Lavoura arcaica

Lavoura arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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Sergio Carmach 25/02/2017

Um livro que morreu de overdose de LSD (Lirismo Sem Direção) ou Os quatro pecados de "Lavoura Arcaica"
Poucos livros me irritaram tanto quanto “Lavoura Arcaica” (de cabeça, cito “A Casa da Paixão”, de Nélida Piñon, e “Diário de um Sonho”, do desconhecido Carlos Briganti). Lançado em 1975, esse título de Raduan, por suas características, é talhado para atrair um público ideologizado ou alternativo. Há, inclusive, quem veja nessa história uma metáfora crítica ao sistema político-social brasileiro dos anos 70. Assim, não é de se estranhar a histeria elogiosa dos engajados em suas resenhas, em contraste ao desprezo do público em geral pela obra. Simpatizantes do autor podem atribuir isso ao baixo nível dos leitores, mas – mesmo admitindo que a grande massa realmente ama a literatura rasa e comercial – é impossível concordar que o contraponto a essas obras vazias seja a literatura representada por Raduan. Em uma régua de qualidade literária, “Lavoura Arcaica” estaria no extremo oposto aos livros transformados em filmes por Hollywood. Isso não é elogio, pois extremos são ruins. O bom senso está na harmonia, no equilíbrio... O verborrágico, o transbordante e o saturado de luz são tão ruins quanto o mudo, o vazio e o trevoso.

O primeiro suplício para o leitor de "Lavoura Arcaica" está na maneira de escrever de Raduan. Não é incomum capítulos com apenas um parágrafo e um único ponto final. Vírgulas, ponto e vírgulas e dois pontos são a regra; e são esses sinais que unem indiscriminadamente falas, pensamentos e narração. Para olhos massacrados por esse autor, o texto entijolado de Saramago assumirá facilmente a aparência de uma estrutura leve e organizada.

Mesmo que o leitor se acostume com tal bizarrice – tomada por maravilha em função de conceitos fantasiosos sobre o que seria uma verdadeira e sublime expressão artística – ele ainda precisará enfrentar longos mares tormentosos. Como a trama de “Lavoura Arcaica” é simplicíssima (André retorna à fazenda da família depois de ter ido embora para fugir do rigor paterno e do amor incestuoso pela irmã, Ana) e como as situações mostradas não demandariam maiores dramas se acontecessem com uma pessoa média real, o autor apela à pieguice para imprimir às cenas e aos diálogos uma profundidade dramática forçada. Assim, tudo se transforma em um interminável dramalhão, desmedido e irreal. O leitor se vê em meio a uma teatralidade tão patética, que começa a imaginar o protagonista emitindo interjeições exageradas de sofrimento com o antebraço colado à testa e a cabeça jogada para trás. É rir para não chorar! Vê-se que o autor, incapaz de emocionar com o conteúdo por si só, recorreu ao exagero na forma. Resultado: uma história sem naturalidade, sem verossimilhança.

Neste ponto, o leitor já está com dois fardos pesados para carregar, mas Raduan ainda reserva outros martírios para o pobre. Não bastasse a maneira prepotente de escrever (para soar artístico e original aos arrogantes acadêmicos e alternativos) e o uso de uma dramaticidade artificial, o autor incorre em uma verborragia prolixa de agastar até a mais zen das criaturas. Lendo, por exemplo, o apelo de André a Ana na capela, a tagarelice insuportável e sem fim do personagem acaba se transformando em barulho real nos ouvidos. É a primeira vez que palavras escritas me ensurdecem. Uma sinestesia massacrante.

Pensa que Raduan reservou apenas três fardos para o leitor? Não, não. Além de ter que ler um texto desconjuntado, ter que aturar uma dramaticidade teatral e forçada e ter que encarar uma sequência interminável de frases verborrágicas, o extenuado leitor ainda precisará suportar o ultra hiper megalirismo do texto. No livro de Raduan, não importa se quem fala é o narrador, uma prostituta, um fazendeiro xucro ou um jovem sem vivência. Todos os falantes são poetas da mais fina estirpe (até a vaca leiteira muge e o cachorro sarnento late esbanjando lirismo e poesia). E a naturalidade, que já havia sido abalroada pela teatralidade, acaba naufragando de vez.

Esses quatro fardos impedem o prazer de uma leitura fluida. Se um leitor acabar perdendo a concentração ou o fio da trama, a causa provavelmente não estará numa eventual incapacidade sua de compreender a obra, mas no sentimento de (profundo) enfado que certamente o atingiu. Trechos soltos do livro podem enganar os desavisados, pois pequenas transcrições têm o poder de esconder a verdade mais ampla de um texto ruim. É como dar um close nos belos olhos de um rosto disforme.

Como eu disse no primeiro parágrafo, extremos são sempre ruins. Do mesmo modo que “Crepúsculo” ou “50 Tons de Cinza” são péssimos por traduzirem uma literatura comercial e vazia (o extremo em uma ponta), “Lavoura Arcaica” é péssimo por traduzir uma literatura prepotente, artificial e intragável (o extremo na outra ponta). Livros verdadeiramente geniais conseguem ser líricos e profundos sem entediar o leitor e sem perder a capacidade de contar uma história com clareza, conseguem ser dramáticos sem teatralizar, conseguem ser originais sem apelar para palhaçadas; e por aí vai. Temos exemplos disso para todos os gostos, passando por Dostoievski, Camus, Márquez, Cortázar e até mesmo por autore(a)s como Austen.

O mais triste é saber que essa obra pseudogenial (na verdade, medíocre) levou dinheiro de todos os brasileiros, inclusive da parcela majoritária da população que nem a respeita. O cidadão pagou na forma do prêmio Camões, mais uma daquelas invenções de uma panela que adora laurear os seus com dinheiro estatal, e na forma de subvenções à adaptação cinematográfica.

“Tempo” e “paciência” são dois temas centrais abordados pelo livro. Parece que Raduan tocou nessa última questão em causa própria, pois – para terminar a obra e, ao final, não se revoltar com tamanha fuleiragem – o leitor de fato precisará reunir toda a paciência de que dispõe. Quanto ao tempo, acredite, ele será torcido durante a leitura. Enquanto se estiver caminhando pelas palavras de Raduan, um segundo parecerá uma hora. Li o livro em alguns dias, mas parece que iniciei a jornada em outra era.

site: http://sergiocarmach.blogspot.com.br/2017/02/resenha-lavoura-arcaica.html
Ju 26/02/2017minha estante
Concordo totalmente com o que foi escrito aqui. E fico feliz por, finalmente, ter lido uma resenha mais sincera e realista -- sem querer desmerecer muitas outras que li.

Infelizmente, esse livro é leitura obrigatória em um vestibular e, foi assim, que fui obrigada a ler sem ter a opção de abandonar -- não gosto de abandonar, acho que devemos ler para opinar, mas certos livros já começam assustando, como é o caso deste, que começa querendo nos afastar pela estrutura, por exemplo.

Realmente, primeiramente é impactante negativamente a estruturação do livro. Os capítulos não são longos, mas eram compostos apenas por um único parágrafo, sem pontos finais, com usos de vírgulas. Particularmente achei a leitura rápida, mas a sensação foi de séculos lendo. Eu não sou capaz de fazer a contagem de quantos dias levei para ler todo o livro. Afinal, comecei, pausei, refleti sobre como prosseguir, fiquei vários dias sem ler, criei coragem, retornei, pausei novamente.. E, assim, prossegui até finalizar.


Mas de tudo, sinceramente, o que eu achei mais triste foi ter terminado uma leitura nada prazerosa de um livro obrigatório, sem entender por que ele deveria estar na minha lista de vestibular.

Na verdade, eu acho que analisar um livro assim -- no vestibular -- não faz muito sentido... Geralmente, quando os livros integram uma lista de vestibular é porque é considerado um livro positivo de alguma maneira -- mas este, não traz qualquer acréscimo. Poderia, pelo menos, como muitos livros, acrescentar algo positivo na escrita de todos. Mas, como todos sabem, muitos jovens e, inclusive, me incluo neste grupo, ainda possuem dificuldades na escrita, problemas como a pontuação, por exemplo. Não acho que seria algo bom colocar aqueles que virgulam errado -- exemplo -- para ler livros que possuem apenas um parágrafo como capítulo, sem pontuação final no decorrer, mas apenas vírgulas; ou livros sem separação de falas e pensamentos em sua quase totalidade. Parece uma espécie de mau exemplo e ensinamento errado.

Após finalizar, fui em busca de resenhas e achei a grande maioria com alguma espécie de "idolatria" cega. Todos elogiando a poeticidade do livro, seus lirismos e etc. Muito interessante ver como a grande maioria desses críticos amaram e viram a genialidade do autor.

Comecei a repensar se o problema era a minha leitura e interpretação. Mas, concluí que não foi por falta de entendimento que não posso concordar com o que muitos disseram em seus elogios. Mas foi por ver muitas das coisas que você mencionou, e, além disso, ver livros que retratam problemas mais relevantes ou até mesmo, mensagens semelhantes, todos escritos de forma mais agradável, sem exageros, e de leitura mais prazerosa.

Realmente, não posso apenas aceitar este livro como um livro bom. Achei péssimo e não gostei nada de ler. Não acho que mereça tanto foco que cria uma falsa imagem da realidade.


Susy 28/02/2017minha estante
Compartilho de algumas impressões. Essa é uma grande obra devido à grande elaboração que o autor faz da língua, de toda sua forma, seja pela sintaxe ou semântica, pelo uso de metáforas, pelo uso dos símbolos e pela reflexão que se faz a partir do simples e corriqueiro. Mas, de fato, a narrativa não traz nada de novo: uma tragédia como tantas outras já narradas na literatura. Ela exige do leitor, além do esforço pra continuar firme na linguagem "pesada", uma grande abertura para a reflexão das metáforas da vida de André. Ainda assim, se eu tivesse escrito um livro usando a língua de forma tão esplendorosa, passeando tão bem pelas simbologias e metáforas, fazia tal qual Raduan, me aposentaria da escrita, pois a obra prima já estaria alcançada. Não haveria mais nada que eu fizesse que alcançasse o primor dessa obra no que diz respeito à elaboração da língua, ao brilhante uso de metáforas e simbologias. A propósito, você leu "Um copo de cólera"? Do ponto de vista da narrativa, acredito que tenha tido maior destaque que "Lavoura", vale conferir. Gostei muito da sua resenha! Abraço!


Israel 15/04/2017minha estante
Concordo com o que foi dito. O lirismo é exagerado, assim como o tamanho dos parágrafos, e inversamente proporcional à complexidade da trama (enredo simples, típico do autor).

No entanto, o que pode ser considerado como defeito para uns, é qualidade para outros. Eu adoro Lavoura Arcaica, acho que o conflito entre gerações sempre será um tema atual o que faz com que a obra seja atemporal (digno de ser trabalhado em vestibulares). De fato Raduan não é nenhum gênio, mas no meio das porcarias que tomaram as vitrines da literatura nacional pós-moderna, ele é um dos melhores


Ju 06/05/2017minha estante
Sim, concordo contigo vendo por este ponto (atemporaliadade e o conflito), e mais ainda em comparação com a literatura nacional atual :S


João Mamedes 24/05/2017minha estante
Caro Sérgio, o seu comentário é autoafirmativo, para não dizer autoafagante ou narcisístico. Elabora um prolixo texto para apontar o apego cego de alguns leitores ao que denomina obra de "extremos" - quando tua escrita parece carregada de mesma dose de romantismo, extremismo e até mesmo impulso político. Durante toda a sua crítica me perguntei: será que esse cara admite que no mundo alguém possa pensar diferente dele, sem ele achar que isso seja artificioso, pedantismo, etc? O seu comentário ao livro é totalitário, imperativo, impede qualquer via de diálogo, o que é uma pena. Este livro, como tantos outros, tem um exército de defensores cegos e pedantes, me parece algo infelizmente comum a várias coisas na terra, mas tua crítica foi tão cega e generalizante como, foi injusta. Do mesmo modo como no grupo dos que deram cinco estrelas ao livro, cada indivíduo carrega seus motivos particulares, quero crer cegamente (para não dizer que sou imune aos paradoxos) que o grupo dos que deram uma estrela também seja heterodoxo, e que cada um carregue seus motivos para tal. Convenhamos, teu comentário é tão pedante quanto os dos pedantes do outro lado do muro. E sim, me senti ofendido por ter sido encurralado por sua visão maniqueísta, pelo menos a respeito deste livro. Sua crítica, por horas, parece menos direcionada ao livro e mais aos leitores que não concordam com tua percepção acerca dele, tem tom de revanchismo, o que talvez tenha até mesmo contaminado sua leitura. Não queira ser dono da razão, deve ser um fardo desumano. Paciência e bandeira branca, caro Sérgio.


João Mamedes 24/05/2017minha estante
Caro Sérgio, o seu comentário é autoafirmativo, para não dizer autoafagante ou narcisístico. Elabora um prolixo texto para apontar o apego cego de alguns leitores ao que denomina obra de "extremos" - quando tua escrita parece carregada de mesma dose de romantismo, extremismo e até mesmo impulso político. Durante toda a sua crítica me perguntei: será que esse cara admite que no mundo alguém possa pensar diferente dele, sem ele achar que isso seja artificioso, pedantismo, etc? O seu comentário ao livro é totalitário, imperativo, impede qualquer via de diálogo, o que é uma pena. Este livro, como tantos outros, tem um exército de defensores cegos e pedantes, me parece algo infelizmente comum a várias coisas na terra, mas tua crítica foi tão cega e generalizante como, foi injusta. Do mesmo modo como no grupo dos que deram cinco estrelas ao livro, cada indivíduo carrega seus motivos particulares, quero crer cegamente (para não dizer que sou imune aos paradoxos) que o grupo dos que deram uma estrela também seja heterodoxo, e que cada um carregue seus motivos para tal. Convenhamos, teu comentário é tão pedante quanto os dos pedantes do outro lado do muro. E sim, me senti ofendido por ter sido encurralado por sua visão maniqueísta, pelo menos a respeito deste livro. Sua crítica, por horas, parece menos direcionada ao livro e mais aos leitores que não concordam com tua percepção acerca dele, tem tom de revanchismo, o que talvez tenha até mesmo contaminado sua leitura. Não queira ser dono da razão, deve ser um fardo desumano. Paciência e bandeira branca, caro Sérgio.


kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk 15/09/2017minha estante
Falar mais o quê? Traduziu meu dissabor em palavras! Obrigada.


Anjo 02/11/2018minha estante
Pois eu devorei Lavoura Arcaica na tentativa de parar o tempo da leitura e congelar o sentimento que ele carrega e transmite. Enfadonho é o Jogo da Amarelinha que teve a intenção de ser criativo e foi cansativo... Austen e seus conflitos amorosos previsíveis e chaterrismos... cansativo é Hesse com seu Jogo das Contas de Vidro... Lavoura Arcaica surpreende, começando pelo título; o retorno de André foi mais um resgate feito pela mãe que por iniciativa própria... o incesto abordado se forms poetica é incrivelmente original... alias, a volta de André, novo incesto com o caçula? A morte de Ana? Não conseguiria imaginar até ler... sua crítica foi inversamente tão seca que me pergunto que emoções um livro causa em você (?)... o final de Lavoura Arcaica... remete ao desviar roseano... a travessia... "O boi sempre volta ao cocho"


Pedróviz 10/10/2020minha estante
Ótima resenha. Lógico que quando se mexe em ídolos há quem se


Pedróviz 10/10/2020minha estante
...manifeste para defendê-lo com unhas e dentes


Priscila 29/11/2022minha estante
Estou fazendo uma análise dessa obra e estou feliz por ler uma resenha tão sincera. Vi o filme em quase dois dias, porque não consegui em três horas. Estou lendo o livro arrastada. Este é o segundo livro que leio com embrulho no estômago. O primeiro foi Macunaíma. Não ligo para os julgamentos.




Arsenio Meira 10/10/2015

LAVOURA
“O mundo das paixões é o mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas [...]” - (Raduan Nassar, Lavoura Arcaica, p. 54)

Basta ler este Lavoura Arcaica para apreender que a obra de Raduan Nassar resulta de uma produção literária tão impactante quanto iluminada. De onde que nada mais natural, a interrogação do leitor para saber as razões que o levaram a abandonar uma promissora (mais abundante) carreira de escritor e isolar-se no campo para se dedicar unicamente às atividades rurais.

Em entrevista concedida aos Cadernos de Literatura Brasileira, Raduan Nassar afirmara que fora a paixão pela literatura que o fizera, por um período de sua vida, dedicar-se inteiramente à literatura, mas, assim como paixão é sempre uma incógnita, tanto o seu começo quanto o seu fim, Nassar também não soubera responder por que renunciara à literatura. Bom, se ele não sabe, eu é que não me atrevo a sequer tecer ilações sobre este fato, triste por sinal.

A força poética presente nos versos, retirados do poema Invenção de Orfeu, de Jorge de
Lima, que servem de epígrafe para a obra, já dá indícios dos eventos presentes nesta narrativa de Raduan Nassar: uma prosa lírica com ações dramáticas, onde não há como apontar um elemento culpado; todos estão fadados a um destino que inviabiliza qualquer mudança, visto que a planta carregada de sedução e viço vem da infância e remete a infâncias passadas obedecendo ao ciclo natural da vida.

É a quebra desse ciclo o elemento central da narrativa. Pela linguagem bem elaborada Nassar é posicionado como pertencente à linhagem dos narradores-poetas. Narrada em primeira pessoa, Lavoura arcaicanão segue a forma tradicional de apresentar o texto de forma linear, embora o leitor consiga apreender o enredo sem maior esforço. Entretanto, o maior destaque da narrativa está na linguagem. A riqueza léxico-sintática, o cuidado e a meticulosidade na escolha das palavras e na construção das frases eleva este escritor a patamares só alcançados pelos grandes nomes da literatura brasileira.

Além disso, a inovação da linguagem em suas narrativas possibilita analisar Nassar como um escritor de fronteiras;por isso, é impossível classificar Lavoura arcaica como apenas prosa: ela é prosa e poesia. Isso aponta para abertura e fechamento do texto. A linguagem utilizada é singular, cheia de densidade,tensão e musicalidade, trazendo para o texto um conteúdo de verdade e uma discussão humana profunda e complexa, capitulados nos versos do poeta Jorge de Lima.

Estes versos também se relacionam com o título Lavoura arcaica. A planta da infância é parte de uma lavoura composta por uma família tradicional que, sob os cuidados de um lavrador incansável, obedece ao curso natural de crescimento com total obediência ao tempo à manutenção da tradição,vistas na narrativa como o alimento necessário para o controle e continuidade daquela lavoura.

A narrativa tem início em um quarto de pensão, refúgio do “filho tresloucado” que deixou o lar paterno para permitir que seu corpo vivesse as paixões proibidas (incestuosa) pela rotina severa da fazenda. É neste quarto que André recebe seu irmão mais velho, Pedro, enviado pelo pai para recuperar aquela planta enferma. É neste encontro que André retoma, pela memória, sua vida na fazenda.

Para amainar sua febre, André buscava na terra o alívio de suas inquietações. Era misturado à terra que ele, adolescente, libertava-se dos olhos apreensivos da família para buscar no silêncio o esvaziamento dos sermões do pai que ele já sabia ser inconsistentes. O silêncio é um dado importante na narrativa.Em Lavoura arcaica,a voz do discurso pertence unicamente ao patriarca, que impossibilitava qualquer tomada de posição da família. Sentado na ponta da mesa, seus sermões eram o alimento que todos deveriam ter, antes de qualquer outro. E o silêncio fazia-se lei. Mas também era matéria de revolta. No silêncio os membros do galho esquerdo do troco teciam sua desordem.

A necessidade de calar os sermões do pai era muito mais alimento para a alma que o próprio discurso. Entretanto, ali naquela pensão, diante do irmão Pedro, eram as mesmas palavras do pai que André ouvia. Pedro, como guardião da tradição e representante legítimo cumpria o seu papel de juntar ao corpo único da família um membro que se desgarrara.

Em Lavoura arcaica o que se deseja é posicionar o corpo antes da roupa. Ter controle sobre seu corpo representava ter controle sobre seu pertencimento no mundo. Ao conhecer os limites do corpo, Ana, irmã do protagonista e sua amante, percebeu as singularidades de sua personalidade. Destituída do poder do discurso, a personagem utilizou os movimentos corporais e sensualidade para posicionar-se naquela sociedade arcaica, revelando que o caminho da autoidentidade passa pelo conhecimento do corpo e pela busca do prazer.

Observa-se que nos conflitos situados na obra de Nassar,a subversão da figura feminina é marcada por conflitos e sofrimento, pois elas ainda se encontram divididas entre os padrões conservadores que ainda lhes são impostos e a urgência de cravar seu lugar na sociedade enquanto sujeito do próprio discurso. Isso mostra que a tomada de posição pode representar, para a mulher, um momento de difícil aceitação,pois inscreve a perda da proteção masculina, tão presente no imaginário romântico da sociedade.

Em um mundo de igualdade crescente, homens e mulheres são levados a realizar mudanças fundamentais em seus pontos de vistas e comportamento. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; isto é condição necessária para a vida em sociedade. É preciso refletir sobre a condição feminina para acelerar o processo de autoconhecimento e autodescoberta,deixando às mulheres das décadas posteriores, ao menos, uma perspectiva de esperança de que é possível ser livre, ser feliz e escolher seu próprio destino.

O romance de Raduan Nassar encontra-se em um mar aberto de possibilidades de leituras e releituras. Uma abordagem a partir de um único viés teórico, seria simplista, pois deixaria ao largo muito do alcance e da profundidade da obra. Portanto, para quem deseja adentrar na obra deste escritor, é pertinente (re)lembrar o posicionamento dele, posto na epígrafe destas considerações finais: o aprendizado é um processo em construção; ele nunca está pronto. E tal premissa é perene.
Thiago 10/10/2015minha estante
Arsenio, meu caro que bela resenha tu fizeste, eu concordo plenamente com tudo o que dissestes, a propósito se tiveres fôlego vale a pena assistir ao filme do Luiz Fernando Carvalho que se baseou no livro e segue fielmente o enredo da obra do Raduan Nassar , talvez uma das melhores realizações no nosso tão desprestigiado cinema nacional, o filme tem o mesmo título do livro caso tenha interesse.


Arsenio Meira 10/10/2015minha estante
Grande Thiago,
Vou ver o filme, sim, e não vai demorar, amanhã ou terça, no máximo! Já tô na expectativa, depois do seu incentivo e da opinião da Carla, essa expectativa já vai virar ansiedade! rsrs. Obrigado, amigo, como certa vez lhe escrevi, vc é que é grande, generoso! Valeu por tudo. Abração.


Ed Ribeiro 10/10/2015minha estante
Vou ter que antecipar minha leitura deste livro hehe


Arsenio Meira 10/10/2015minha estante
Edi,
Vale demais, faço até campanha, kkkk... Ainda estou sob o impacto. Há, de fato, o livro certo, na hora certa; antes, eu não dava muito trela pra esse tipo de coisa, mas estava errado. No entanto, acho eu, que esse romance cabe em qualquer momento! Boa leitura! Abraços


Thiago 11/10/2015minha estante
Que isso Arsenio, você falando assim me deixa desconcertado, mas o sentimento é mutuo, e eu o admiro muito, até pediria um autógrafo a você se eu o visse pessoalmente hehehe.


Arsenio Meira 11/10/2015minha estante
Thiago, kkkkkk
Se pedir, eu assino!!
(tô brincando!)
Abração


Thiago Ernesto 11/12/2015minha estante
Saudades do amigbo Arsenio... Gostava ter a oportunidade de falar consigo sobre essa obra :/


Alana 06/05/2017minha estante
que delicia terminar de ler essa obra e encontrar uma resenha do Arsenio, saudades.


Juliana 20/05/2018minha estante
Realmente, as resenhas do Arsênio eram incomparáveis!


Emanuel.Giovanni 25/03/2021minha estante
Que resenha incrível!




Vania.Cristina 08/08/2024

Simples, intenso e monumental
Muito difícil falar desse livro. Ele é mais que uma leitura, é uma experiência. É preciso mergulhar nele. Uma sinopse não diz nada, não esclarece bolhufas (como diria minha mãe).

Acho que cada pessoa lerá o livro de uma forma diferente. O primeiro capítulo já me mostrou como ia ser a leitura e logo de cara me posicionei para fazê-la de uma forma incomum pra mim. Conforme ia lendo grifava tudo que me saltava aos olhos. Até aí nenhuma novidade, mas cada capítulo que eu terminava (alguns são longos e outros minúsculos), eu anotava minhas impressões nas margens, naqueles adesivos transparentes. Dessa forma dialoguei profundamente com o livro. E não foi uma coisa pensada, calculada, o próprio livro me conduziu nessa direção. Embora tenha poucas paginas foi impossível fazer uma leitura rápida, ele exigia que eu digerisse capitulo por capitulo, que elaborasse minhas impressões passo a passo. Foi uma leitura profunda e uma experiência intensa mesmo eu não tendo utilizado nenhum texto de apoio para me orientar.

Posso dizer que considero essa pequena obra um monumento. A história é simples, mas a escrita é elaborada de uma forma poderosa. Nós mergulhamos na cabeça do protagonista de um jeito que me lembrou Angústia, de Graciliano Ramos. Posso dizer também que a história me remete a um desses encontros possíveis entre uma tragédia grega com a psicanálise. Entre a realidade nua e crua de Nelson Rodrigues e os devaneios eróticos e místicos de Mishima. E isso tudo pra falar das estruturas de formação do povo brasileiro. Sensacional!

Ficou confuso? Pois é... não sei se posso falar mais do que isso... Tá, posso falar um pouco da história. Não vou dar spoilers mas minha experiência foi totalmente no escuro e valeu a pena. Se quiser um pouco mais de chão, posso dizer:

Em algum lugar do Brasil antigo um jovem chamado André, que morava na fazenda com a família, foge de casa. Este é nosso narrador e é o protagonista da história. Acompanhamos seus pensamentos o tempo todo, e muitas vezes eles são desvairados, delirantes. Seu irmão mais velho o encontra numa pensão, num momento em que ele já tinha gastado todos os seus recursos. O livro tem duas partes, a primeira é o desabafo de André junto ao irmão, quando ele confessa seus segredos. Ele conta tudo com uma certa linearidade, começando com o tormento que o acompanha desde a adolescência. Convencido a voltar pra casa, a segunda parte narra o que acontece nas primeiras horas depois do retorno.

Trata-se de uma interpretação da parábola bíblica do retorno do filho pródigo. Só que aqui o filho não volta arrependido, mas dissimulado.

Esse narrador, jovem e aparentemente frágil, reivindica o direito nobre a sua individualidade, mas não se engane, talvez ele seja um dos personagens mais narcisistas e manipuladores de nossa literatura.

O leitor precisa ter estômago para encarar tudo o que nosso protagonista vai pensar e fazer. Mas a escrita do autor facilita muito, porque as cenas são descritas por palavras delicadas e poéticas, que carregam imagens que nos deixam de boca aberta de tão poderosas. Mas há gatilhos para abuso, vá com cautela.

Eu acho que, dentre outras coisas, esse livro fala sobre nossa origem rural e o patriarcado, e como ele é estrutural em nossa sociedade. O autoritário chefe da família sufoca as individualidades para impor seus valores. O livro acabou e eu continuei a narrativa na minha cabeça. Parece que eu estava vendo a história da formação da elite brasileira. Quando há disputa pelo poder dentro de um patriarcado, nada muda de fato, além do nome de quem está sentado à cabeceira da mesa. Talvez eu tenha viajado um pouco... mas se jogue nesse livro e tenha suas próprias percepções. Se puder fazer isso numa leitura coletiva, melhor ainda.
FabiSempreLendo 08/08/2024minha estante
Ótima resenha! Me deu vontade de ler esse livro.


Vania.Cristina 08/08/2024minha estante
Que bom! ?? Obrigada Fabi!


Max 08/08/2024minha estante
Livro fora do comum!
Resenha no mesmo nível! ?


Vania.Cristina 08/08/2024minha estante
Obrigada Max! ? Também achei esse livro fora do comum.


anapachecoeumsm 08/08/2024minha estante
Quero muito ler! Na USP é um livro que requer debates! Amei a resenha amiga ?


Vania.Cristina 08/08/2024minha estante
Imagino, Ana. Eu adoraria assistir a uma aula sobre este livro e um debate com mediação de um professor da USP. Acho que dá pano pra manga mesmo.


Yasmin V. 12/09/2024minha estante
Amei a resenha, Vania! Esse livro está no meu radar há tempos e dia desses me indicaram novamente e desde então, estou com ele na cabeça hahaha vim atrás de resenhas e encontrei a sua!! Fiquei ainda mais interessada!!


Vania.Cristina 12/09/2024minha estante
Que bom Yasmin! Que você tenha uma excelente leitura!




carlosmanoelt 03/08/2024

O arcaico e a ovelha sacrílega
A parábola do filho pródigo compõe o imaginário ocidental como um dos mais conhecidos textos bíblicos. Nela, o filho caçula, arrependido por ter deixado o lar e extravagado seus recursos, retorna ao seio familiar para redimir-se de seus atos. A moral de redenção intencionada pela alegoria cristã foi ? e nada impede que continue sendo ? explorada continuamente em produções artísticas de diversos segmentos, incluindo o literário. Ela servirá como ponto de partida também para ?Lavoura arcaica. No entanto, o que Raduan Nassar manifestamente propõe em seu primeiro livro é invertê-la, mantendo-se distante do ideal de remição passiva e sincera da metáfora original.

André, o protagonista do livro, seria o filho pródigo que abandona a casa. Membro de uma família tradicional e, por consequência, extremamente patriarcal, ele busca libertar-se das amarras paternas e de seus princípios sufocadores que limitam e impõem aos descendentes uma obediência servil cega, corroborada pelo uso de provérbios e pela repetição de hábitos que fortalecem a imagem do pai como totem. A primeira parte da obra, denominada A partida, narra a estadia do personagem em uma pensão distante até o momento em que seu irmão, Pedro, vai ao seu encontro, enquanto a segunda parte, O retorno, mostra o regresso dos dois a casa de origem. A estrutura formal do relato de André acompanhará o caráter cíclico da narrativa. O protagonista não só vai e volta no espaço, como seu relato realiza o mesmo movimento no tempo.

No fluxo contínuo da consciência nem um pouco linear de André nos emaranhamos nas suas entranhas na busca de compreender a si e se desprender de um sistema opressor, na perspectiva dos seu medos e incertezas onde angustiados somos agora parte dessa fortíssima corrente psicológica, da intensidade da paixão incestuosa por Ana, e do seu movimento contínuo rumo a libertação e tragédia. O lirismo de Raduan através de seu personagem faz com que a leitura se torne uma experimentação sensorial, onde sentimos não só o que os personagens falam, mas onde estão, se percebem e sentem. Poucos escritores conseguem mexer com temáticas tão pesadas junto a uma descrição lírica e introspecta tão intensa, assim como Clarice Lispector faz, Raduan inova a língua portuguesa como um escultor que modela, estilhaça e cria algo novo e bonito, nos surpreendendo com o inesperado.

Ler ?Lavoura Arcaica é um desafio que requer coragem e entrega, aos que aceitarem o desafio o impacto será profundo e inegável, pois fala de temas tão universais; do oprimido que sai da opressão, da transgressão, da necessidade de vôos e liberdade, do conflito extremamente sensível de uma família em precário equilíbrio, do amor, da repulsa e paixão, da impregnação moral e da tradição. Com a musicalidade do escrito e do não dito, é uma tragédia que conversa com o contemporâneo através de tudo que nos revela e com poética nos faz questionar certezas tão invioláveis através da experimentação da palavra e de um final destruidor. Cabe mencionar aqui a adaptação cinematográfica da obra, dirigida por Luiz Fernando Carvalho em 2001, que inspira-se nos princípios barrocos de proporção e da contraposição escuridão/luz para reproduzir visualmente os contrastes tão importantes no livro.
olivversion 03/08/2024minha estante
Que resenha incrível.


carlosmanoelt 03/08/2024minha estante
Obrigado :)


olivversion 03/08/2024minha estante
@carlosmanoelt Dnd, fiquei com ainda mais vontade ler. Lembrei que ouvi sobre esse livro no ensino médio de uma professora de sociologia.


carlosmanoelt 03/08/2024minha estante
Bom gosto o dela, vale muito a pena ler


Jason23 03/08/2024minha estante
Que resenha maravilhosa


carlosmanoelt 03/08/2024minha estante
Obrigado :)




Aline.Rodrigues 11/04/2023

Delicioso e perturbador
Poético, selvagem e visceral. Amoral e genuíno. Raduan me pareceu mais um amante da água da fonte onde Faukner e Lúcio Cardoso beberam. Que livro delicioso e perturbador. Uma das minhas melhores leituras de 2023.
Gleidson 11/04/2023minha estante
Diante do seu comentário, só me resta correr atrás dessa grande obra.


Aline.Rodrigues 11/04/2023minha estante
Vale muito a pena! Que livro!


Gleidson 11/04/2023minha estante
Já vi vários bons comentários sobre ele. Agora confirmei com o seu.


Carolina.Gomes 18/04/2023minha estante
Eu n consegui gostar. Achei metafórico demais. Talvez n tenha sido um bom momento p lê-lo. Do autor, prefiro Um copo de cólera.


Aline.Rodrigues 18/04/2023minha estante
Sim, livros como este dependem do momento!




Olívia Giacomin 15/07/2021

com todo respeito, um livro ok.
é um bom livro, mas não foi o que eu esperava..
sempre ouvi excelentes comentários sobre esse livro, leitores com experiências marcantes, mas não foi assim comigo, me disseram que era uma história muito envolvente e intensa, mas apesar de achar o enredo interessante, eu não me envolvi muito, não me conectei com os personagens, não senti nada por eles na verdade, e acho que só tem como você amar um livro quando se conecta com a história..
o livro, inspirado na parábola do filho pródigo que sai do seio da família para viver a vida e depois retorna, é dividido em duas partes: a partida e o retorno, onde iremos entender a vivência do andré e sua família, através de uma narrativa não linear, que intercala momentos passados e presentes.
a escrita do raduan é muito bonita, eu marquei vários trechos, fiquei tocada com várias frases, só que em diversos momentos eu também fiquei cansada, por exemplo, tem uma parte em que o andré está conversando com a ana e fala sobre como ele vai mudar a postura e começar a ajudar nas atividades da casa (tirei detalhes do contexto para nao dar spoiler) e ai ele fica por páginas falando: vou limpar isso, vou cortar aquilo de tal jeito, vou agir assim e são páginas e páginas disso, acabei achando um pouco chato, só que não dá para chamar esse livro maçante, ele é muito curto, então eu terminei de ler, gostei, mas não fiquei com aquela sensação de UAUUU que obra esplêndida, achei só ok..
mas eu gostaria de ressaltar também que o livro tem seus pontos altos: o capítulo nove onde o pai discorre sobre o tempo é uma das coisas mais lindas que eu já li, me fez sentir muitas coisas, a construção da família é muito bem feita, dá para entender facilmente o que cada personagem representa e eu adorei o capítulo onde fala sobre a disposição de cada membro da família na mesa e o que aquilo representava, eu gostei muito.
eu não tenho o hábito de dar notas para os livros, uma coisa minha mesmo, mas para mim, esse é claramente um livro três estrelas, não posso dar menos que isso porque é um bom livro, mas não posso dar mais porque não me cativou.
Flávia 15/07/2021minha estante
com todo ok, um livro de respeito.


Flávia 15/07/2021minha estante
com todo ok, um livro de respeito sobre o tema na minha opinião é crônica de uma casa assassinada.


Carolina.Gomes 17/07/2021minha estante
Esse livro me deu uma canseira. Confesso q terminei porque eram só 200 páginas.




Mia 29/06/2022

Esplêndido!
Estou simplesmente encantada com a escrita do Raduan Nassar, que coisa mais linda!! O livro é nada menos que esplêndido, narrativa mais que perfeita. Há muito que eu não lia uma narrativa tão bonita, tão poética.
Carolina.Gomes 29/06/2022minha estante
Muito poética mesmo, mas?


Mia 29/06/2022minha estante
proibido criticar lavoura arcaica, sujeito à paulada


Mia 29/06/2022minha estante
amei demais, muito perfeito!!




Tamiris 20/04/2021

Primeiro fluxo de pensamento que consigo entender.

O livro tem uma narrativa poética, no início estranhei, mas logo fui me familiarizando e entrando na narrativa.

Conta à história de André que vai embora de casa e sua família pede para o filho mais velho Pedro trazê-lo de volta, traz muitos flasbacks de suas memórias com a família. O pai é tradicional, coloca ordem e imposições, sempre com seus sermões para a família. André vai embora de casa por um amor incestuoso que sente por sua irmã Ana e por discordar da forma do pai.

Na segunda parte quando retorna para casa ao invés de estabelecer a união (igual a parábola do filho pródigo que retorna ao lar, sua volta acaba trazendo a destruição de sua família).

Assim que retorna André tenta expor algumas ideias e opiniões para o pai. Lembrou-me um pouco pais e filhos de Turgueniev claro que são contextos totalmente diferentes, afrontar o pai e pessoas mais velhas ou expor opiniões na época seria espantoso. Na do Raduan já é visto com modos arcaicos.

Fala do pai ao ser confrontado “Aqueles que abrem demais os olhos acabam só por ficar com a própria cegueira” / “nenhuma sabedoria devassa há de contaminar os modos da família”.

Minha casa minhas regras, quando André retorna quer ser reconhecido pela família, mas também quer liberdade. O filho mais novo também não gosta dos modos do pai e quando seu irmão volta fica desapontado, pois sua fuga tinha lhe dado forças para fazer o mesmo, procurar a devassidão do mundo, conhecer os lugares obscuros.

Porém a história não termina com final feliz e sim muito triste.

Gostei muito da escrita, achei bonito e ao ler sentia conforme uma melodia. A história é triste uma família ser destruída e se perder por quem teria que estabelecer a união e ordem.
Pedro 20/04/2021minha estante
Se você trabalhasse numa livraria, convenceria todos os clientes a comprar os livros.
Ótima resenha;)


Tamiris 20/04/2021minha estante
? Acho que iria falir se trabalhasse em uma livraria. E obrigada ?


Pedro 20/04/2021minha estante
????




João 12/09/2021

Complicado em todos os sentidos
Sobre a minha experiência:

Consideração: talvez eu não estivesse no melhor momento para realizar esta leitura ou quem sabe com bagagem suficiente para desfrutá-la. É necessária uma releitura. Pretendo? Talvez, não sei, acho que não (quem sabe daqui a 20 anos).

Alguns dos temas abordados são pesados, o livro é difícil (sim!), lento e em alguns momentos tive vontade de abandoná-lo, pois não me prendia a atenção.

Por curiosidade e usando da força do ódio consegui terminá-lo. Ainda bem. Os capítulos finais, talvez os 4 ou 5 últimos, fazem valer a experiência e o final é surpreendende e chocante.

Sinto que a história poderia ter sido contada de uma forma mais envolvente, mas sei que talvez esse é justamente o diferencial do livro. Fluxo de consciência de uma personagem que não nos conquista fica difícil de engolir (aquela coisa da pomba?).

Não funcionou pra mim, mas ainda assim tem trechos interessantes.

Nos fim das contas, me deixou pensativo, então de alguma forma digo que a leitura é válida (se concluída).
Jeane Nunes 14/09/2021minha estante
Vir a resenha da Tati Feltrin e fiquei interessada em lê-lo.Mas confesso que sua resenha me fez repensar ...


João 14/09/2021minha estante
A bagagem da Tati com certeza faz com que a obra seja mais bem elucidada.
Agora, em relação à opinião fico com essa mesma: leitura válida, porém difícil e por vezes chata.


janagcm 21/11/2021minha estante
Senti o mesmo que você! Como se eu conseguisse ver que o livro poderia me arrebatar mais, mas eu não estivesse ainda "pronta" pra conseguir enxergar com clareza. Quem sabe em mais alguns anos.




Eduarda Duarte 25/08/2021

Lavoura Arcaica de Raduan Nassar
Triste aquele que não investe seu tempo na literatura nacional. Nassar é uma prova desse brilhantismo inato.

Constroi uma narrativa de flutua entre a poesia e a violência de forma intrínseca. E nos faz detestar o protagonista, apesar de querermos conhecer o final (que a maioria já conhece) através de seus olhos desvairados.
Alê | @alexandrejjr 09/10/2021minha estante
Belos apontamentos, Eduarda.


Eduarda Duarte 09/10/2021minha estante
obrigada, Alê




Kyumie 11/06/2014

Uma belíssima de uma bosta!
Pra inicio de conversa, nao tem parágrafo nem ponto final (no meio dos capitulos) é vírgula atras de vírgula!! As vezes sao 5 paginas seguidas só de vírgula (se vc achar um ponto e vírgula vc ta no lucro) Insuportavel de ler, palavroso até o ultimo fio de cabelo, e como se isso ja nao bastasse tem erros gramaticais nada a veeer. Ex: "Te amo Ana" Te amo?? TE amo???? Ô meu querido, é AMO TE, te amo nao existe! O que adianta falar "profusas drosófilas" se chega na hora da gramática comete um errinho besta. E além do mais é nojento, é uma completa bagunça!

Tive que escrever isso, afinal é a minha opinião e é isso que significa resenha. Tava entalado na garganta, somado com a raiva de terem tirado Domcas da lista da federal, mas enfim, pronto falei.
Tiago 14/06/2014minha estante
Isso que você escreveu não é nem uma resenha e belíssima de uma bosta é seu comentário.Nem percebe que a falta de pontos finais dá a beleza no texto e te amo é bem mais usual que amo-te.


Fran 26/08/2014minha estante
Concordo plenamente com você. Só estou lendo por obrigação, porque verdadeiramente o livro é uma bosta! Me surpreende um livro tão ''renomado'', ser tao pobre na linguagem, confuso e com a pontuação do jeito que é. Uma droga.




Rebeca.lousz 14/07/2021

Obra-prima
Eu não sei muito o que dizer sobre esse livro, é uma obra-prima. Nunca li nada parecido antes. Raduan Nassar escreve com maestria.

O livro conta a história do filho renegado, de André, que decide fugir da fazenda da família. É uma família grande com um pai severo, o trabalho é árduo e a doutrina familiar mais ainda. A história se inicia quando um de seus irmãos, o Pedro, o encontra e tenta dissuadi-lo a voltar para casa. A partir desse encontro que entramos dentro da mente de André e tomamos conhecimento dos motivos que o levaram a ir embora.

A temática desses acontecimentos é pesada. Fato.

Narrado em primeira pessoa, os capítulos são como fluxos de pensamento, a desordem é constante, a forma como uma frase puxa a outra é simplesmente de tirar o fôlego. São capítulos inteiros em um único parágrafo, sem nenhuma interrupção, sem nenhum ponto final. E a maestria é tao grande, é uma escrita tão espetacular, tão poética, que eu não senti falta nenhuma dessa organização em parágrafos e pontos finais.

É uma leitura difícil, bem metafórica e confusa em alguns momentos. Existe um paralelo muito claro com a Bíblia, tanto na escrita quanto nos assuntos abordados. Os acontecimentos narrados não são expostos em primeira mão, é preciso explorar o livro e aos poucos entender tudo o que acontece. As cenas são muito bem descritas e os cenários muito bem retratados.

Simplesmente incrível.
Douglas Finger 31/12/2021minha estante
Leia dele tb Um copo de cólera!! Por favor faça isso por você! É maravilhoso! Eu ainda não li Lavoura arcaica mas com certeza lerei mto em breveee


Rebeca.lousz 31/12/2021minha estante
Vou colocar na minha lista! Gostei muito da escrita dele




Cris Lasaitis 27/12/2010

http://cristinalasaitis.wordpress.com/2009/02/01/leituras-janeiro2009/

Lavoura Arcaica é uma dessas experiências de linguagem bem sucedidas que germinam quando um autor novo chuta o balde e se desprende de todos os convencionalismos da “boa literatura”. A sensação é de um fluxo de consciência em permanente delírio, uma ciranda vertiginosa com toada regionalista. Um livro indiscutivelmente bonito e criativo.
Ricardo Rocha 19/08/2014minha estante
Chutou o balde duas vezes: primeiro ao se tornar esse autor maravilhoso, reconhecido por crítica e leitores, e depois do sucesso, sair fora ao perceber o mundinho em que se metera. Muito bonito seu discernimento. Ah, tem o lance do incesto que tem uma correlação com... ops, não vou mew alongar... =)


Roberta Nunes 03/01/2015minha estante
Cris, com muito, muito atraso, atraso, que bom que você gostou do meu presente!




Cinara... 30/03/2021

... que o tempo sabe ser bom, e o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto, é sempre abundante em suas entregas: amaina nossas aflições, dilui a tenção dos preocupados, suspende a dor aos torturados, traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos ele lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados, o relaxamento aos que se contorcem, a serenidade aos inquietos, o repouso aos sem sossego, a paz aos intranquilos, a umidade às almas secas; satisfaz os apetites moderados, sacia a sede dos sedentos, a fome aos famintos..."

Lavoura arcaica é extremamente poético.
É filho pródigo, é incesto, é família, é tempo e é paciência!
Acredito não ser uma leitura que agradará a todos, mas pra quem gosta de Clarice Lispector super recomendo!
Angélica 30/03/2021minha estante
Eu também amei esse livro. Puta merda!


Cinara... 30/03/2021minha estante
Incrível né Angélica!! ? Aff ?




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