a figura cigana, sensual e mediterrânea da irmã Ana, personagem que posteriormente será o pivô da ruína final do clã.

A volta de André ao lar traz uma aparente (porém precária) paz ao ambiente já inviabilizado. A palavra do pai, oriunda da tradição dos Dez Mandamentos, das parábolas bíblicas, dos profetas e dos grandes pregadores cristãos, torna-se ineficaz, configurando a simbólica “lavoura arcaica”, e o resultado não poderia ser outro senão a tragédia: o pai mata a filha Ana, ao perceber que ela ama André, e depois, de modo não explícito no livro, também acaba por perder a vida.

O núcleo familiar em que se desencadeia a trama de Lavoura Arcaica é de imigrantes árabes do Líbano para o Brasil. O livro é dividido em duas partes: a primeira "A partida"; e a segunda "O retorno". Esta divisão corresponde à temática e inversão que Nassar faz da história bíblica do filho que deixa a casa e retorna, a parábola do filho pródigo.

Como se verá mais adiante, Raduan Nassar utiliza-se fartamente dos recursos poéticos para compor a fala do personagem narrador, André. Contudo, a bela expressão lírica que André faz da sua inconformidade não muda o desenlace de suas ações. 'Lavoura' mostra a incongruência entre a beleza das palavra se o desastre das ações humanas levadas ao individualismo extremo.

A sua revolta nasce perante uma condição que ele considera absurda, em que a igualdade aparente de todos os membros da família oculta as grandes desigualdades entre eles e a opressão do discurso da tradição (encarnado pelas palavras do pai, Iohána). André nega o homem, a moral e Deus, não exatamente a existência deste último, mas sim o seu poder de transcendência, em nome do instinto sexual, no qual o impulso decreta a posse integral dos seres a troco da sua destruição.

Este conflito entre indivíduo, leis e sociedade compõe os conflitos do próprio personagem narrador. 'Lavoura' fala do problema da integração entre o indivíduo e a sociedade, em que a particularidade das vontades e das dores de André não consegue coexistir com o mundo em que ele vive.

O personagem busca a integração, o seu lugar na mesa da família, justamente por meio do que a destruiria, o amor incestuoso entre ele e Ana, sua irmã.

Às ambigüidades das palavras de André confrontadas com suas atitudes somam-se às ambigüidades do tempo construídas na narrativa. Neste confronto pode-se explorar no texto o trabalho que Raduan Nassar realiza entre o que se pode chamar de aventura romântica e destino trágico no 'Lavoura'. A aventura romântica é o conflito apresentado pelas palavras entre a busca pela experiência e a vivência do acaso, o ímpeto de sair a campo e transformar sua história e seu entendimento do mundo. O destino trágico é a vivência de uma história prefigurada, escrita antes mesmo da personagem tomar ciência dela, em que o destino impera sobre a vontade. Assim, na aventura romântica, o tempo é o tempo que se abre aos acasos e ações humanas. E no destino trágico, o tempo trava seus ponteiros, deixando de existir, acontecendo à parte da história; ou confunde-se com o tempo mítico (da tradição milenar da costa pobre do Mediterrâneo), que é aquele em que o destino retorna, num tempo cíclico.

Quando André resolve conduzir a sua história, o seu tempo é o da aventura; mas quando o mundo lhe diz não, o tempo se torna aquele já marcado pelo destino das coisas, que retorna como uma maldição, num ciclo repetitivo. O tempo do destino e da aventura é um tempo constituído pela palavra. A busca de André é compor tempo e palavra “como gêmeos com as mesmas costas”, pela narrativa. Esta busca tenta fundir palavra e coisa, sentido e sentimento, mas sabe do perigo que corre, sabe da impossibilidadede levar até o fim este projeto. A palavra, senhora do tempo, verbo oleoso, reúne a lucidez e o delírio de André. Esta palavra nasce no lodo, no charco, no lugar daqueles que não têm lugar. O tempo na palavra do narrador é o tempo que quer explodir, corroer o mundo que produziu o fosso onde o relegado sente-se jogado. Pois, para André, àqueles que não ganham do mundo o seu quinhão restam duas alternativas: dar as costas a tudo ou alimentar uma expectativa de destruição deste mundo. É o tempo na narrativa de Nassar que não se deixa capturar, parecendo indicar algo numa das partes do romance que em outras páginas se desfaz, apontando possibilidades de interpretação e sendo a principal mola para dissolvê-las.

O romance é constituído por vários tempos num mesmo tempo e também vários tempos que parecem não se conciliar, senão por um final destruidor. A falta de síntese entre os tempos, ou o tempo no 'Lavoura', fala sobretudo da condição do homem, em que o conflito das diferenças, a violência, a imposição de uma tradição e, o outro lado da moeda, o individualismo, põem em xeque a existência da própria humanidade, as suas instituições e a viabilidade da sua reprodução. Nassar semeia as palavras para compor o tempo da narrativa, que é múltiplo. A história e a temporalidade estão concentradas na própria narrativa de André, onde os dramas, conflitos e percepções humanas constituem a marca da própria linguagem. A busca pela escrita do tempo é uma atividade arcaica, uma lavoura arcaica, da qual os homens se ocupam há milênios.

LINGUAGEM

Narrado em primeira pessoa, Lavoura arcaica está longe de ser uma narrativa linear, embora a ordem dos fatos possa ser apreendida sem maior esforço. A grande dificuldade do livro (simultaneamente fonte de sua riqueza) é a linguagem. De uma riqueza só superada na moderna prosa brasileira por Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, Lavoura arcaica, no entanto, não pode ser considerado um romance de invenção ou de resgate léxico-sintático como é o do escritor mineiro. Muito antes pelo contrário. O estilo da prosa de Lavoura arcaica é dos mais elegantes e elevados, é patente o cuidado e a meticulosidade na escolha das palavras e na construção das frases. A inovação se dá no modo elíptico com que o narrador se expressa, nesse fluxo de consciência terrível e assustador, adquirindo assim extrema funcionalidade, permitindo que o narrador tenha um modo singular de revelar, por meio de meias-palavras, as grandes atrocidades que cometeu na sua Odisséia às avessas.

As sombras, paradoxalmente, realçam as feridas familiares, que no escuro acabam por se tornar ainda mais ofuscantes (basta lembrar da sutilíssima cena de incesto entre André e o irmão caçula, ou da morte do pai ao final do relato). Em Lavoura arcaica o não dito parece ser mais importante do que a narração dos fatos, contrariando a perspectiva clássica da ficção ocidental a partir do século XIX e principalmente a tendência real-naturalista, muito em voga na ficção brasileira desde a retomada promovida pela chamada geração do Romance de 30. No entanto, as relações do livro com sua época e com a crise da ficção nacional nos anos 1970 são evidentes.

O dramático em Lavoura arcaica

É inquestionável que romance e teatro têm pontos de contato entre si. Cada um, a sua maneira, narra uma história (enredo) de algumas pessoas (personagens) num certo tempo e espaço. Contudo, no romance, personagem, enredo e significado são indissociáveis. Pensar em um romance é pensar na fusão desses três elementos. No resultado da síntese entre os traços e ações das personagens, o enredo que estas desenrolam, o tempo e o espaço nos quais tudo isso acontece e, enfim, no significado que gera. Já no teatro, a personagem concentra toda a carga de expressividade do texto. Um romance pode falar através da descrição de paisagens, através do simples desenvolver de idéias, sem para isso pedir a presença de um personagem. Já é impossível no teatro algo ser contado fora dos limites de um sujeito/ ator. Enquanto o romance se constrói através da combinação de seus elementos, no teatro, todo foco fica na personagem.

E isso é o primeiro ponto merecedor de atenção em Lavoura arcaica. Todo o romance é contado pela voz de André. Isso não teria nada de especial se não levássemos em conta a carga de expressividade concentrada nas palavras de André. Não se trata de mais um caso de narrador personagem. Em Lavoura arcaica o valor à voz de André parece ir bem além. Os fatos não só se desenrolam a partir do contar do protagonista, como todo o texto, toda a ação do enredo parece se voltar para ele, assemelhando-se mais ao teatro que ao romance. André não é simplesmente o narrador da história, mas pivô de toda ela. Mais que narrar uma história, André traça um longo monólogo. Um monólogo em que ele, ao mesmo tempo, conta e questiona os acontecimentos. Não é uma visão de narrador que olha para a história na perspectiva do passado, mas de um ator que a vive, como se pode constatar no seguinte trecho do romance:

(...) eu, o filho torto, a ovelha negra que ninguém confessa, o vagabundo irremediável da família, mas que ama a nossa casa, e ama esta terra, e ama também o trabalho, ao contrário do que se pensa; foi um milagre, querida irmã, foi um milagre, eu te repito, e foi um milagre que não pode reverter (...) (NASSAR, 1989, p. 120)

Esses dois papéis, de narrador e de ator, ora se distinguem ora se misturam no romance. Há o André que relembra e o André que vive. Há o André que retoma o passado e o André que age no presente. Contudo os dois aparecem dentro do mesmo contexto. Quando relembra, André também atua e virce-versa.

Por exemplo, a conversa entre o protagonista e seu irmão Pedro pode ser classificada como muito mais teatral que romanesca. Ela tem a marca do presente, parece que está acontecendo exatamente no tempo em que está sendo escrita. Porém, nessa conversa, há interferências do André narrador. Nos trechos a seguir, fica evidente o caráter teatral desse diálogo:

Pedro, meu irmão, engorde os olhos nessa memória escusa, nesses mistérios roxos, na coleção mais lúdica desse escuro poço. (NASSAR, 1989, p. 73)

não faz mal a gente beber” eu berrei transfigurado, essa transfiguração que há muito devia ter-se dado em casa “eu sou um epilético” fui explodindo, convulsionando mais do que nunca pelo fluxo violento que me corria o sangue (...) (NASSAR, 1989, p. 41)

No primeiro trecho, há somente a presença do ator. Na seqüência do trecho no livro, há a total concentração no depoimento de André. Todo o desenrolar do texto se dá através daquilo que André diz naquele momento. Todo esclarecimento vem da palavra de André. Nele se fixa a expressividade do texto. É na intensidade de suas palavras que vai se imaginar suas expressões e as reações do seu irmão. Já na segunda passagem, temos ainda o mesmo diálogo entre Pedro e André, mas agora com a interferência do narrador.

A presença do teatro no texto nassariano, não se verifica pela total ausência do narrador, mas sim pela contundência que é dada ao discurso de André. Como já exemplificado, o narrador se faz presente em várias passagens, sendo usado, como é comum nos romances, para descrição de personagens e retomada de posições. Em contrapartida, as descrições mais esclarecedoras se fazem através do que as personagens dizem e da maneira como estas se comportam dentro da trama.

Os conflitos que são estabelecidos, os campos de força que vão sendo construídos através do discurso de cada personagem delimitam o espaço de cada um dentro do texto. Através dos diálogos é que se percebe que o pai e Pedro estão do lado oposto ao de André, enquanto Ana e a mãe parecem ter dois lados em conflito: um real e outro aparente. O lado aparente mantém a tradição familiar, a real rompe diretamente com ela.

Outra característica do teatro, presente em Lavoura arcaica, é a limitação de tempo. Na obra em questão, o desenrolar de fatos da infância, desembocam na adolescência e desfecham no André já adulto. Mas isso não toma um tempo grande no desenrolar do texto. Os fatos vão sendo contados entrecortados, de forma que todo o panorama do “como”, “quando” e “porque” se reduzem a poucas páginas.

No trecho a seguir, retirado de um dos diálogos entre André e o pai, fica bem clara a dramaticidade nas vozes de ambos:

- Não há proveito em atrapalhar nossas idéias, esqueça os teus caprichos, meu filho, não afaste o teu pai da discussão dos teus problemas.
- Não acredito na discussão dos meus problemas, não acredito mais em troca de pontos de vista, estou convencido, pai, de que uma planta nunca enxerga a outra. (NASSAR, 1989, p.162)

Analisando assim as características do teatro, percebe-se que o viés dramático marca intensa presença no romance nassariano. Esses elementos emprestam vigor e veracidade ao texto, colocando o leitor diante de personagens ricos de diversas facetas e, por isso, verdadeiramente humanos.

O poético em Lavoura arcaica

Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul, violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, o quarto catedral, onde nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiros os objetos do corpo (...) (NASSAR, 1989, p. 9)

É desta maneira que Raduan Nassar inicia seu romance. Não com um diálogo, não com a descrição de um personagem, nem com nada que possa esclarecer a idéia que perpassará as páginas seguintes. Não há nada de enunciativo, nada que possa dar uma idéia do porvir. Raduan Nassar começa seu romance como um texto poético, uma poesia de André para o seu quarto e os limites que ele estabelece. Não seria necessário que nada viesse depois para explicá-la. O trecho já se completa por si só. Dispensa laços, renega qualquer fundamentação.

Todo o romance nassariano é marcado por passagens, frases e expressões recheadas de carga poética, repletas de metáforas e musicalidade. O texto de Raduan Nassar nega-se a se prestar unicamente a fazer um relato. O texto é material de criação em si mesmo.

É no uso da linguagem poética na construção da sua obra que Raduan Nassar coloca a poesia como o gênero essencialmente literário, o gênero que tira a linguagem do seu eixo norteador.

O discurso de André é, ao mesmo tempo, forma e conteúdo: narra o enredo do livro e constrói, através da linguagem, o caráter do texto e das suas personagens. Nas palavras de André, estão escondidos todos os enigmas do texto, e sua poeticidade o tira do campo das certezas, deixando que os significados voem, se multipliquem, se espalhem.

Renata Pimentel, em seu estudo acerca de Lavoura arcaica, chama bastante atenção para a presença do poético na obra de Raduan Nassar. Em meio à narração, ela percebe “doses concentradas de fazer poético”, efeito que ela chama de desautomatização da linguagem. É desautomatizando o texto, buscando maneiras novas de falar sobre o que todos já conhecem, que Raduan Nassar consegue causar estranhamento e deslumbramento no leitor. O autor tira o leitor do conforto do conhecido para jogá-lo diante de formas inesperadas que remetem a um mundo essencialmente real.

Raduan Nassar garimpa a língua em busca da palavra mais certa, da expressão mais pura, do conceito mais distante do comum. O texto se constrói através de metáforas, repetições e se desenlaça num compasso que mais encontra identidade no campo da poesia que no da prosa, como se observa na passagem a seguir, na qual se encontra os delírios poéticos de André:

(...) que essa mão respire como a minha, ó Deus, e eu em paga deste sopro voarei me deitando ternamente sobre o Teu corpo, e com meus dedos aplicados removerei o anzol de ouro que Te fisgou um dia a boca, limpando depois com rigor Teu rosto machucado, afastando com cuidado as teias de aranha que cobriram a luz antiga dos Teus olhos (...) (NASSAR, 1989, p. 104, 105)

Em Lavoura arcaica, não há a busca por uma organização rigorosamente lógica. O texto flui na corrente dos pensamentos e sentimentos das personagens. Isso se verifica na ausência de parágrafos e no uso diferenciado da pontuação. Só há pontos finais no final de cada capítulo. No mais, a pontuação do texto se faz, sobretudo, através das vírgulas. E em alguns trechos, como em “(...) branco branco o rosto branco(...)” (NASSAR, 1989, p. 98), o efeito do poético é tão forte que até essas são dispensadas.

A repetição é um dos elementos que caracterizam o fazer poético. Repetição não para retomar uma idéia, mas para criar uma nova e, além disso, gerar cadência e musicalidade no texto, como se vê presente nos trechos abaixo:

O tempo, o tempo é versátil, o tempo faz diabruras, o tempo brincava comigo, o tempo se espreguiçava provocadoramente, era um tempo só de esperas, me guardando na casa velha por dias inteiros (...) (NASSAR, 1989, p. 95)

(...) que paixão mais pressentida, que pestilências, que gritos! (NASSAR, 1989, p. 94)

(...) róseo, azul, violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual (...) (NASSAR, 1989, p. 9)

Em Lavoura arcaica, Raduan Nassar repete sons, palavras e até uma passagem inteira. O trecho da festa está presente no início e no final do livro, sendo repetido quase integralmente. Mas cada um com uma função distinta: em primeiro, o trecho é o anúncio do romance entre Ana e André (p. 29 e 30); no final, ele é o enlace final do amor proibido (p. 186,187).

Assim: buscando o sentimento definitivo de cada expressão. Fazendo do seu texto não somente material de apreensão, também de degustação, Raduan Nassar inova escrevendo o que se hoje denomina na moderna literatura de prosa poética, mistura de forma e conteúdo, concreto e sublime.

PERSONAGENS

André: filho de fazendeiro que, ao apaixonar pela irmã foge de casa.

Ana: irmã apaixonada pelo irmão André.

Mãe de André: sofre muito com a fuga do filho.

Pedro: irmão de André que foi buscá-lo no vilarejo onde morava num quarto de pensão.

Iohána: pai de André, morreu logo que percebeu o amor do filho pela irmã Ana.

Lula: irmão de André que também pretendia fugir.

Rosa, Zuleika, Huda – irmãs de André.

ENREDO

O enredo de Lavoura Arcaica revisita, em pequena medida, a história de Amon e Tamar, os incestuosos filhos de Davi, segundo Rei de Israel. Faminto de um tipo de amor que não viceja nos leitos meretriciais que assiduamente freqüenta, André, adolescente instável e presa de uma psique tumultuada, acaba encontrando em Ana, sua irmã mais nova, o combustível do seu desejo sexual e de suas afeições.

Se constitui numa trama dos costumes de uma família onde é mostrado a fuga de André, um adolescente que sempre fora criado na fazenda sob um duro modelo educativo passado por seu pai, o chefe do modelo familiar.

Tal fuga de casa pode ser entendida pelo grande amor que André sentia por Ana, sua própria irmã. Paixão esta que nunca poderia ser compreendida por seu pai. Assim, ele foge para um vilarejo.

A reação de Pedro, seu irmão mais velho, foi a de ir até a pensão onde ele estava e tentar trazê-lo de volta para sua casa na fazenda, onde sua mãe o esperava com ansiedade, sofria bastante com seu filho longe.

Ao achar André, Pedro começou a contar sobre os acontecimentos que estavam ocorrendo na fazenda sem ele. O irmão o recebeu contando lições sobre questões e preceitos da família como a história de um homem faminto que pediu comida. Demonstrou seus pensamentos, apesar de pouca idade acreditava que não valia a pena esperar em algum momento, em certas ocasiões era necessário agir, e logo. Contudo, nada disse sobre sua volta à fazenda.

Suas irmãs apenas rezavam para sua volta, cumpriam as ordens do pai e da mãe, e esta última apenas cumpria com suas funções de dona de casa.

André acaba voltando para casa, suas idéias não batiam com as dos pais que não entendiam a que se passava com o filho. E ele não aceitava a situação de amar a irmã e nada poder fazer. Porém desabafou ao pai que estava cansado, humilde, entendendo a solidão e a miséria, pedindo o seu perdão e amor.

Seu outro irmão, o Lula, acaba dizendo que também queria fugir de casa, que não agüenta mais aquela vida parada da fazenda.

No dia seguinte à chegada de André foi preparada uma festa por seu pai. E assim como iniciou a obra sua irmã Ana dança sensualmente para ele. Foi nesta festa que o pai percebeu o que realmente passava com os irmãos. Desesperado o pai sofre um ataque de tristeza e morre.

COMENTÁRIOS GERAIS

Lavoura arcaica possui a característica comum a toda grande obra de arte: a de nunca se esgotar. Há tantos signos há serem desvendados, tantos caminhos a serem percorridos que não se pode imaginar o dia em que um ponto final seja colocado nas questões que o livro abrange.

Já a partir de seu enredo, Lavoura arcaica começa a tumultuar: um jovem, André, sai de casa fugitivo do rigor do pai e da paixão por sua irmã, Ana. De volta para casa, ele trava uma longa conversa com seu irmão mais velho (uma espécie de sucessor do pai), permeada por uma série de conflitos que vão se desdobrar e refletir na própria estrutura do texto. Uma estrutura densa, capaz de adentrar as superfícies movediças de temáticas como religião, família, incesto, sem se deixar engolir pelo previsível. Raduan Nassar cria uma linguagem nova baseada em textos da Bíblia e do Alcorão, em que o poético se funde ao dramático para construção de um romance que pulsa no sentimento do novo.

Um estudo da obra nassariana intitulado Uma Lavoura de Insuspeitos Frutos, Renata Pimentel Teixeira chama atenção para o caráter desnorteador de Lavoura arcaica. Uma obra que pula a cerca das classificações e corre livre no campo do variado. À primeira vista poderia até ser chamada de romance, mas sua estrutura circular, sua linguagem poética e sua carga de dramaticidade vão além do que se espera desse, em sua formulação tradicional. O texto nassariano é, pois, uma obra de múltiplos gêneros. É romance por sua base mestra no encadeamento de episódios. É teatro por dirigir o vigor do texto para as personagens. É poesia por suas ricas metáforas, uso de aliterações, repetições e sinestesias.

Lavoura arcaica é a fala de André, sua ambigüidade é a de André, e da mesma forma sua indefinição é reflexo do não-enquadramento do André em um padrão. E como André está em todos da sua casa e ao mesmo tempo não está em nenhum, o texto nassariano não se fecha em um só gênero já que passeia por muitos.

A obras é sem dúvida um romance apaixonante tanto para os leitores leigos como para os especialistas em literatura. Oferece material de deleite tanto para um quanto para outro. Um texto que coloca o leitor diante da poesia e da intensidade escondida nos fatos mais corriqueiros da vida. Uma obra de todos os lugares que acaba por se fixar naquele que cada um particularmente busca. Que fala de tradição enquanto remete a um tempo imensurável e individual.

A obra mistura o hoje, o ontem e o sempre. Mistura repulsa e paixão. Mistura o perene à descoberta. Lavoura se desvencilha do pré-estabelecido como forma de se fazer pertencer. Sai da casa da tradição em busca do seu próprio caminho. É filha pródiga que escapa da vigilância do seu senhor, mas que logo volta ao lar, convicta de que nada poderá encontrar fora dos limites da história.

Fontes: Curso de Literatura Brasileira, Editora Leitura XXI, Porto Alegre | Lúcia Liberato Evangelista, Letras - Universidade Estadual do Ceará (UECE) | Revista Entre Livros | Publicação Orpheu Spam | Colégio Exathum (SC)

site: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/lavoura_arcaica
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Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

O Irmão Tresmalhado
Publicado em 1975, "Lavoura Arcaica" é o romance de estréia de Raduan Nassar e a história aborda uma fuga e suas consequências.

Após deixar para trás a família de origem libanesa que vive numa fazenda, André, protagonista e narrador, passa a viver numa velha pensão interiorana, quando recebe a visita do irmão mais velho, Pedro, encarregado de cumprir a "sublime missão de devolver o filho tresmalhado ao seio dos seus".

Através da conversa entre os dois, o leitor não só fica a par da severa rotina doméstica, mas dos motivos que levaram o jovem a abandonar tudo. Essa exposição toma a maior parte da obra e o ceticismo do jovem colide frontalmente com o relato dos sermões do pai que defende a ordem, a temperança e a paciência, aliás, a exposição dessas ideias no nono capítulo é uma preciosidade.

O retorno de André, após ceder aos apelos do irmão, faz com que a narrativa seja comparada à parábola bíblica do filho pródigo. No Evangelho de Lucas, o caçula de uma família abastada exige sua parte na herança e abandona a casa paterna. Partindo para uma cidade distante, não demora a perder todos os bens por conta de sua vida dissoluta e entao decide voltar. Oferece-se como simples assalariado ao pai que resolve perdoá-lo, sacrifica um novilho e dá uma festa de boas-vindas. Porém, André foge movido por outro impulso e, ao contrário do filho bíblico que submete-se às regras, provoca uma crise familiar que acaba em tragédia.

Quando lançado, o livro foi muito bem recebido, apesar de destoar da literatura brasileira da década de setenta que se preocupava com a desordem e a violência dos grandes centros além dos efeitos da ditadura militar, inclusive, no ano seguinte, recebeu o Jabuti entre inúmeros prêmios.

Hoje em dia, "Lavoura Arcaica" com sua linguagem altamente lírica, rara em nosso idioma, é considerada pela crítica uma das obras mais relevantes da literatura brasileira. Curiosamente, poucos anos depois, Raduan abandonou a carreira de escritor e virou fazendeiro, deixando ainda uma novela, "Um Copo de Cólera" (1978), e um livro de contos, "Menina a Caminho (1994). Essa decisão ainda causa discussão e divide opiniões.
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João Luiz 04/07/2018

O jovem André sofre por um amor impossível, e vê na fuga de casa a única saída para aquietar o coração. Uma leitura interessante, recheada de sentimentalismo. O grande livro do Raduan Nassar!
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Biblioteca Álvaro Guerra 22/06/2018

"Drama tenebroso, em estilo incisivo, nunca palavroso ou decorativo, da eterna luta entre a liberdade e a tradição[...]"

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site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788571640337
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Julio.Argibay 03/05/2018

O sofrimento do jovem Andre...
Primeira vez que li este autor brasileiro: Raduan Nassar. O romance eh angustiante e algumas passagens sao bem difíceis de acompanhar. Quanto ao personagem, ele sofre por um amor impossível e a fuga, talvez seja, a solução mais adequada. Por quanto tempo? E quais as consequências? Esteja a vontade...
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Mari Bijotti 26/04/2018

"esse rio largo que não cansa de correr, lento e sinuoso..."
Um dos livros mais belos e poéticos da literatura brasileira que já li até o momento, Lavoura Arcaica conta a história de André, a "ovelha negra" de sua família. Mais do que isso, penso que a obra trata de uma questão bastante universal: o tempo, outro personagem principal da história, ao meu ver. "Ai daquele, dizia o pai, que tenta deter com as mãos seu movimento". A rebeldia contra as imposições desse rio chamado tempo e suas consequências para as gerações presentes e futuras é um dos temas dessa obra maravilhosa.
De forma sensível, Raduan Nassar transgride os limites entre prosa e poesia, ao utilizar uma linguagem extremamente poética, acompanhando os pensamentos e relatos do narrador sobre seu núcleo familiar, sua fuga e seu retorno - a volta do filho pródigo.
Livro para ler, reler, se deliciar, se emocionar: é, de fato, uma leitura impactante, cheio de aprendizados e deleites. Recomendadíssimo.
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Leila 25/03/2018

Lírico, imagético, cru
Não raro me empolgo com as leituras que faço, no entanto, poucas me deixaram tão desconcertada. Não esperava pouco de Raduan Nassar, mas as experiências sensoriais e as reflexões proporcionadas por esse livro me deixaram aturdida. Lavoura Arcaica é visceral, mas também repleto de lirismo, símbolos, imagens e belíssimas considerações sobre o tempo. Enfim, uma prosa poética fascinante.

?O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza, não tem fim [...] onipresente, o tempo está em tudo [...] aquele que exorbita no uso do tempo, precipitando-se de modo afoito, cheio de pressa e ansiedade, não será jamais recompensado, pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas ...?
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Carla 29/01/2018

prosa poética no mundo rústico...
Um livro maravilhoso escrito em prosa poética de forma magistral por Raduan Nassar. No decorrer a leitura eu me pegava lendo em voz alta para sentir toda a aura do livro, da história e para sentir sobretudo a família, cada um dos personagens. Todos os personagens têm papel fundamental na narrativa, nesta família que ao longo de sua história foi falhando em sua comunicação, trazendo dor, tensão e sofrimento.
A narrativa traz a história de André, que cansado da vida rural e sentindo-se sufocado pelo amor incestuoso que sentia pela irmã Ana, foge de casa, mas acaba cedendo aos apelos de seu irmão mais velho Pedro e de sua mãe e volta para casa, dando a sua família um trágico final.
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Anoca Freitas 02/01/2018

Um sem-fim de poesia
Se eu tivesse lido "Lavoura arcaica" em 2017, acho que teria sido o melhor livro, porque é um texto recheado de conflitos e reflexões, descritos em metáforas extremamente poéticas. Como falei em publicação anterior, há, em cada linha, um sem-fim de poesia. Cada página tem algum ensinamento, ora simbólico, ora direto e cru, sobre família, valores, moral, amor, virtudes. Sobre o tempo.

Uma das ideias principais é a de que a paciência é a maior das virtudes, porque "só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas" (p. 57), que não podemos dar passos maiores que nossas pernas, porque isso seria "suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa" (idem). Mas aí "eu tinha simplesmente forjado o punho, erguido a mão e decretado a hora: a impaciência também tem os seus direitos!" (p. 92). É tudo muito humano.

É um livro que rememora que há "o tempo de aguardar e o de ser ágil"; que às vezes temos as mãos atadas pelas circunstâncias, mas isso não significa que devemos, espontaneamente, atar também nossos próprios pés, mesmo que não nos importemos mais com o rumo do vento, se ele nos leva para a frente ou para trás (p. 165).

Recomendo demais. ?
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Catuaba 03/10/2017

Palavroso e decorativo
O romance Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, lançado em dezembro de 1975, é o relato denso e difícil do personagem e narrador André sobre sua família. É um livro pernóstico, palavroso e supervalorizado.

Exemplo de frase desconexa: “e tudo isso ressurgirá em Ti num corpo adolescente do mesmo milagre que as penas lisas e sedosas dos pássaros depois da muda e a brotação das folhas novas e cintilantes das árvores na primavera;” (pg. 105).

Outra: “...entre as folhas e os galhos, se derramando às vezes na sombra calma através de um facho poroso de luz divina que reverberava intensamente naqueles rostos úmidos...” (pg. 29).

Outra pérola: “... minha boca inerte beijando escaravelhos?” (pg. 72). Ora, saberá o autor que “inerte” é sinônimo de “parado”? Como pode algo estar parado e ao mesmo tempo praticar o ato de beijar?

Destaque para os adjetivos em “cabelos transtornados” (pg. 110), “saliva escusa” (pg. 110), “pó corrupto” (pg. 105), “urtigas auditivas” (pg. 92), “vinho lento” (pg. 190) “ímpeto ruivo” (pg. 75), “mãos precárias” (pg. 44), “sexo roxo e obscuro” (pg. 11), e o impagável pleonasmo “claridade luminosa” (pg. 27).

Há construções que espantam pela prolixidade. Por que falar, por exemplo “meus olhos depois viram a maçaneta” (pg. 10)? Por que não simplesmente “vi a maçaneta?”

O autor enche o texto de “pomos”, “caroços”, “virtudes”, “botões”, “pestilências” e “velas exasperadas carpindo óleos sacros” (pg 107).

São particularmente interessante os comentários do excelentíssimo senhor Alceu Amoroso Lima: “Drama tenebroso, em estilo incisivo, nunca palavroso ou decorativo, da eterna luta entre a liberdade e a tradição, sob a égide do tempo.” Após enunciar que o livro não contém justamente suas características mais marcantes, termina com essa frase brilhante: “sob a égide do tempo”. O que isso deveria significar?
Isolda 05/10/2017minha estante
Oi, cara, tudo bem? Li recente esse livro, a mim indicado por alguém que não o tinha lido e não o super valorizava, apenas ouviu falar do autor e da obra e como sabe que sou leitora jogou no ar. :) Eu gostei muito e é interessante que o que você destaca como lhe causando algum tipo de repúdio na narrativa (não precisamente os trechos aqui indicados, mas o estilo) é o que me atrai para ela. Pretendo ler, ano que vem talvez, o outro título do mesmo autor, que também é valorizado e/ou supervalorizado, embora anunciem com outra pegada e ritmo. Saudações literárias.




r.morel 31/08/2017

Resenha Telegráfica
O único romance de Raduan Nassar que, além desse livro, publicou apenas uma novela e uma coletânea de contos; parou de escrever em 1984 e retirou-se para um sítio. Sorte que a sua prosa poética caprichada ainda pode ser apreciada.

Trecho: “Na modorra das tardes vadias na fazenda, era num sítio lá do bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergada ao peso de um botão vermelho; não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor, velando em silêncio e cheios de paciência meu sono adolescente?”

site: popcultpulp.com
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Jéssica - Janelas Literárias 03/05/2017

Invertendo a parábola do filho pródigo, Lavoura Arcaica traz o protagonista André, de 17 anos, que abandona sua família, fugindo da autoridade de seu pai e da paixão que sente por sua irmã Ana, até que seu irmão mais velho, Pedro, o leva de volta para casa. ?
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O enredo aparentemente simples, de raros acontecimentos, dá espaço para que a linguagem se sobressaia. Nassar faz da escrita uma fonte inesgotável para sua lavoura, caracterizada por um acentuado lirismo e composições, minuciosamente elaboradas, de cenas quase sensoriais ou sinestésicas. ?
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A figura do pai desempenha um papel determinante e altamente simbólico na narrativa. O discurso paterno, que sempre aparece para salvaguardar as tradições e valores campestres arcaicos, como a importância do trabalho, da paciência, a negação do corpo e silenciamento das paixões. A palavra do pai é lúcida, bem empregada, proverbial e refinada. Esta rigidez ética e moral, mas também estética, confere ao pai um perfil quase inumano. ?
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André, em sensível contraste, recusa o verbo da família, sua fala é afobada, colérica e explosiva. Com sonoridade marcada, André não diz, André jorra, convulsiona. Sua prosa tem ritmo acelerado e períodos longos o que deixa o leitor sem fôlego, exausto, sem descanso até o fim do capítulo. A gente convulsiona junto, compartilha da sua ânsia e delírio. ?
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Esta polaridade nos discursos, como se pode ver, é completamente definida pelo tempo. A voz paciente e lenta do pai, ante o desespero apressado de André. Mas também é perceptível no próprio conteúdo das falas, quando Nassar contrapõe a visão do pai e filho em relação à percepção do tempo, num dos textos mais lindos que já li em toda a minha vida. ?
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A  família patriarcal é  simbolicamente descrita pela mesa, o lugar em que todos se sentam, e sobretudo pelo lugar em que se sentam. À direita, o galho espontâneo, forte, puro. À esquerda o tronco viciado, a cicatriz, a mãe, silenciosa mãe, que aparece na narrativa quase sem voz, é mais uma presença, um toque, um vulto. A mãe é só tato, o pai é só verbo. Tudo que André almeja é encontrar seu lugar na mesa, mais propriamente, quer a cadeira do pai. ?

Daí vem desejo de ruptura de André, que é expresso já no momento em que ele viola sua irmã, violando também a família, a tradição, a lei, numa luta contra a interdição familiar do desejo, do corpo, do sangue, da alma, enfim. Ele foge em busca de libertação para este corpo, autoconhecimento e formação de sua identidade, que é aplacada pela imposição da repetição da identidade paterna. Mas o seu destino é inevitável, não há fuga da família, "estamos indo sempre para casa".
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Fabíola 25/02/2017

A inversão da parábola
Adiei bastante essa leitura...O avançar de páginas me embriagava com sentimentos maléficos...Raiva, escárnio, nojo, náuseas, incredulidade...
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Uma resenha extremamente difícil de ser realizada.
Como ler tal obra e não permitir que tamanha escuridão invada nosso pensamento...
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O livro é absolutamente lírico, uma prosa poética repleta de detalhes alencarianos e reflexos de Saramago. Nassar conta a história de uma família ortodoxa cristã descendente de libaneses, sendo possível observar o conservadorismo do século XIX.
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É uma obra que destrói de forma contundente vários princípios de uma ordem tradicional do espírito. Sua trama gira em torno dessa família aprisionada pelos grilhões de uma fé cega.
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O livro é articulado através de memórias e digressões do antagonista André.
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A leitura exige um grande amadurecimento literário, percebi que se o lesse a alguns anos atrás não teria aproveitado .
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Tudo se inicia com a fulga de André devido a sua ávida busca...Na verdade uma fome insaciável , uma escuridão perversa...
Toda família sofre com a falta de sua presença perturbadora.
Sua família é composta pelo pai Ióhana, sua mãe , quatro irmãs (Rosa, Zuleika, Huda e finalmente Ana) e por dois irmãos Pedro o tronco grosso, mais velho , e o caçula Lula.
Durante toda história, é preciso um olhar atento para entender o contexto , as reflexões, referências, conturbações psíquicas, o anarquismo de André.
Lavoura arcaica é uma inversão da parábola tão conhecida pelos cristãos do filho pródigo. Neste caso caracteriza um perdão do pai que nunca será aceito, a desunião da família é inevitável e o sexo entre irmãos para mim algo venenoso, inconcebível.
Se já não bastasse o incesto com Ana, (observa-se em todo livro a obsessão por sua irmã, são utilizados diversos recursos estilísticos para retratar de forma bela tão terrível ato...Pomba, Ana e inocência são uma coisa só) André em seu retorno ao conversar com seu irmãozinho sonhador (Lula) não resisti aos seus olhos primitivos que tanto lembram o de Ana e o sodomiza.
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Sua qualidade estética é inegável, possuí uma linguagem elaborada com plasticidade. Arremete claramente a morte da ordem.
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Muito difícil para mim avaliar tal obra. Por isso preferi não dar nota.
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Sergio Carmach 25/02/2017

Um livro que morreu de overdose de LSD (Lirismo Sem Direção) ou Os quatro pecados de "Lavoura Arcaica"
Poucos livros me irritaram tanto quanto “Lavoura Arcaica” (de cabeça, cito “A Casa da Paixão”, de Nélida Piñon, e “Diário de um Sonho”, do desconhecido Carlos Briganti). Lançado em 1975, esse título de Raduan, por suas características, é talhado para atrair um público ideologizado ou alternativo. Há, inclusive, quem veja nessa história uma metáfora crítica ao sistema político-social brasileiro dos anos 70. Assim, não é de se estranhar a histeria elogiosa dos engajados em suas resenhas, em contraste ao desprezo do público em geral pela obra. Simpatizantes do autor podem atribuir isso ao baixo nível dos leitores, mas – mesmo admitindo que a grande massa realmente ama a literatura rasa e comercial – é impossível concordar que o contraponto a essas obras vazias seja a literatura representada por Raduan. Em uma régua de qualidade literária, “Lavoura Arcaica” estaria no extremo oposto aos livros transformados em filmes por Hollywood. Isso não é elogio, pois extremos são ruins. O bom senso está na harmonia, no equilíbrio... O verborrágico, o transbordante e o saturado de luz são tão ruins quanto o mudo, o vazio e o trevoso.

O primeiro suplício para o leitor de "Lavoura Arcaica" está na maneira de escrever de Raduan. Não é incomum capítulos com apenas um parágrafo e um único ponto final. Vírgulas, ponto e vírgulas e dois pontos são a regra; e são esses sinais que unem indiscriminadamente falas, pensamentos e narração. Para olhos massacrados por esse autor, o texto entijolado de Saramago assumirá facilmente a aparência de uma estrutura leve e organizada.

Mesmo que o leitor se acostume com tal bizarrice – tomada por maravilha em função de conceitos fantasiosos sobre o que seria uma verdadeira e sublime expressão artística – ele ainda precisará enfrentar longos mares tormentosos. Como a trama de “Lavoura Arcaica” é simplicíssima (André retorna à fazenda da família depois de ter ido embora para fugir do rigor paterno e do amor incestuoso pela irmã, Ana) e como as situações mostradas não demandariam maiores dramas se acontecessem com uma pessoa média real, o autor apela à pieguice para imprimir às cenas e aos diálogos uma profundidade dramática forçada. Assim, tudo se transforma em um interminável dramalhão, desmedido e irreal. O leitor se vê em meio a uma teatralidade tão patética, que começa a imaginar o protagonista emitindo interjeições exageradas de sofrimento com o antebraço colado à testa e a cabeça jogada para trás. É rir para não chorar! Vê-se que o autor, incapaz de emocionar com o conteúdo por si só, recorreu ao exagero na forma. Resultado: uma história sem naturalidade, sem verossimilhança.

Neste ponto, o leitor já está com dois fardos pesados para carregar, mas Raduan ainda reserva outros martírios para o pobre. Não bastasse a maneira prepotente de escrever (para soar artístico e original aos arrogantes acadêmicos e alternativos) e o uso de uma dramaticidade artificial, o autor incorre em uma verborragia prolixa de agastar até a mais zen das criaturas. Lendo, por exemplo, o apelo de André a Ana na capela, a tagarelice insuportável e sem fim do personagem acaba se transformando em barulho real nos ouvidos. É a primeira vez que palavras escritas me ensurdecem. Uma sinestesia massacrante.

Pensa que Raduan reservou apenas três fardos para o leitor? Não, não. Além de ter que ler um texto desconjuntado, ter que aturar uma dramaticidade teatral e forçada e ter que encarar uma sequência interminável de frases verborrágicas, o extenuado leitor ainda precisará suportar o ultra hiper megalirismo do texto. No livro de Raduan, não importa se quem fala é o narrador, uma prostituta, um fazendeiro xucro ou um jovem sem vivência. Todos os falantes são poetas da mais fina estirpe (até a vaca leiteira muge e o cachorro sarnento late esbanjando lirismo e poesia). E a naturalidade, que já havia sido abalroada pela teatralidade, acaba naufragando de vez.

Esses quatro fardos impedem o prazer de uma leitura fluida. Se um leitor acabar perdendo a concentração ou o fio da trama, a causa provavelmente não estará numa eventual incapacidade sua de compreender a obra, mas no sentimento de (profundo) enfado que certamente o atingiu. Trechos soltos do livro podem enganar os desavisados, pois pequenas transcrições têm o poder de esconder a verdade mais ampla de um texto ruim. É como dar um close nos belos olhos de um rosto disforme.

Como eu disse no primeiro parágrafo, extremos são sempre ruins. Do mesmo modo que “Crepúsculo” ou “50 Tons de Cinza” são péssimos por traduzirem uma literatura comercial e vazia (o extremo em uma ponta), “Lavoura Arcaica” é péssimo por traduzir uma literatura prepotente, artificial e intragável (o extremo na outra ponta). Livros verdadeiramente geniais conseguem ser líricos e profundos sem entediar o leitor e sem perder a capacidade de contar uma história com clareza, conseguem ser dramáticos sem teatralizar, conseguem ser originais sem apelar para palhaçadas; e por aí vai. Temos exemplos disso para todos os gostos, passando por Dostoievski, Camus, Márquez, Cortázar e até mesmo por autore(a)s como Austen.

O mais triste é saber que essa obra pseudogenial (na verdade, medíocre) levou dinheiro de todos os brasileiros, inclusive da parcela majoritária da população que nem a respeita. O cidadão pagou na forma do prêmio Camões, mais uma daquelas invenções de uma panela que adora laurear os seus com dinheiro estatal, e na forma de subvenções à adaptação cinematográfica.

“Tempo” e “paciência” são dois temas centrais abordados pelo livro. Parece que Raduan tocou nessa última questão em causa própria, pois – para terminar a obra e, ao final, não se revoltar com tamanha fuleiragem – o leitor de fato precisará reunir toda a paciência de que dispõe. Quanto ao tempo, acredite, ele será torcido durante a leitura. Enquanto se estiver caminhando pelas palavras de Raduan, um segundo parecerá uma hora. Li o livro em alguns dias, mas parece que iniciei a jornada em outra era.

site: http://sergiocarmach.blogspot.com.br/2017/02/resenha-lavoura-arcaica.html
Ju 26/02/2017minha estante
Concordo totalmente com o que foi escrito aqui. E fico feliz por, finalmente, ter lido uma resenha mais sincera e realista -- sem querer desmerecer muitas outras que li.

Infelizmente, esse livro é leitura obrigatória em um vestibular e, foi assim, que fui obrigada a ler sem ter a opção de abandonar -- não gosto de abandonar, acho que devemos ler para opinar, mas certos livros já começam assustando, como é o caso deste, que começa querendo nos afastar pela estrutura, por exemplo.

Realmente, primeiramente é impactante negativamente a estruturação do livro. Os capítulos não são longos, mas eram compostos apenas por um único parágrafo, sem pontos finais, com usos de vírgulas. Particularmente achei a leitura rápida, mas a sensação foi de séculos lendo. Eu não sou capaz de fazer a contagem de quantos dias levei para ler todo o livro. Afinal, comecei, pausei, refleti sobre como prosseguir, fiquei vários dias sem ler, criei coragem, retornei, pausei novamente.. E, assim, prossegui até finalizar.


Mas de tudo, sinceramente, o que eu achei mais triste foi ter terminado uma leitura nada prazerosa de um livro obrigatório, sem entender por que ele deveria estar na minha lista de vestibular.

Na verdade, eu acho que analisar um livro assim -- no vestibular -- não faz muito sentido... Geralmente, quando os livros integram uma lista de vestibular é porque é considerado um livro positivo de alguma maneira -- mas este, não traz qualquer acréscimo. Poderia, pelo menos, como muitos livros, acrescentar algo positivo na escrita de todos. Mas, como todos sabem, muitos jovens e, inclusive, me incluo neste grupo, ainda possuem dificuldades na escrita, problemas como a pontuação, por exemplo. Não acho que seria algo bom colocar aqueles que virgulam errado -- exemplo -- para ler livros que possuem apenas um parágrafo como capítulo, sem pontuação final no decorrer, mas apenas vírgulas; ou livros sem separação de falas e pensamentos em sua quase totalidade. Parece uma espécie de mau exemplo e ensinamento errado.

Após finalizar, fui em busca de resenhas e achei a grande maioria com alguma espécie de "idolatria" cega. Todos elogiando a poeticidade do livro, seus lirismos e etc. Muito interessante ver como a grande maioria desses críticos amaram e viram a genialidade do autor.

Comecei a repensar se o problema era a minha leitura e interpretação. Mas, concluí que não foi por falta de entendimento que não posso concordar com o que muitos disseram em seus elogios. Mas foi por ver muitas das coisas que você mencionou, e, além disso, ver livros que retratam problemas mais relevantes ou até mesmo, mensagens semelhantes, todos escritos de forma mais agradável, sem exageros, e de leitura mais prazerosa.

Realmente, não posso apenas aceitar este livro como um livro bom. Achei péssimo e não gostei nada de ler. Não acho que mereça tanto foco que cria uma falsa imagem da realidade.


Susy 28/02/2017minha estante
Compartilho de algumas impressões. Essa é uma grande obra devido à grande elaboração que o autor faz da língua, de toda sua forma, seja pela sintaxe ou semântica, pelo uso de metáforas, pelo uso dos símbolos e pela reflexão que se faz a partir do simples e corriqueiro. Mas, de fato, a narrativa não traz nada de novo: uma tragédia como tantas outras já narradas na literatura. Ela exige do leitor, além do esforço pra continuar firme na linguagem "pesada", uma grande abertura para a reflexão das metáforas da vida de André. Ainda assim, se eu tivesse escrito um livro usando a língua de forma tão esplendorosa, passeando tão bem pelas simbologias e metáforas, fazia tal qual Raduan, me aposentaria da escrita, pois a obra prima já estaria alcançada. Não haveria mais nada que eu fizesse que alcançasse o primor dessa obra no que diz respeito à elaboração da língua, ao brilhante uso de metáforas e simbologias. A propósito, você leu "Um copo de cólera"? Do ponto de vista da narrativa, acredito que tenha tido maior destaque que "Lavoura", vale conferir. Gostei muito da sua resenha! Abraço!


Israel 15/04/2017minha estante
Concordo com o que foi dito. O lirismo é exagerado, assim como o tamanho dos parágrafos, e inversamente proporcional à complexidade da trama (enredo simples, típico do autor).

No entanto, o que pode ser considerado como defeito para uns, é qualidade para outros. Eu adoro Lavoura Arcaica, acho que o conflito entre gerações sempre será um tema atual o que faz com que a obra seja atemporal (digno de ser trabalhado em vestibulares). De fato Raduan não é nenhum gênio, mas no meio das porcarias que tomaram as vitrines da literatura nacional pós-moderna, ele é um dos melhores


Ju 06/05/2017minha estante
Sim, concordo contigo vendo por este ponto (atemporaliadade e o conflito), e mais ainda em comparação com a literatura nacional atual :S


João Mamedes 24/05/2017minha estante
Caro Sérgio, o seu comentário é autoafirmativo, para não dizer autoafagante ou narcisístico. Elabora um prolixo texto para apontar o apego cego de alguns leitores ao que denomina obra de "extremos" - quando tua escrita parece carregada de mesma dose de romantismo, extremismo e até mesmo impulso político. Durante toda a sua crítica me perguntei: será que esse cara admite que no mundo alguém possa pensar diferente dele, sem ele achar que isso seja artificioso, pedantismo, etc? O seu comentário ao livro é totalitário, imperativo, impede qualquer via de diálogo, o que é uma pena. Este livro, como tantos outros, tem um exército de defensores cegos e pedantes, me parece algo infelizmente comum a várias coisas na terra, mas tua crítica foi tão cega e generalizante como, foi injusta. Do mesmo modo como no grupo dos que deram cinco estrelas ao livro, cada indivíduo carrega seus motivos particulares, quero crer cegamente (para não dizer que sou imune aos paradoxos) que o grupo dos que deram uma estrela também seja heterodoxo, e que cada um carregue seus motivos para tal. Convenhamos, teu comentário é tão pedante quanto os dos pedantes do outro lado do muro. E sim, me senti ofendido por ter sido encurralado por sua visão maniqueísta, pelo menos a respeito deste livro. Sua crítica, por horas, parece menos direcionada ao livro e mais aos leitores que não concordam com tua percepção acerca dele, tem tom de revanchismo, o que talvez tenha até mesmo contaminado sua leitura. Não queira ser dono da razão, deve ser um fardo desumano. Paciência e bandeira branca, caro Sérgio.


João Mamedes 24/05/2017minha estante
Caro Sérgio, o seu comentário é autoafirmativo, para não dizer autoafagante ou narcisístico. Elabora um prolixo texto para apontar o apego cego de alguns leitores ao que denomina obra de "extremos" - quando tua escrita parece carregada de mesma dose de romantismo, extremismo e até mesmo impulso político. Durante toda a sua crítica me perguntei: será que esse cara admite que no mundo alguém possa pensar diferente dele, sem ele achar que isso seja artificioso, pedantismo, etc? O seu comentário ao livro é totalitário, imperativo, impede qualquer via de diálogo, o que é uma pena. Este livro, como tantos outros, tem um exército de defensores cegos e pedantes, me parece algo infelizmente comum a várias coisas na terra, mas tua crítica foi tão cega e generalizante como, foi injusta. Do mesmo modo como no grupo dos que deram cinco estrelas ao livro, cada indivíduo carrega seus motivos particulares, quero crer cegamente (para não dizer que sou imune aos paradoxos) que o grupo dos que deram uma estrela também seja heterodoxo, e que cada um carregue seus motivos para tal. Convenhamos, teu comentário é tão pedante quanto os dos pedantes do outro lado do muro. E sim, me senti ofendido por ter sido encurralado por sua visão maniqueísta, pelo menos a respeito deste livro. Sua crítica, por horas, parece menos direcionada ao livro e mais aos leitores que não concordam com tua percepção acerca dele, tem tom de revanchismo, o que talvez tenha até mesmo contaminado sua leitura. Não queira ser dono da razão, deve ser um fardo desumano. Paciência e bandeira branca, caro Sérgio.


kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk 15/09/2017minha estante
Falar mais o quê? Traduziu meu dissabor em palavras! Obrigada.


Anjo 02/11/2018minha estante
Pois eu devorei Lavoura Arcaica na tentativa de parar o tempo da leitura e congelar o sentimento que ele carrega e transmite. Enfadonho é o Jogo da Amarelinha que teve a intenção de ser criativo e foi cansativo... Austen e seus conflitos amorosos previsíveis e chaterrismos... cansativo é Hesse com seu Jogo das Contas de Vidro... Lavoura Arcaica surpreende, começando pelo título; o retorno de André foi mais um resgate feito pela mãe que por iniciativa própria... o incesto abordado se forms poetica é incrivelmente original... alias, a volta de André, novo incesto com o caçula? A morte de Ana? Não conseguiria imaginar até ler... sua crítica foi inversamente tão seca que me pergunto que emoções um livro causa em você (?)... o final de Lavoura Arcaica... remete ao desviar roseano... a travessia... "O boi sempre volta ao cocho"


Pedróviz 10/10/2020minha estante
Ótima resenha. Lógico que quando se mexe em ídolos há quem se


Pedróviz 10/10/2020minha estante
...manifeste para defendê-lo com unhas e dentes


Priscila 29/11/2022minha estante
Estou fazendo uma análise dessa obra e estou feliz por ler uma resenha tão sincera. Vi o filme em quase dois dias, porque não consegui em três horas. Estou lendo o livro arrastada. Este é o segundo livro que leio com embrulho no estômago. O primeiro foi Macunaíma. Não ligo para os julgamentos.




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