Itamara 14/10/2021"A terra, o trigo, o pão, a mesa, a família..."A história de um jovem (André) que foge de casa, um ambiente rural e com uma família numerosa, pois já não aguenta mais os discursos moralistas e rígidos do pai. Pedro, seu irmão, tenta resgatá-lo de volta mas os segredos voltam à tona para atormentar a "suposta" tranquilidade do lar em seu retorno.
Para quem gosta de histórias cheias de simbologias e referências, Lavoura Arcaica é um prato cheio. Além da alusão à clássica história bíblica do filho pródigo, a obra é narrada em um fluxo de consciência bem intenso e nos apresenta um narrador bastante perturbado por conflitos e sentimentos um tanto inaceitáveis entre o seio familiar.
Tradução e transgressão; o sagrado e o profano; a ordem e a desordem; ódio e paixão. O livro é permeado de dualidades e cada personagem possui uma representatividade no texto, até mesmo os secundários.
Confesso que não achei a leitura fácil. O início é um verdadeiro emaranhado de palavras e construções de frases gigantes, sem pausas, como pensamentos que estivessem prestes a explodir e que são jogados ao leitor. Constantemente , há uma sensação de perdição, sobretudo pela não linearidade com que a história é contada. Há muitas metáforas e isso é o que pode tornar a leitura mais difícil, exigindo releitura várias vezes.
Os diálogos são muito marcantes, principalmente entre André e seu pai e uma dessas conversas ficou sendo minha parte favorita do livro. A parte que fala sobre o tempo é uma das coisas mais lindas que já li.
Se pudesse desenhar um gráfico sobre as sensações causadas por essa leitura, seria daqueles que iniciam no nível mais baixo e que em determinado momento atingem o ápice, o ponto mais alto e a linha ultrapassa os limites do desenho. Você não sabe como reagir, não sabe o que falar, só fica estarrecido pelo que acabou de ler e percebe que tudo fez sentido.