spoiler visualizarRafaela.Salvador 26/01/2024
O Machado tem livros melhores
Acho que o maior problema que eu tive com esse livro foi a mudança brusca de tom que ele teve no final. Do início até as últimas páginas, eu tinha a impressão de estar lendo Jane Austen, acho que isso aconteceu por conta da forma que os diálogos e a descrições eram feitos, e também porque a história parecia mais "parada" e menos focada em causar grandes emoções no leitor, uma escrita mais sóbria se comparada a autores do romantismo. E eu estava achando isso muito interessante, inclusive, quando chegou a revelação de quem era o pai da Helena eu pensei que realmente parecia um livro da Jane Austen, porque as revelações e maiores emoções estavam mais para o final, mas a partir daí a coisa mudou bruscamente de tom.
Eu não acho que o final trágico com a morte da protagonista se encaixa na proposta da maior parte do livro, parece que o fim não se conecta ao resto da história. E não é que eu não goste de finais tristes em que o protagonista morre, mas acho que orecisa fazer sentido em relação ao resto do livro. O José de Alencar, por exemplo, consegue fazer isso muito bem em Lucíola, porque o tom da história tem uma certa melancolia desde o início, sendo que isso só vai progredindo até ter o seu ápice com a morte no final. Em Helena, nós não temos nenhum indício de que essa seja uma história sombria até chegar na revelação do pai da protagonista. Acho que isso poderia ser concertado se a história focasse mais e passasse mais tempo desenvolvendo a identidade da própria Helena e a relação dela perante o seu passado e suas preocupações com o futuro. A Helena é uma personagem muito plana, por mais que seja idealizada, não teria porque não aprofundar mais a sua personalidade. Talvez se o livro tivesse focado mais nas consequências que os atos dos pais dela tiveram em sua vida e em como ela se sentia perante o fato de ser cúmplice de uma farsa de uma forma mais detalhada o final fosse fazer mais sentido. Por mais que no final o narrado tente mostrar todas as desgraças que as ações dos pais dela tiveram e como ela não quer de jeito nenhum fazer parte de uma farsa, é tudo muito corrido e ela logo morre repentinamente, as reações do Estácio também parecem muito superficiais na forma como foram trabalhadas. Entendo que talvez sejam limitações do romantismo, mas vejo que outros autores românticos conseguiram alcançar uma profundidade nos personagens e em suas relações muito mais bem trabalhada.
Ainda bem que o Machado largou o romantismo e dedicou o resto da vida a escrever realismo, pois acho que ele se encaixa melhor nesse estilo. O romantismo exige um certo domínio das emoções do leitor e um certo caos para ser convincente, e acho que isso não é o estilo do Machado. Por isso gosto muito mais da fase realista dele.